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Quando a Educação e a comunidade andam de mãos dadas

Quando a Educação e a comunidade andam de mãos dadas

Estudar debaixo das árvores ou ao relento é um problema que se regista um pouco por todo o país, e porque a Escola Primária Completa de Khongolote não é excepção, a comunidade, respondendo ao pedido formulado pela direcção, decidiu contribuir com material de cons- trução para a edificação de mais salas de aulas.

A Escola Primária Completa de Khongolote é uma das escolas que acolhe inúmeras crianças oriundas do próprio bairro de Khongolote e outros circunvizinhos. Embora a direcção da escola não saiba dizer ao certo quando é que a escola foi criada ou entrou em funciona- mento, ela inicialmente tinha seis salas de aula e um bloco administrativo.

A partir do momento em que o bairro começou a registar uma enorme afluência de pessoas que pretendiam fixar residência, aquele estabelecimento de ensino começou a ter problemas de superlotação das salas.

Porque à criança não se pode negar o elementar direito à educação e tendo em conta que a procura era maior, a escola foi recebendo os petizes de tal maneira que alguns tinham de estudar debaixo das árvores ou ao relento.

Foi devido a esse cenário que o Conselho de Escola, constituído pela comunidade e a direcção, chegou a um consenso: cada aluno, neste caso o seu pai ou encarregado de educação, devia contribuir com um valor simbólico de 20 meticais e um bloco de construção para poderem ser erguidas mais salas de aulas.

Esta iniciativa, talvez por ter vindo da própria comunidade, sobretudo de pais e/ou encarregados de educação cujos filhos e educandos estudam naquela escola, surtiu os efeitos desejados, pois quase todos alunos trouxeram o material de construção e o valor acordados.

Em 2009, as obras de construção das seis salas de aula arrancaram e terminaram no ano seguinte, daí que no ano lectivo de 2010 todos os alunos tenham tido um motivo para sorrir: estudar debaixo das árvores ou ao relento passou a fazer parte do passado.

Só salas não basta, é preciso carteiras

Mas porque construir só as salas de aula não bastava, era necessário que as mes- mas estivessem apetrechadas de mobiliário escolar, sobretudo carteiras. E foi para pôr fim ao sofrimento dos petizes que a Universidade Pedagógica ofereceu carteiras para que pelo menos os alunos se sentissem confortáveis.

Como tudo tem um período de vida, o referido ma- terial começou a deteriorar-se. Resultado: as seis salas e os respectivos alunos ficaram desprovidos de carteiras. O que resta são apenas pedaços de madeira. As crianças voltaram a sentar-se no chão esburacado.

Devido ao facto de que a cada ano que passa a tendência seja de haver muitas crianças inscritas, a comunidade, mais uma vez, contribuiu para a construção de mais seis salas, mas com uma diferença: por reconhecer que os materiais de construção estão caros, cada aluno deve colaborar com 100 meticais e um bloco.

Segundo a directora pedagógica do EPC de Khongolote, Margarida Isabel Mbebe, embora o período das contribuições não tenha terminado, constatou-se que o número de blocos e o valor colectado eram suficientes, tendo-se avançado com a construção das seis salas.

As obras vão parar por falta de material

As construções iniciaram em Março findo e até agora já foram levantadas três das quatro salas planificadas.

“As obras só podem decorrer a bom ritmo se houver material suficiente. Infelizmente, os blocos e o cimento acabaram. Assim sendo, teremos de interromper o trabalho até que sejam criadas as condições para a sua continuidade. Iremos convocar mais uma reunião do Conselho da Escola para vermos o que podemos fazer para adquirir mais material”, afirma Mbebe.

Mais de dois mil alunos ao relento

Aquele estabelecimento de ensino conta com um efectivo de 5.443 alunos, distribuídos por três turnos e 73 turmas, sendo 49 de primeira a quinta classe, 16 de sexta a sétima (curso diurno), e oito de sexta a sétima, no curso nocturno.

Segundo a directora pedagógica, há 27 turmas que têm aulas ao ar livre ou debaixo das árvores, sendo que cada turma tem em média 95 alunos. Feitos os cál- culos, há um efectivo de cerca de 2.500 alunos que estuda ao relento, o que corresponde a metade do universo dos alunos inscritos.

Enquanto as obras de construção das quatro salas não terminam, eles vão continuar a estudar expostos às intempéries. A nossa reportagem soube que nos dias de mau tempo as aulas são interrompidas até que a situação fique amena.

“Quando chove ou faz muito frio, nada mais podemos fazer, senão mandar as crianças de volta. Vezes há em que damos aulas nos corredores”, dizem os professores.

Questionada sobre a probabilidade de essas interrupções afectam o cumprimento do programa anual, Margarida Isabel Mbebe afirmou que “os professores procuram adequar-se às circunstâncias e dar somente os conteúdos mais importantes. As prioridades é que ditam o que pode ou não ser ensinado aos alunos”.

Crianças entregues à sua sorte

Quando o @Verdade se deslocou à EPC de Khongolote, o cenário que encontrou era desolador: crianças expostas aos 23 graus centígrados e atentas ao que os professores explicavam. Muitas delas não tinham sequer uma camisola que as pudesse proteger do frio que se fazia sentir.

Entretanto, alguns professores que leccionam ao ar livre, quando abordados pela nossa reportagem, foram unânimes em afirmar que a falta de salas de aula está a criar sérias complicações aos alunos.

“Ninguém gostaria de estudar nestas condições. Hoje está a fazer muito frio e as crianças estão a tremer. Porque elas têm muito pouca capacidade de concentração, distraem-se quando estão perante uma situação do género ou mesmo quando alguém está a passar”, comentam.

Relativamente aos dias em que ficam sem dar aulas devido ao mau tempo, eles consideram que isso pode ter um impacto negativo no que concerne ao aproveitamento escolar do aluno.

“Nós somos obrigados a dispensar certas matérias e a privilegiarmos aquilo que achamos importante. Reconhecemos que o ideal seria leccionar em tempo real todos os conteúdos planificados”, acrescentam.

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