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PT-86: 10 anos de briga!

PT-86: 10 anos de briga!

 

Há 10 anos que a família Macandza luta contra a Electricidade de Moçambique (EDM). Em causa está um Posto de Transformação de Energia (PT-86) que foi colocado no interior do quintal da sua residência. Sem indemnização, a família, que reside há 30 anos no local, tem a vida por um fio. A EDM promete remover o engenho dentro de uma semana.

Maputo acolheu nesta semana as negociações entre os quatro actores políticos do Madagáscar: Mark Ravalomanana, Didier Ratsiraka, Andry Rajoalina e Albert Zaffy, com vista a pôr fim à crise que levou à destituição do Presidente democraticamente eleito, Mark Ravalomanana A 10 de Julho, a EDM foi manchete por bons motivos: deslocou-se ao Instituto de Coração para doar 2.500.000,00 meticais para serem utilizados na operação de crianças com problemas cardíacos. Mas na mesma sexta – 10 de Julho – a recepção da Redacção do @VERDADE foi, mais uma vez, anfitriã de Ângelo Micas Macandza. Razão da visita: queixar-se da única distribuidora de electricidade no país.

 O roteiro do triste conto, na verdade, começa a 8 de Novembro de 1999. É nesta data que o defunto pai do jovem queixoso – Alfredo Tafula Macandza – escreveu: “ (…) vem por este meio solicitar, pela segunda vez, a remoção de um PT- 86 colocado no seu quintal (…)”. Tudo porque a família tencionava restaurar a casa. O requerente até propunha alternativas – amigáveis – para solucionar o diferendo: “ (…) caso não houver possibilidades de retirada poderia arranjar outro terreno para poder fazer as obras (…)”. Diz o requerimento de Macandza, num português sofrível, que “ espera de melhor resposta da V. Excias ”. Submeteu-o no dia 11, dois dias depois. E ficou à espera.

Foi uma longa espera – de sete anos – sem resposta. Como a aflição e o desejo eram maiores que o desânimo, Macandza recobrou a sua crença e força e voltou a escrever, pela terceira vez, contra o indesejado PT-86. O teor do requerimento era o mesmo: que se retirasse aquele engenho mortífero para que pudesse ampliar a sua casa e albergar a família que era larga. O defunto Macandza, afinal, era um homem que, para resolver imbróglios, se movia pela fé e uma receita que gera soluções amigáveis: o diálogo. “(…) seja retirado”, rogou. Acrescentou: “ ou em caso de impossibilidade, muito agradeceria que se lhe atribuísse um local para fazer as suas obras”.

Fechou assim: “ Cientes que este assunto merecerá a melhor atenção de V. Excias aguardamos pela resposta com a melhor expectativa”. Foi em vão. Mais uma vez, a EDM não atendeu ao seu pedido. Resultado: a expectativa que Alfredo Macandza tinha gorou a 5 de Maio de 2008, data que remete mais um pedido do género. Morrer sem resposta Como a natureza tem leis incontornáveis pelos humanos, Alfredo Tafula Macandza morreu sem que a EDM removesse o PT. Ou cedesse outro terreno para reconstruir a casa. Mas antes de morrer, o finado Macandza sugeria – sempre de forma amigável – que na ausência de qualquer pronunciamento da EDM e, vendo que o maior espaço de tempo passou a aguardar pela resposta do requerimento: “Eu Macandza venho propor a vedação daquele espaço físico onde contém o transformador num raio de 2 metros quadrados, dado que pretendo deslocar uma parte das casas de banho para aquele local, que por ventura poderá perigar os utentes”.

Como Alfredo Tafula Macandza morreu com a EDM ainda a fazer ouvidos de mercador, eis que o seu herdeiro – Ângelo Micas Macandza – arregaçou as mangas e continuou com luta contra o PT-86. Foi assim que a 18 de Maio de 2009 na mesma secção “ Área de Distribuição da Cidade de Maputo” – sita na avenida das FPLM – deu entrada o quinto requerimento. Foram necessários 9 anos para a EDM ir à casa da família Macandza a fim de satisfazer o pedido, pelo menos da vedação. Mas como diz o adágio popular, ‘um mal nunca vem só’, a obra de vedação exigiu a demolição de parte da casa 36, sita na rua dos CFM, quarteirão «5», bairro do Hulene. E era, afinal, o pior que faltava aos Macandzas, pois, não obstante a proposta ter sido aceite, as obras de remodelação ficaram pelo meio. “ (…) deixaram as casas de banho desta família com a parede destruída”, dizem os familiares, no quinto requerimento que entrou na EDM a 18 de Maio de 2008. É nessa petição que Ângelo Micas Macandza escreveu: “(…) neste caso solicito uma indemnização do espaço ocupado a negociar a partir de 782.860,50 Mt.”

O valor, segundo Macandza, era para compensar os 10 anos que o PT-86 ocupou o seu quintal. Solicitado a apresentar a sua versão dos factos, Celestino Sitoi, chefe do gabinete de imagem e comunicação e porta-voz da EDM, não quis acreditar no que lhe dizíamos. Solicitou provas. Entregámos-lhe três dos cinco requerimentos que a família Macandza remeteu a àquela instituição. Mal acabou de os ler, Sitoi telefonou para o engenheiro Micas, director da EDMcidade de Maputo. Micas reconheceu o problema e prometeu – e nós ouvimos pelo telefone – que o PT- 86 EDM vai ser removido dentro de dias. “Sossegue a família que o problema vai ser resolvido”, disse Sitoi, acrescentando que “se não cumprir vamos cair em cima dele, o Micas”, ironizou Sitoi, mas visivelmente chocado com o facto

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