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Prós e Contras da Vitória do MPLA

Ganhar eleições deve ser uma prioridade para os partidos políticos, de modo a poderem por em prática as ideias que defendem junto do eleitorado. Agora, há várias maneiras de ganhar eleições e, também de as perder. Vem esta reflexão a propósito dos resultados das legislativas em Angola. A vitória esmagadora do MPLA, e a consequente derrota arrasadora da UNITA, podem ser vistas sob vários prismas.

Se, por um lado, o MPLA pretendia obter uma vitória confortável que, para além de lhe permitir governar sozinho, também lhe deixasse a porta aberta para alterar a Constituição, por outro, a ausência de uma oposição forte poderá ser um problema. A vitória do MPLA faz recordar a situação na África do Sul, onde o African National Congress (ANC) obteve margens semelhantes. A ausência de oposições fortes pode ser uma porta aberta para excessos no partido dominante. Mesmo que as suas lideranças sejam bem intencionadas, o poder quase total é um convite a abusos.

 

Em Angola, tal como na África do Sul, a fragilidade demonstrada pela oposição não deixa antever o aparecimento de um movimento político com capacidade de se opor à força dominante. Quer a Democratic Alliance (DA), quer o Inkhata Freedom Party (IFP) não têm sido capazes de romper para além dos seus eleitorados tradicionais. Pequenas experiencias partidárias, desejosas de aparecer como alternativas credíveis, como foi o caso do Independent Democrats (ID) de Patrícia de Lille, não conseguem mobilizar grandes massas de apoiantes.

Ora esta situação que se vive na África do Sul, poderá ter repetição em Angola. A UNITA mostrou claramente ats suas fragilidades e não será de esperar grandes melhorias em futuros actos eleitorais, com quatro anos de oposição pela frente, veremos mesmo se conseguirá manter o limitado apoio agora obtido. O Partido de Renovação Social (PRS), tal como o IFP, limita o seu apoio a uma zona específica do país, as províncias das Lundas. Mesmo a formação política revelação destas eleições a Nova Democracia (ND), uma coligação de seis pequenos partidos recém-criados e até aqui quase desconhecidos do público, mas que conseguiu suplantar, surpreendentemente, partidos mais antigos incluindo a histórica Frente Nacional de Libertação Nacional de Angola (FNLA), apesar de ter atraído jovens quadros, não foi além de 1,20% dos votos.

Num continente habituado a vitórias esmagadoras dos partidos no poder, a elevada percentagem obtida pelo MPLA não deixou de levantar algumas reticências, nomeadamente a nível internacional. Porém, esta visão só poderá ser feita por observadores menos atentos da realidade angolana. Por um lado, a recuperação económica do país aliada à reconstrução visível em todo o território, jogou a favor do partido de Eduardo dos Santos. Mas, foi também a ausência de alternativas credíveis que levou a que muitos dessem o benefício da dúvida ao MPLA.

Obviamente que podem ser apontadas deficiências ao processo eleitoral angolano, baseadas quer no excesso de identificação entre o Estado e o MPLA, quer em alguns problemas no dia das eleições na cidade de Luanda. Porém, para um país que realizou, verdadeiramente, pela primeira vez um processo eleitoral e que está a recuperar de décadas de guerra, o resultado final só pode ser considerado positivo.

Aliás, o sucesso do processo eleitoral angolano deve ser visto como uma excelente notícia, para a África Austral, para o continente africano e também para CPLP, onde se espera que agora se assista a uma maior empenhamento angolano, a começar já, em Novembro, no processo eleitoral na Guiné-Bissau.

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