Mais um proeminente empresário foi sequestrado no início da tarde desta terça-feira (24) na capital de Moçambique. A vítima, um cidadão moçambicano de ascendência indiana, é proprietária de uma das 100 maiores empresas de Moçambique a Hariche Group Lda. Só no mês de Outubro, três outros empresários foram raptados na cidade de Maputo. A onda de sequestros que começou em 2011 – para além da capital assola as cidades da Matola, Beira e Nampula -, não contribui para um bom ambiente de investimento e, segundo um reputado economista, propicia a depreciação do metical em relação ao dólar norte-americano.
Hariche Arquissandas foi sequestrado cerca das 13 horas, pouco depois de entrar na sua residência, no bairro do Triunfo. Assim que estacionou a sua viatura dentro da garagem, o empresário foi abordado por quatro criminosos, que o aguardavam, e que conseguiram entrar para o seu quintal antes de o portão eléctrico fechar.
O cidadão adulto, membro da comunidade hindu, foi arrastado para fora da sua residência e colocado numa viatura de alta cilindrada e com os vidros fumados, que estava nas redondezas e se aproximou da entrada.
Em menos de 30 segundos, os criminosos realizaram o sequestro e deixaram a residência em direcção à estrada circular de Maputo em pleno dia e sem nenhum tipo de problemas.
A Polícia da República de Moçambique ainda não se pronunciou sobre mais este rapto que acontece à luz do dia, em bairros nobres da cidade de Maputo. Embora alguns sequestradores tenham sido detidos, e outros julgados e condenados, o facto é que nada parece intimidar os malfeitores, cujos mandantes são desconhecidos, que não se coíbem de realizar os seus crimes próximo à residência do Comandante Geral da Polícia moçambicana e até mesmo nas redondezas da Presidência da República.
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O Executivo de Filipe Nyusi, como o seu antecessor, tem privilegiado as Forças Armadas e paramilitares, mesmo Moçambique não estando em guerra com ninguém, em detrimento das forças policiais e de investigação criminal.
O @Verdade apurou que a vítima tem interesses em várias empresas moçambicanas desde o ano 2000 quando criou a Hariche Steel International, vocacionada para a produção de chapas metálicas de coberturas. Nesta década e meia, Hariche Arquissandas alargou o seu portfolio de negócios para empresas de materiais de construção diversos, empresas do ramo de alimentação e comércio geral culminando com a criação do Hariche Group Lda, uma das cem maiores empresas de Moçambique desde 2009, de acordo com o ranking da consultora KPMG, e que emprega mais de 250 trabalhadores.
Habitualmente, os raptores exigem em regaste das suas vítimas milhões de dólares norte-americanos.
Segundo o economista António Francisco, os raptos de empresários que vêm acontecendo em Moçambique têm forte influência sobre a taxa de câmbio que no último mês tem levado à depreciação do metical, em relação ao dólar norte-americano. Nesta terça-feira (24) a moeda norte-americana estava a ser transaccionada acima dos 60 meticais no Banco Comercial e de Investimentos.
“Porque isto não são raptos esporádicos que aconteceram, são sistemáticos há dois ou três anos, em que eles vão às pessoas que têm dinheiro e fazem o assalto aos empresários. A implicação disto é que nenhum estrangeiro e nenhum moçambicano que tenha a possibilidade de ter poupanças significativas as vai deixar aqui”, disse António Francisco em entrevista ao @Verdade, acrescentando: “gerou-se um ambiente em que qualquer riqueza que você cria aqui vai pô-la no vizinho ou na Europa”.
Desde o início dos sequestros vários empresários abandonaram o nosso país, várias embaixadas estrangeiras têm feito avisos de alerta aos seus cidadãos relativamente ao clima de insegurança que se vive nas principais cidades de Moçambique.
Esta situação concorre para a falta de poupança interna e, de acordo com o economista, é uma das razões da crise financeira que o nosso país tem estado a enfrentar e que se agravou quando o Presidente Filipe Nyusi assumiu o cargo.
Os sequestros também contribuíram negativamente para a avaliação de Moçambique, durante o último ano do mandato de Armando Guebuza, no Índice Africano de Boa Governação Mo Ibrahim.