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Produtores do norte procuram afirmar-se economicamente na horticultura

Produtores do norte procuram afirmar-se economicamente na horticultura

Duzentas e cinquenta mil toneladas de hortícolas de diferentes variedades foram produzidas nas últimas quatro campanhas agrícolas em Nampula para o abastecimento das unidades hoteleiras e similares, incluindo alguns mercados grossistas da região norte de Moçambique. A cebola e o tomate, que constituem 29 e 31 porcento da produção global, respectivamente, são as principais fontes de rendimento dos camponeses e comerciantes informais daquela zona do país que procuram na horticultura a sua afirmação económica.

De que a agricultura é a base de rendimento económico da maior parte das famílias moçambicanas não restam dúvidas. A região norte e a província de Nampula, em particular, começam a ser uma referência a nível nacional e além-fronteiras na produção e fornecimento de produtos hortícolas, com destaque para o tomate, a cebola, o quiabo, alho, repolho e a alface.

A convite de algumas organizações nacionais e estrangeiras, certos agricultores sul-africanos, brasileiros e de outros países já estão a instalar-se em zonas com boas condições agro-ecológicas, sobretudo ao longo do Corredor de Nacala, para se dedicarem ao cultivo de hortícolas, enquanto outros apostam na assistência técnica e tecnológica aos seus parceiros nacionais. De acordo com Joaquim Tomás, chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura, o incremento dos níveis de produção daquelas variedades agrícolas resulta, em larga medida, do trabalho abnegado dos camponeses que consideram as hortícolas a sua base de sobrevivência e de rendimento, em detrimento de outras culturas.

“Os produtores já estão a perceber que a produção de hortícolas constitui uma alternativa de rendimento económico”, afirmou Joaquim Tomás, em entrevista ao jornal @Verdade. Para o nosso entrevistado, a disseminação das novas técnicas de produção aos produtores está, igualmente, a contribuir positivamente para o aumento das suas áreas de cultivo e para a obtenção de melhores resultados agrícolas. Segundo Joaquim Tomás, a província de Nampula já não precisa de “importar” produtos frescos a partir das províncias centrais dda Zambézia, de Manica e Tete; pelo contrário, fornece-os às suas vizinhas do Niassa e de Cabo Delgado.

“Podemos considerar-nos auto-suficientes, em termos de produtos frescos,” sublinhou o chefe dos Serviços Provinciais da Agricultura de Nampula. Dados fornecidos pelo sector da Agricultara indicam que na campanha agrícola 2011/12, a província de Nampula havia alcançado uma produção global na ordem de 46.865 toneladas de hortícolas, contra 15.698 da campanha anterior. No ano seguinte, ou seja, na campanha 2012/2013 a produção subiu para 66.064 toneladas, tendo em 2014 alcançado a cifra de 116.807 mil toneladas. A cebola e o tomate são as as que mais se destacam, ocupando 23 e 31 porcento, respectivamente, enquanto as restantes variedades ocupam 46 porcento da produção global.

Nacala-Porto vira centro de produção e distribuição de vegetais

Falando à margem da II edição da feira agrícola realizada entre os dias 29 e 30 de Novembro passado, em Nacala-Porto, o director do Serviço Distrital das Actividades Económicas (SDAE), Mendes da Costa Tomo, disse que a produção de hortícolas tornou-se uma das principais fontes de rendimento das populações locais.

De acordo com o director do SDAE de Nacala-Porto, na última campanha, foram lavrados e semeados, mais de 600 hectares para a produção de vegetais nas zonas de Namissica, Mutiva,Ribaué e Macala, tidas como potenciais produtoras agrícolas. O SDAE de Nacala-Porto prevê uma produção estimada em cerca de 92 mil toneladas de vegetais no presente ano, sendo o quiabo uma das culturas de maior produção em Nacala e de grande procura no mercado informal.

A segunda edição da feira agrícola de Nacala-Porto juntou mais de 30 expositores de hortícolas, provenientes dos distritos considerados grandes produtores, designadamente Malema, Ribaué, Murrupula, Nampula- -Rapale e Nacala-Porto. Refira-se que a primeira edição da feira agrária teve lugar em 2012. Trata-se de uma iniciativa desenvolvida pelo sector da Agricultura, em parceria com as associações de produtores, com vista a expor as variedades alimentares ao público consumidor, bem como promover a cultura do comércio no seio dos camponeses.

Quando as hortícolas proporcionam riqueza

Lucas Manço, de 39 anos de idade e residente na localidade de Naphome, distrito de Nampula/Rapale, é um dos muitos agricultores que viu a sua vida mudar para melhor depois de ter decidido abraçar a horticultura. Ele começou a usar a enxada de cabo curto e sem outras condições que lhe permitissem aumentar as suas áreas de cultivo. Com apenas três regadores manuais, Lucas Manço ia obtendo em cada campanha alguma quantidade de repolho e alface para a colocar no mercado.

“Comecei pelos cereais, mas os ganhos não correspondiam às minhas expectativas; por isso optei por mudar para a produção de hortícolas e agora sinto-me muito satisfeito”, sublinha o agricultor. De acordo com a fonte, o primeiro “empurrão” aconteceu em 2009 quando se apercebeu de que o seu projecto havia sido aprovado pelo Conselho Consultivo local de quem recebeu um crédito de 33 mil meticais. “Nos dois anos subsequentes recebi 140 mil meticais, tendo-os reembolsado na sua totalidade. Agora estou a trabalhar com 22 trabalhadores efectivos e com um rendimento trimestral que varia entre quatro e cinco milhões de meticais”, afirmou Lucas Manço.

Segundo o nosso entrevistado, os seus campos de produção também servem de locais de investigação agrária e estágio para os estudantes do Centro de Formação Agrária de Murrupula. Desde o passado dia 11 de Outubro, um grupo de 18 estudantes de Murrupula encontra-se em Naphome para “beber” os conhecimentos práticos sobre a profissão que pretendem abraçar no futuro. Silvano José, de 46 anos de idade, dedica-se ao cultivo de vegetais na cintura verde da cidade portuária de Nacala-Porto. Há oito anos que ele depende exclusivamente da produção de couve, alface e repolho em Pupule, sua terra natal.

Para além de vários bens valiosos resultantes da produção de hortaliças, Silvano José diz ter erguido uma casa melhor, apesar dos problemas derivados da escassez de produtos químicos e equipamentos agrícolas. A Associação dos Produtores “Alihandulilahu” de Nacala-Porto, actualmente com 16 membros, é de outras tantas que já não depende de qualquer ajuda alimentar. O presidente daquele grupo de camponeses diz que a sua instituição procedeu, na última campanha, ao primeiro depósito bancário de 40 mil meticais. Este valor não inclui o que foi distribuído pelos membros para atender às suas necessidades básicas.

Grossistas alertam sobre uma eventual crise de cebola na quadra festiva

A Associação dos Grossistas de Nampula (Agrowam), uma agremiação que integra 17 elementos e que se dedica à produção e venda de produtos hortícolas no mercado grossista do “Waresta” e a diferentes megasprojectos, a nível das províncias de Nampula, Niassa e Nampula, está satisfeita com a abundância de hortícolas na região. Segundo João Age Tarua, presidente da referida associação, os comerciantes locais não precisam de revender o tomate adquirido a partir do mercado grossista do Zimpeto, em Maputo. A fonte justifica-se afirmando que o produto de Nampula oferece melhor qualidade para consumo e pode ser comercializado em qualquer parte do mundo.

Entretanto, a nossa fonte alerta sobre uma eventual crise de produtos frescos, com enfoque para a cebola, facto que poderá influir no aumento dos preços, durante a quadra festiva, devido à queda irregular das chuvas na segunda época, como uma das causas que ditou a fraca produção nos distritos do interior da província de Nampula. Para o nosso entrevistado, a partir da segunda quinzena de Dezembro, o saco de cebola de primeira categoria, com capacidade para 10 quilogramas poderá vir a custar entre 320 e 350 meticais, contra os actuais 250 meticais. O mesmo poderá acontecer em relação à cebola de segunda e terceira categorias, cujos preços poderão atingir os 250 meticais.

Actualmente, a cebola custa 150 meticais junto do produtor. João Age Tarua afirma que na primeira época da presente campanha agrícola choveu de forma ininterrupta, facto que dificultou a conservação do produto. Na segunda época o cenário foi praticamente contrário e os produtores obtiveram maus resultados, originados por dificuldades de irrigação dos seus campos agrícolas. Segundo o nosso entrevistado, cenário idêntico aconteceu no ano passado, quando o saco de cebola, com capacidade para 150 quilogramas, atingiu ao preço de oitocentos meticais.

Preocupação idêntica foi manifestada pela Associação dos Produtores “ Maria da Luz Guebuza” de Iapala, em Ribaué que, apesar dos bons resultados alcançados, viu a sua produção reduzida na presente campanha agrícola, alegadamente devido à falta de condições de rega. As únicas fontes de irrigação existentes naquela região encontram-se praticamente sem água. Os camponeses de Macassa e Napueia, distrito de Nampula/Rapale, queixam-se, igualmente de falta de condições para a irrigação dos seus campos agrícolas.

Para que situações daquela natureza não se repitam no futuro, os produtores e os comerciantes de hortícolas pelam ao Governo moçambicano para que aposte na reabilitação de todos os sistemas de irrigação em estado inoperacional. A Associação dos Grossistas de Nampula foi constituída há sensivelmente dois anos e surgiu da necessidade da melhoria da qualidade de produtos frescos vendidos em diferentes mercados grossistas da província de Nampula e, de forma particular, o de Waresta, considerado centro regional de vegetais.

Aquela agremiação está neste momento a negociar com as agrades empresas, com enfoque para a Vale Areias Pesadas de Moma, Matanuska e Jacarandá para o fornecimento de produtos hortícolas, mas o maior problema tem a ver com a escassez de chuvas para a irrigação dos campos agrícolas. Dados divulgados pelo Executivo moçambicano referem que quase todas as bacias hidrográficas que se localizam ao longo do Corredor de Nacala desaguam no Oceano Índico, com algumas poucas excepções, no Lago Niassa.

E as maiores bacias são as dos rios Rovuma e Lúrio, entre as províncias de Niassa e Cabo Delgado. A média anual de escoamento atinge aproximadamente 20 milhões de metros cúbicos/ano, apresentando, assim, um grande potencial para o desenvolvimento hídrico, uma vez que o volume disponível é muito superior à demanda. Entretanto, a irregularidade da distribuição das águas subterrâneas constitui ainda um grande desafio por parte do Executivo moçambicano.

Sector da Agricultura com novos desafios

A direcção da Agricultura de Nampula diz haver condições favoráveis para a prática da horticultura naquela província. As estimativas apontam para cerca de 700 mil hectares de terras irrigáveis que necessitam de intervenção dos produtores a vários níveis.

No quadro do cumprimento do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sector Agrícola (PEDSA) os desafios estão virados para a aquisição de equipamentos sofisticados para o processo de rega. Está ainda em perspectiva a instalação de um Centro de Processamento e Conservação de Hortícolas no distrito de Ribaué a partir do próximo ano. A futura infra-estrutura poderá absorver a produção dos camponeses dos distritos circunvizinhos de Malema, Lalaua, Murrupula e Mecuburi, localizados no Corredor de Nacala.

Através do Centro de Promoção da Agricultura (CEPAGRI), duas empresas do ramo agrícola dos distritos de Meconta e Nampula cidade receberam das autoridades governamentais igual número de estufas para a produção de novas variedades tolerantes à seca e ainda para o processamento de hortícolas. Conforme apurou o @Verdade, cada uma das estufas custou ao erário cerca de quatro milhões de meticais para tornar a produção agrícola a verdadeira base de desenvolvimento do país e daquela província, em particular.

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