Sou capaz de dar a volta ao mundo para passar umas horas com um amigo. Sou, até, rapaz para voar muitas horas para sofrer com o meu FC Porto, ver um espectáculo qualquer ou comer um petisco – fossem as viagens mais em conta e ia mais vezes comer um marisquito à Costa do Sol ou comer um leitão à Bairrada em Marracuene.
Por outro lado, belas paisagens, animais exóticos, praias paradisíacas, edifícios imponentes, não me fazem sair do meu canto lisboeta. A verdade verdadeira é que gosto de gente. Gosto de ver a rotina das pessoas, de as ver passar, de lhes falar, de saber o que as faz feliz ou o que as entristece. A idade e, se calhar o muito que tenho viajado, fez-me crescer a convicção de que as pessoas são muito mais parecidas umas como as outras do que a sua cor, religião, género, nacionalidade ou outra coisa qualquer podem fazer parecer.
São as pequenas diferenças que me encantam e que cada vez mais o mundo globalizado pela televisão e outros monstros vai esbatendo. Sempre que regressado de uma viagem, lá vêm as perguntas habituais: “Foste ali? Foste acolá? Viste isto? Viste aquilo?”. Será fácil, para o amável leitor, perceber que as respostas a este tipo de perguntas ainda ficam mais difíceis se dissermos que fomos a Moçambique ou a qualquer outro país com quem partilhamos mais que uma história e uma língua.
A excitação dos meus amigos nascidos, criados ou que simplesmente viveram em Moçambique deixou-me pouco tempo para que eu pudesse relatar o que quer que fosse da minha estadia. As perguntas eram apenas retóricas e nada que eu dissesse parecia ser sequer escutado. As memórias e os momentos vividos por eles eram demasiado intensos para que ouvissem as peripécias da minha viagem. O carinho e a ternura com que falavam dos lugares e da gente não lhes deixava lugar para ouvir um tipo que tinha pisado a terra deles pela primeira vez. Os meus relatos, para eles, frios e factuais, eram quase ofensivos.
O facto de não me ter apetecido ficar para sempre em Maputo era tido como um sinal da minha pouca inteligência. Mais uma vez percebi que só conhecemos os lugares quando os vemos através das pessoas que os amam. As perguntas dos meus amigos que viveram em Moçambique sobre a minha recente ida ao Maputo não foram mais que um bom exemplo disso. No fundo, não era na minha experiência que estavam interessados. As minhas respostas serviam para que eles vivessem de novo as suas memórias e exprimissem a sua ligação nunca perdida com esse canto do mundo.
Vi muito mais claramente Moçambique quando regressei a Lisboa. Ninguém é uma ilha, dizia o outro. Desta vez trazia na minha bagagem mais que experiências de viagem, trouxe lembranças para os meus amigos de um profundo amor a uma terra e a uma gente.
Comigo viajaram todos eles.
Não se pode pedir mais de uma viagem.