O primeiro-ministro interino do Egito preencheu importantes cargos, este Domingo (14), num gabinete que conduzirá o país sob um plano apoiado pelo Exército para restaurar um governo civil, depois da deposição do presidente eleito Mohamed Mursi.
Hazem el-Beblawi, um economista liberal de 76 anos nomeado primeiro-ministro interino na semana passada, está a escolher tecnocratas e liberais para dirigir o país sob uma Constituição provisória, até que as eleições parlamentares ocorram em cerca de seis meses.
Ele nomeou outro economista liberal, Ahmed Galal, que tem doutorado pela Universidade de Boston, para o cargo de ministro das Finanças. O seu trabalho será reparar as finanças do Estado e resgatar uma economia abalada por dois anos e meio de instabilidade política.
Um ex-embaixador para os Estados Unidos, Nabil Fahmy, aceitou o cargo de ministro das Relações Exteriores, um sinal da importância que o governo dá ao seu relacionamento com os norte-americanos, que destinam 1,3 bilhão de dólares por ano em ajuda militar ao Egito. Mohamed ElBaradei, ex-diplomata da Organização das Nações Unidas (ONU), foi empossado vice-presidente, um cargo que lhe foi oferecido na semana passada.
O Domingo marca uma semana sem violência nas ruas, depois de os confrontos entre o Exército, partidários de Mursi e seus opositores terem matado mais de 90 pessoas nos dias seguintes à sua derrubada. Em discurso para militares, este Domingo, o chefe do Exército, Abdel Fattah al-Sisi, que derrubou o presidente, justificou a acção.
Ele disse que Mursi havia perdido a legitimidade por causa das manifestações de massa contra ele. Sisi disse que tentou evitar a necessidade de uma acção unilateral ao oferecer a Mursi a opção de realizar um referendo sobre o seu governo, mas “a resposta foi a rejeição total”.
Ele insistiu que o processo político continua aberto a todos os grupos, embora a Irmandade Muçulmana, de Mursi, tem evitado relações com os “usurpadores”.
O vice-secretário de Estado norte-americano, William Burns, irá visitar o Egito esta semana para se reunir com os membros do governo interino e salientar a necessidade de acabar com a violência e se mover em direcção a um governo democraticamente eleito, afirmou o Departamento de Estado este Domingo.
Mursi incomunicável
Mursi, o primeiro presidente eleito livremente no Egito, tem sido mantido incomunicável num local secreto desde que o Exército o afastou do poder a 3 de Julho, três dias depois de milhões de pessoas saírem às ruas para exigir a sua renúncia no primeiro aniversário da sua posse.
As autoridades não o acusaram de nenhum crime, mas disseram, Sábado, que estão a investigar queixas contra ele de espionagem, incitação à violência e destruição da economia. O Ministério Público disse, este Domingo, que havia ordenado o congelamento dos bens de 14 líderes islâmicos e da Irmandade.
As acusações de incitar a violência já foram feitas contra muitas das principais figuras da Irmandade, embora na maioria dos casos a polícia não tenha ido em frente e efectuado prisões. A Irmandade alega que as acusações criminais fazem parte de uma acção repressiva contra o grupo e que as autoridades são culpadas pela violência.
Milhares de partidários de Mursi têm feito vigília numa praça perto de uma mesquita no nordeste do Cairo, prometendo não sair de lá até que ele seja reempossado, uma esperança que agora parece ser em vão. Dezenas de milhares de pessoas marcharam, Sexta-feira, mas as manifestações terminaram pacificamente.
“Sentimos que nos últimos dias tem havido mais estabilidade, mais chance de uma melhora económica, porque não tem havido muita violência”, disse Ahmed Hilmi, de 17 anos, enquanto cuidava de uma barraca de sucos, ao ar livre, para as pessoas quebrarem o jejum do Ramadan.
A Irmandade pediu que aconteçam mais manifestações na Segunda-feira. Os opositores de Mursi também marcaram novos protestos, embora os seus actos estejam a atrair muito menos gente, agora que alcançaram o seu objectivo de depor o presidente.