Há suspeitas de eclosão de dengue na província de Nampula, uma doença febril e letal quando não tratada. É causada por um vírus cujo principal vector de transmissão é o mosquito fêmea, tal como acontece com a malária, e é acompanhada de dores articulares, musculares e dores de cabeça. Até semana passada, as autoridades de saúde registaram 45 casos num total de 90 pacientes rastreados.
A dengue é transmitida para o homem através da picada do mosquito aedes aegypti, o qual se encontra activo e pica durante o dia, ao contrário do mosquito anopheles, vector da malária, que actua ao amanhacer e anoitecer.
Geralmente, os sintomas desta enfermidade iniciam de uma hora para outra e dura entre cinco e sete dias. Para além dos sintomas acima referidos, uma pessoa infectada pelo vírus da dengue sente cansaço, indisposição, enjoos, vómitos, dores abdominais (principalmente as crianças) e apresenta, entre outros sintomas, manchas vermelhas na pele. Todos os indivíduos com alguns destes sinais devem imediatamente dirigirem-se a um hospital mais próximo da sua área de residência. A doença, quando não tratada atempadamente, pode evoluir até uma fase em que cause hemoragia nasal, urinária, gengival, por exemplo.
Neste momento, o sector sanitário em Nampula desdobra-se em campanhas de sensibilização da população com vista a observar as medidas de prevenção, sobretudo a usar as redes mosquiteiras. Segundo a Direcção Provincial da Saúde (DPS), ainda não há certeza de que se trata da dengue porque localmente não há capacidade de diagnóstico, sendo que se aguardam pelos resultados das análises laboratoriais cujas amostras foram já enviadas à capital do país.
Semanalmente, nas diversas unidades sanitárias, registam-se cerca de 90 casos que se suspeita serem de dengue devido ao facto de os pacientes apresentarem sintomas a que anteriormente nos referimos.
Recorde-se que a dengue eclodiu, pela primeira vez, na vizinha província de Cabo Delgado. A inobservância das regras básicas de higiene é apontada como a principal razão da eclosão da doença.
Em termos de sintomas que os doentes apresentam é muito difícil distinguir a malária da dengue, pois as duas doenças são causadas pela picada de mosquito. A médica-chefe provincial de Nampula, Joselina Calavete, disse “o mosquito provocador da dengue reproduz-se em águas estagnadas, mas que se encontra em locais limpos. E o mosquito anófele habita, preferencialmente, em lugares sujos”, explicou a nossa interlocutora.
No concernente aos sintomas, o doente apresenta acefalias (dores de cabeça) muito intensas ao contrário da malária simples. Além disso, uma pessoa que padece de dengue apresenta sinais de hemorragia – facto que não se verifica em todos os casos – nas narinas, na boca, nos ouvidos, na pele e em toda a parte do corpo.
“Por enquanto, estas é que são as características que mantêm diferentes as duas doenças”, anotou Calavete. Entretanto, ainda não foram identificadas características específicas exactas de dengue no sentido de permitir uma observação do paciente e tirar conclusões com base em sintomas.
Calavete deu a conhecer que os distritos da província de Nampula ainda não dispõem de capacidade para realizar diagnósticos. Os casos registados em regiões recônditas são encaminhados ao Hospital Central de Nampula, a maior unidade sanitária da zona norte do país, embora não disponha de aparelhos que permitem a realização de análises laboratoriais.
Segundo apurou a nossa reportagem, dos mais de 90 casos suspeitos registados na primeira semana de Março corrente, mais de metade apresenta fortes evidências de se tratar de dengue e as amostras foram já enviadas à cidade de Maputo.
Entretanto, até ao momento ainda nada se sabe sobre os resultados para se apurar se efectivamente a província está a ser assolada pela doença. São, na verdade, questões burocráticas que atrasam o trabalho dos profissionais do sector e deixam a população num mar de incertezas.
“Há casos de doentes a padecerem de dengue, que ficam internados nas unidades sanitárias. Nessas circunstâncias, os profissionais da Saúde fazem testes de malária e o diagnóstico tem apresentado resultados negativos mas, como os sintomas são típicos de malária preferem administrar antimaláricos”, disse a médica-chefe provincial, deixando claro que há enormes dificuldades relacionadas com a capacidade de realização de diagnósticos. Na maior unidade sanitária da região norte do país são usados testes rápidos que detectam anti-corpos.
Não há medicamentos para dengue
A médica-chefe provincial precisou que na província de Nampula não existem fármacos para o tratamento da dengue. Aos doentes que se suspeita estarem a padecer daquela enfermidade são administrados vários medicamentos, de acordo com os seus sintomas.
“Se o doente apresenta sintomas de dores de cabeça oferecemos Paracetamol. Se os sintomas provocam febre, também disponibilizamos medicamentos que acalmam as febres. Se o paciente se queixar de hemorragia, administramos antibióticos que ajudam a reduzir o nível de perda de sangue”, explicou a nossa entrevistada, tendo acrescentado que os doentes sofrem apenas de calafrios.
Medidas de precaução
Enquanto não houver capacidade institucional, as autoridades do sector da Saúde e os seus parceiros desdobram-se em campanhas de educação cívica a nível das comunidades para incentivar a observância das medidas básicas de higiene individual e colectiva. O estranho é que nos hospitais, pelo menos, da cidade de Nampula não foram afixados panfletos, alertando às pessoas sobre os primeiros sinais que a doença apresenta.
Principais mensagens:
1. Dormir em todas as noites debaixo da rede mosquiteira para evitar a picada do mosquito;
2. Eliminar pequenos charcos para evitar a reprodução do mosquito;
3. Limpar o capim à volta do quintal;
4. Dirigir-se à unidade sanitária mais próxima para os primeiros cuidados.