O presidente do Egito, Mohamed Mursi, rejeitou um ultimato militar para forçar uma resolução da crise política no país, dizendo, esta Terça-feira (2), que não foi consultado e que seguirá os seus próprios planos para a reconciliação nacional.
Mas o líder islâmico parece cada vez mais isolado. Seis ministros já renunciaram, a oposição liberal recusa-se a conversar com ele, e as Forças Armadas, com apoio de milhões de manifestantes, deram prazo até Quarta-feira para que ele compartilhe poderes, ou do contrário os generais prometem adoptar o seu próprio “mapa” para a resolução do conflito.
Jornais de todo o espectro político viram o ultimato de 48 horas imposto, Segunda-feira, pelo Exército como um ponto de inflexão. “Últimas 48 horas de governo da Irmandade Muçulmana”, estampou o oposicionista El Watan. “Egito espera o Exército”, disse o estatal El Akhbar.
Dois anos depois da rebelião popular que depôs o presidente Hosni Mubarak, o confronto agrava a crise económica no Egito, gerando preocupações entre governos ocidentais e Israel. Os manifestantes permaneceram acampados durante a noite na praça Tahrir, no centro do Cairo, e os líderes convocaram outro grande protesto para a noite desta Terça-feira na esperança de forçar Mursi a renunciar.
Os dirigentes da Irmandade Muçulmana, à qual Mursi é ligado, usaram a palavra “golpe” para descrever o ultimato militar. Em nota emitida nove horas depois da leitura do ultimato pelo general Abdel Fattah al-Sisi, chefe do Estado-Maior, a Presidência usou termos menos directos para informar que Mursi não vai ceder à pressão.
“O presidente da República não foi consultado sobre a declaração emitida pelas Forças Armadas”, disse o texto. “A Presidência vê que algumas declarações por elas transmitidas acarretam significados que podem causar confusão no complexo ambiente nacional.
A presidência confirma que levará adiante o seu caminho previamente traçado para promover uma ampla reconciliação nacional … independentemente de quaisquer declarações que aprofundem as divisões entre os cidadãos.” O Partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade, disse que cabe apenas ao povo egípcio traçar o seu caminho e que isso ocorreu no referendo que aprovou a Constituição, em Dezembro.
O partido conclamou o povo a “mobilizar-se para defender a legitimidade constitucional e expressar a sua recusa a qualquer golpe contra ela”. Descrevendo o regime civil como uma grande conquista da revolução de 2011, Mursi disse que não permitirá que o relógio ande para trás.
Primeiro líder livremente eleito na história egípcia, ele está no cargo há apenas um ano. Muitos egípcios estão impacientes com a sua gestão económica e com a sua incapacidade de conquistar a confiança dos não-islâmicos.