A continuidade de Jacob Zuma como presidente da África do Sul segue na “corda bamba” devido aos escândalos de corrupção e a falta de apoio dentro de seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), que procura pactuar a sua renúncia voluntária para não ter problemas internos.
“Se o presidente não quer renunciar voluntariamente, nós o tiraremos”, afirmou Paul Mashatile, tesoureiro e um dos seis membros do Comité Executivo Nacional do partido (o seu máximo órgão de decisão), na gravação de uma conversa privada com investidores que nesta quinta-feira foi divulgada pela imprensa local, reavivando ainda mais as especulações sobre uma iminente saída.
A conversa, no qual Mashatile diz inclusive que o processo se concretizará num prazo de uma semana, confirma os rumores que que envolvem o ANC: Zuma não tem o apoio do Comité Executivo do partido e, portanto, tem pouca margem de manobra.
A cada dia, seu destino parece mais reduzido à renúncia ou a arriscar uma saída forçada, via moção de censura ou por destituição no Parlamento (de maioria governista).
A renúncia pactuada é a opção preferida pelo favorito a sucede-lo e principal artífice da manobra, o vice-presidente Cyril Ramaphosa, que na quinta-feira reuniu-se de forma privada com os membros do grupo parlamentar governista.
Escolhido líder do ANC em Dezembro em uma votação dividida quase pela metade entre os partidários e os que preferiam a candidata apoiada por Zuma, Ramaphosa procura se livrar da má imagem deixada pelo presidente sem dividir a histórica formação, governante desde o fim do Apartheid.
Os rótulos de corrupta e ineficiente dados à Administração de Zuma não só minaram a credibilidade do Governo, mas também a reputação do antigo movimento de liberdade, que já olha para as eleições de 2019.
A pressão sobre Zuma cresce desde Janeiro, quando o novo Executivo do ANC admitiu que a continuidade do presidente estava sobre a mesa.
Após semanas de especulações, da programação de uma nova votação de moção de censura – a oitava para Zuma – e da inédita decisão do Parlamento de adiar o discurso sobre o Estado da nação (que devia ter ocorrido na quinta-feira), tudo apontava que o golpe de graça chegaria na quarta-feira em uma nova reunião da cúpula do ANC, perante a reticência do governante a deixar o cargo.
Um encontro entre Zuma e Ramaphosa na noite da terça-feira mudou o cenário e adiou por dez dias essa potencialmente definidora reunião, o que melhora as possibilidades de uma saída amistosa através de uma renúncia voluntária.
A respeito, Ramaphosa compartilhou que ambas as partes alcançaram compromissos “frutíferos” e “construtivos” e assegurou que estão sentadas as “bases” para uma “resolução rápida” da crise.
A oposição também procura forçar o processo e ter protagonismo, com pedidos como o feito pela Aliança Democrática e os Lutadores pela Liberdade Económica para adiantar a moção de censura programada para o dia 22. “Zuma tem se dado conta que já não tem cartas para jogar”, manifestou à Efe Jakkie Cilliers, analista do Instituto de Estudos de Segurança.
O especialista considera que, ainda que Ramaphosa trate de fazer as coisas de forma “apropriada”, sua “intenção é clara, livrar-se de Zuma antes do discurso sobre o Estado da nação”, que deve acontecer dentro de uma semana.
Ramaphosa necessita, segundo Cilliers, assentar o mais rápido possível uma nova administração para recuperar a confiança, com linhas de fogo à espreita como uma possível degradação para a África do Sul pelas grandes agências qualificador.
Golpes assim poriam muito costa a montante revitalizar a economia sul-africana, um dos eslogans de Ramaphosa em seu ascensão para o poder.
Também está em jogo a capacidade de Zuma, como presidente, de se comprometer com projectos de duvidosa viabilidade financeira sem consultar o partido, como a promessa feita em Dezembro de dar educação superior gratuita para as classes populares.
“Quanto mais Zuma ficar no poder, melhor para os partidos oposição e pior para a economia “, aponta Cilliers.
As negociações entre Zuma e Ramaphosa baseiam-se agora, a julgamento do analista, no manejo das numerosas investigações de corrupção que pesam contra o ainda presidente, em um país no qual as leis não permitem garantir diretamente a imunidade.