Quando a contagem começa a ser regressiva para o término, finais deste mês, das obras da construção da ponte sobre o rio Zambeze, que estabelecerá a ligação rodoviária entre as províncias de Sofala e Zambézia, no centro de Moçambique, as expectativas aumentam cada vez mais no seio dos cidadãos, entre os locais e transeuntes, entrevistados pela nossa Reportagem, os quais sublinharam que “esta infra-estrutura é uma verdadeira espinha dorsal para o desenvolvimento social, económico e cultural”.
Para a empreitada arrancar na prática em 2006, refira-se, houve antes o lançamento da primeira pedra, numa cerimónia presidida no dia 20 de Dezembro de 2005, pelo Chefe de Estado, Armando Guebuza, o qual sublinhou que “com o início da construção da ponte de Caia, sobre o rio Zambeze, vislumbra-se uma luz no fundo do túnel, rumo ao desenvolvimento socioeconómico e cultural de Moçambique, visto que as regiões sul, centro e norte estarão completamente ligadas, via terrestre, através da Estrada Nacional número um (EN1)”.
Note-se que a execução global das obras está neste momento calculada em 91 porcento, segundo o director do Gabinete do Projecto da Ponte do Zambeze, o engenheiro Elias Paulo que, falando em entrevista ao @Verdade, se mostrou visivelmente entusiasmado e disse: “Podemos afirmar categoricamente, missão cumprida, pois vencemos os desafios que se colocavam à nossa frente”.
Impacto….
O administrador de Caia, José Cuela, abordado pelo @Verade, considera que a ponte é um projecto imprescindível para a vida das pessoas, argumentando que mesmo antes de as obras estarem acabadas “começam a surtir um impacto positivo”.
Referiu que a empreitada permitiu que as pessoas da região possam ter uma vida minimamente melhorada, a partir dos salários que os trabalhadores auferem mensalmente.
Segundo Cuela, a vida vai melhorar cada vez mais quando forem concluídos os projectos sociais que serão levados a cabos no âmbito da construlção da ponte sobre o rio Zambeze.
De acordo com o administrador de Caia, a corrente eléctrica está a impulsionar o desenvolvimento do distrito, com maior destaque para a vila, na medida em que os comerciantes têm os seus produtos congelados permanentemente e também nasceram pequenos projectos.
“Cá em Caia os cidadãos enterravam dinheiro nas latas, mas com a instalação do banco esse sofrimento já não se faz sentir. É por isso que dissemos que a ponte está a trazer um grande impacto na vida das pessoas” – sublinhou o administrador de Caia, visivelmente satisfeito.
De facto, segundo publicámos nas nossas edições anteriores, logo após a instalação de um banco, os cidadãos do distrito de Caia começaram a respirar de alívio, visto que já têm lugar para o depósito das suas poupanças.
A partir dessa altura, os cidadãos começaram a desenterrar as latas, normalmente de leite condensado,
contendo dinheiro.
Guardar dinheiro nas latas que são enterradas nos locais bem sinalizados, ou embrulha-lo nos plásticos e enfiá-lo no capim de cobertura das cabanas é um método primitivo, ao qual os cidadãos recorriam por falta de bancos para o depósito das suas poupanças.
O Mercado do Rio Zambeze
Um estabelecimento com 42 barracas e respectivo número de utentes transaccionam um pouco de tudo, bem como confeccionam comida, o que salva os transeuntes que por ali passam, quando se deslocam de várias regiões do norte, centro e sul de Moçambique, atravessando o rio por batelões montados a propósito, enquanto decorrem as obras da ponte do Zambeze.
Outros 17 vendedores são ambulantes, que já podem fazer as suas poupanças no referido banco, tal como disse Chaves, acrescentando que “esta é a maior prenda com que o Governo e seus parceiros nos brindaram”.
Refira-se que no distrito de Caia muitos camponeses amealham elevadas somas resultantes da venda de gergelim que produzem em grande escala. Assim, o dinheiro já não vai ser enterrado nas latas. “Por isso, dissemos nós que Caia está a crescer”, referiu Jaime Chaves.
O director do gabinete do projecto de construção da ponte sobre o rio Zambeze, o engenheiro Elias Paulo, manifestou a sua alegria quanto à recepção da corrente eléctrica da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, explicando que houve a necessidade de instalação da corrente, a partir da subestação de Chimuara, para facilitar os trabalhos de construção da ponte, por isso, o impacto desta infra-estrutura é deveras positivo para a vida dos cidadãos.
O docente José Fijamo, afecto ao distrito de Caia, filosofou com os seguintes dizeres: “Não há bem que saiba tão bem como aquele que custa esperar”. Deste modo, ele referia-se à corrente eléctrica que já ilumina a vila de Caia, como uma das componentes do projecto de construção da ponte sobre o rio Zambeze.
Disse que esperava com muita ânsia a sua instalação. Para ele, é um projecto bem-vindo, porque os cidadãos já conseguem conservar os seus alimentos e bebidas.
Para além disso, a casa mortuária já funciona plenamente, bem como a maternidade fica iluminada.
As vantagens não param por aí, segundo o nosso entrevistado, pois as aulas do curso nocturno já não vão conhecer interrupção, como acontecia na altura em que a iluminação era garantida por gerador, que funcionava com imensas dificuldades, desde as avarias até à falta de dinheiro para a compra de combustível.
Como se isso não bastasse, a corrente eléctrica de gerador sofria interrupções antes do fim das aulas, o que obrigava os professores e alunos a recolherem cedo, situação que já não vai ocorrer, salvo nos dias em que os cortes são gerais, explicou e concluiu assim: “Portanto, o projecto da ponte tem grande impacto sobre a vida das pessoas” – disse.
O comerciante Atanásio Ferramento disse que a corrente eléctrica permanente é bem-vinda, porque agora já vende mais bebidas alcoólicas e refregerantes do que antes, porque os clientes não gostavam de cerveja quente, por exemplo.
Atanásio, proprietário do complexo designado Organizações Ferramento, que vende um pouco de tudo, louvou os esforços do Governo. Afirmou que tal permitirá que os cidadãos possam desenvolver cabalmente as suas actividades, com vista a melhorar as suas condições de vida, combatendo desde modo a pobreza absoluta.
“Isso ajuda a desenvolver o distrito e os cidadãos melhoram as suas condições de vida, por isso a ponte veio para ajudar as pessoas, sobretudo nós que vivemos perto dela” – acrescentou Atanásio.
Enorme expectativa no seio dos cidadãos
No entanto, deslocámo-nos ao rio Zambeze, mais precisamente para a zona onde decorrem as obras de construção da ponte. Para colhermos a sua impressão, entrevistámos os cidadãos, tanto locais como os transeuntes.
Maria Issa, passageira, que estava à espera de batelão para atravessar de Caia a Chimuara, disse que “estou ansiosa em ver inaugurada a ponte, para permitir que as pessoas não percam mais tempo de espera para passar para uma margem do rio”.
Outra passageira, de nome Elina Cumbane, comungou a mesma ideia, ao sublinhar que “parece que está a custar terminar esta obra, pois assim que estamos a ver a ponte ligada, a ansiedade também aumenta, por isso, gostaríamos que, realmente, no fim deste mês possam ser entregues as obras”.
Segundo os seus depoimentos, uma vez concluída a ponte, serão drasticamente reduzidas as assimetrias regionais, se se admitir a hipótese de que não haverá interrupções nas viagens, contrariamente ao que acontece actualmente, em que as pessoas têm de depender da circulação de batelões.
“Imagine que chegámos às 11.47 horas, mas ficaremos à espera até às14 horas, porque durante este período a tripulação dos batelões está a observar um interregno para o almoço, mas com a ponte pronta isso não acontecerá, o que contribuirá para o desenvolvimento socioeconómico do país” – sublinhou.
“Queremos confessar que estamos com ânsia de passar pela ponte. A nossa expectativa é maior e devemos dizer que o Governo tomou uma boa decisão, ao conceber o projecto e conseguir dinheiro para as obras de construção da empreitada que já começa a surtir um impacto positivo na vida das pessoas” – disseram as nossas entrevistadas, que saíam do sul do país, com destino ao norte.
Maria João, outra passageira, que se encontrava do lado de Chimuara, também à espera de batelão, disse ser natural de Tete e queria atravessar o rio a caminho da sua terra natal.
“Custou esperar, mas pelo que vejo, a obra está praticamente no fim e penso que o sonho dos moçambicanos já está concretizado” – depoimentos de Maria João, que sustentou que, finalmente, Moçambique já conseguiu uma independência total propriamente dita, porque está ligado completamente através da ponte em alusão.
Fárida Zacarias, também de Tete, não escondeu a sua satisfação, na medida em que as obras estão a terminar, o que permitirá a travessia das pessoas sem depender dos batelões. Disse ainda que a ponte vai permitir uma maior dinâmica na vida das pessoas, melhorando deste modo as suas condições de vida.
“A minha expectativa é grande e se fosse possível agora passar pela ponte não seria mau”, estas palavras são de Tomé Ferreira, um automobilista que na altura da entrevista pretendia passar para outro lado do rio, a partir de Caia.
Segundo ele, assim Moçambique tornou-se cada vez mais independente, para todos os efeitos. Argumentou que a aquela infra-estrutura facilitará a ligação entre as duas regiões, nomeadamente Sofala e Zambézia.
Outros dois passageiros, designadamente Jaime Cebola e Rogério Augusto, que vinham da região de Gurúè, na Zambézia, com destino à cidade de Chimoio, em Manica, disseram que “louvores vão para os Governos dos países que decidiram financiar as obras da construção da ponte, visto que, desta maneira, aliviaram o sofrimento dos moçambicanos e não só, que transitarão por esta infra-estrutura”.
Na sua óptica, a patir de Junho, o mês que se espera seja o da inauguração da ponte, ninguém queimará mais tempo de espera numa das duas margens do rio Zambeze, facto que contribuirá significativamente para o desenvolvimento do país e, consequentemente, para a melhoria das condições de vida dos cidadãos.
“Gostaríamos que fosse aberta agora para o público começar a passar pela ponte. Este é o nosso sentimento” – frisaram.
Um motorista de transporte semicolectivo, Manuel Tepa, que também estava à espera de batelão da margem de Caia, mas vindo da cidade da Beira com destino à cidade de Quelimane, afirmou que a ponte veio para diminuir o sofrimento dos cidadãos.
Segundo disse, para além da travessia, os cidadãos locais começaram a melhjorar as suas condições de vida, através do dinheiro que foi aplicado nas obras, pois houve trabalhadores recrutados localmente.
“Finalmente, não vamos depender mais de batelões e isso quer dizer que a ponte está a surtir um impacto positivo na vida das pessoas, pois começam a melhorar as suas habitações e barracas onde vendem diversos produtos” – anotou.
Enquanto decorrem as obras, os automobilistas que circulam pela Estrada Nacional número um (EN1) atravessam o rio Zambeze, tanto do lado de Chimuara (Zambézia) como do de Caia (Sofala) através de dois batelões, os quais no período nocturno não navegam, por questões de segurança.
Os automobilistas e passageiros fazem-se transportar durante o dia em veículos ligeiros e pesados, bem como em autocarros de passageiros. Com o término das obras, a era dos batelões ficará numa data histórica, se se atender ao facto de que, vezes sem conta, os camionistas, e não só, permaneciam horas a fio sem conseguir atravessar de e para a outra margem daquele rio.
Um dado adquirido é o de que a ponte sobre o rio Zambeze está aberta para casos de emergência, tanto do lado de Caia em Sofala, como do de Chimuara, na Zambézia, mercê da conclusão da construção do tabuleiro por onde passam as viaturas, garantiu Elias Paulo.
O último enchimento do vão (tabuleiro) que faltava ocorreu a 21 de Abril último, cujas obras, iniciadas no dia 13 de Março de 2006, terminam a 31 de Maio corrente, conforme publicámos nas nossas edições anteriores.
A decisão foi tomada para assegurar a travessia de ambulâncias ou veículos que transportem doentes, para além de outro outro tipo de situações, que, dada a urgência, não podem ficar reféns da circulação de batelões, os quais, durante o período noturno, não devem navegar nas águas do rio Zambeze, por questões de segurança.
Trabalhos de acabamento
A asfaltagem da ponte já iniciou, depois de ter sido calibrado o equipamento, conforme constatou a nossa Reportagem. A colocação do asfalto faz parte dos trabalhos de acabamento das obras desta infra-estrutura.
Outros trabalhos de acabamento consistem na colocação de corrimãos na ponte. Também estão a ser colocadas pedras e outro material para evitar a erosão nas extremidades da ponte, ou seja, estradas de acesso, disse o director do GPPZ.
A ponte tem o comprimento de dois quilómetros e 376 metros, estando dividida em duas partes, nomeadamente ponte de aproximação e ponte principal, com 1.666 e 710 metros, respectivamente. Tem duas faixas de rodagem, o que possibilitará a passagem, simultaneamente, de pelo menos duas viaturas a circularem em sentido oposto.
O custo das obras, a cargo do consórcio português Mota-Engil/Soares da Costa, está avalaido em 78.657.225,90 euros, 30 milhões dos quais desembolsados pela Comissão Europeia, 20 milhões concedidos pelo Governo da Itália e 18.3 milhões pelo da Suécia. O Governo moçambicano comparticipa com 12.81 milhões de euros de impostos e outras taxas inerentes à empreitada.
Para a execução de actividades complementares, o Governo do Japão desembolsou cerca de nove milhões de euros, parte dos quais serviu para a aquisição de viaturas para o funcionamento do GPPZ e Governos distritais de Mopeia e Caia, para estes poderem fazer o acompanhamento das actividades sociais do projecto nas províncias da Zambézia e Sofala.
Serão instaladas duas básculas
No entanto, a ponte, ora em construção sobre o rio Zambeze, terá uma norma de manutenção rotineira, que deverá ser cumprida escrupulosamente, de modo a garantir a durabilidade desta infra-estrutura, considerada imprescindível para a vida das pessoas, sob o ponto de vista económico, social e cultural, na medida em que permitirá a ligação entre sul, centro e norte do país.
Para garantir ainda que a ponte tenha mais anos de vida útil, serão instalados nas extremidades duas básculas para o controlo de cargas, de modo a que os camionistas não excedam o peso ao transitarem pela plataforma, porque isso constitui um grande perigo para aquele empreendimento estratégico.
Quem assim o garante é o director do Gabinete do Projecto da Ponte do Zambeze (GPPZ), engenheiro Elias Paulo, explicando ao nosso Jonal que, embora estas componentes não estejam enquadradas na empreitada, existe a necessidade de incorporá-las, para assegurar que a infra-estrutura dure mais tempo.
“Idealizámos a elaboração de uma norma, um manual de manutenção rotineira, que é vital para a ponte” – afirmou o nosso entrevistado, sublinhando ainda que “também a questão das básculas para o controlo de cargas é imprescindível e no final da empreitada vamos entregar estas componentes, porque é um grande desafio para que tenhamos uma ponte para sempre, pois este é um dos grandes investimentos concentrados que o Governo de Moçambique fez depois da Independência nacional”.
Concluídos projectos sociais
No entanto, os projectos sociais para, entre outros, o abastecimento de água na vila de Caia, acabam de ser elaborados pelo Gabinete do Projecto da Ponte do Zambeze (GPPZ).
O director da instituição disse que o Governo do Japão já autorizou a utilização dos fundos disponibilizados para a execução dos projectos sociais, inseridos nas obras da ponte sobre o rio Zambeze, previstas para que terminem no primeiro semestre deste ano.
“Assim que formos autorizados a utilizar os fundos, arrancaremos com as obras dentro em breve” – garantiu Elias Paulo, quando falava em entrevista ao nosso Jornal, dando o ponto de situação do estágio da construção da ponte sobre o rio Zambeze.
Para o efeito e como sua contribuição, o Governo do Japão desembolsou nove milhões de dólares para a execução de actividades complementares do GPPZ. Assim, parte deste valor servirá para a reabilitação do sistema de abastecimento de água na vila de Caia e o posto de Saúde de Chimuara (na Zambézia) e outras intra-estruturas para o funcionamento deste projecto nos distritos de Caia e Mopeia.