Há partidas que deixam marcas e jogadores que escrevem os seus nomes na história com uma simples jogada ou através duma inicial como o gigante “P” que paira sobre o Pavilhão do Maxaquene, que anos antes presenciou a arte e o engenho de Ismael Nurmamad e Jeffrey Brandley. A última edição da Liga Nacional de Basquetebol sénior masculino será sempre lembrada como a da magia do Pio Matos.
Foi de longe a melhor final dos últimos no que toca à modalidade da bola ao cesto em seniores masculinos. O Desportivo e o Ferroviário fizeram uma excelente propaganda do basquetebol moçambicano; porém, nesta edição, não queremos falar da competição, mas sim do atleta que mais brilhou na prova a ponto de ser eleito MVP e melhor marcador, o que não é tarefa para qualquer um.
Em Moçambique, existem muitos bases – armadores dos quais se destacam Ermelindo Novela, Baggio Chimondzo, Samora Mucavel e Pio Augusto da Silva Matos, mas no último Campeonato Nacional de Basquetebol, agora com a denominação Liga Nacional de Basquetebol, o atleta do Desportivo de Maputo foi o jogador que mais se evidenciou nesta posição.
O basquetista nasceu em Quelimane, província da Zambézia, a 29 de Novembro de 1990. Nos primeiros anos da sua mocidade manifestou uma enorme paixão pelo desporto, em particular o futebol.
Passou quase toda a sua infância na sua terra natal e contou, nostalgicamente, que por vezes não tinha tempo passar as refeições com a família por estar a brincar com os amigos o que, de certa forma, fazia com que a mãe se zangasse com ele e o seu gémeo, Augusto Matos.
“A minha infância foi maravilhosa. Na cidade de Quelimane tinha muitos amigos com que brincava até o pôr – do – sol. Devido às brincadeiras com os meus companheiros, às vezes não tinha tempo para passar as refeições com a família e a minha progenitora, Margarida Rafael Matos, não gostava”.
Pio Matos iniciou-se no futebol, mas por influência do irmão, Amarildo Matos, que na altura estudava e jogava basquetebol nos Estados Unidos da América, começou a praticar a modalidade da bola ao cesto.
“Primeiro joguei futebol, mas devido à interferência do meu irmão mais velho, Amarildo Matos, comecei a praticar basquetebol. No início, quando ele nos trazia bolas de basquetebol jogávamos com os pés, mas ele tinha paciência para nos ensinar algumas regras sobre a modalidade. Treinava futebol e a modalidade da bola ao cesto ao mesmo tempo; porém, depois optei por treinar basquetebol apenas.
O Sporting de Quelimane
No que toca á categoria de federados, Pio Matos teve como primeiro clube o Sporting de Quelimane, mas por influência do irmão gémeo, Augusto Matos, que jogava no Benfica, também, de Quelimane acabou por se mudar para o emblema encarnado que era presidido por Pio Augusto Matos, por sinal seu progenitor.
“Na Zambézia, primeiro representei o Sporting de Quelimane, mas foi por pouco tempo porque o meu irmão gémeo jogava no Benfica. Tive de mudar para estar no mesmo clube que ele e, por outro lado, o emblema era presidido pelo meu pai. Mudei-me para os encarnados de Quelimane porque as instalações da colectividade se localizavam perto da nossa residência”.
Trocou o Maxaquene pelo Desportivo a pedido de David Canivete
Júnior Depois de passear a classe no Sporting e Benfica, ambos de Quelimane, Pio Matos foi convocado para representar a província da Zambézia no Festival Nacional dos Jogos Desportivos Escolares que foram disputados em 2005, na cidade de Maputo.
Naquela competição que teve a participação de 11 províncias, os gémeos Matos destacaram-se e foram convidados a fazer parte dos escalões de formação do Clube dos Desportos da Maxaquene.
No conjunto tricolor, Pio e Augusto ficaram apenas uma semana, uma vez que foram convidados por David Canivete Júnior, actual jogador do Desportivo, para ingressarem no clube alvinegro porque este tinha perdido um jogo do Campeonato de Basquetebol da Cidade de Maputo por uma diferença abismal no que toca a juvenis. Aliás, além do convite de Canivete Júnior foram influenciados pelo tio, que é adepto ferrenho dos alvinegros, abandonando o Maxaquene.
“O meu irmão gémeo foi assistir a um jogo do Campeonato da Cidade em que o Desportivo perdeu por uma diferença de mais de 30 pontos. Depois da partida, David Canivete Júnior, desolado com a derrota, pediu para que eu e o Augusto jogássemos no mesmo clube que ele. Não hesitámos porque o nosso tio é adepto alvinegro e influiu sobremaneira para a nossa mudança de colectividade.
No emblema presidido por Michel Grispos, Pio Matos completou a sua formação até atingir o escalão de seniores.
“O título foi o resultado do trabalho”
Após longos anos sem conquistas, na época finda, o Desportivo ganhou dois títulos: o de campeão de basquetebol da cidade de Maputo e o de vencedor da Liga Nacional de Basquetebol sénior masculino. Para o nosso interlocutor, que se sagrou campeão nacional pela primeira vez apesar do inquestionável talento, declarou que a preparação que teve ao longo da temporada foi preponderante para que o clube regressasse ao trono do basquetebol moçambicano e da capital.
“Perdemos muitas finais com grandes nomes na equipa, mas sempre me esforcei e insisti. Este ano conseguimos ganhar a Liga Nacional de Basquetebol graças à preparação que tivemos com os nossos treinadores, Sílvio Neves e Bernardo Matsimbe, e o querer por parte dos jogadores. Quem acompanhou a prova viu que o grupo estava unido. Este título é o resultado de muito trabalho e, acima tudo, sacrifício”.
Pio Matos: um colecionador de prémios individuais, mas…
O melhor jogador e marcador da última edição da Liga Nacional de Basquetebol é, diga-se em abono da verdade, um colecionador de títulos individuais. No entanto, ganhou o seu primeiro galardão com as cores do Desportivo de Maputo quando foi eleito MVP do Campeonato Nacional de Basquetebol no escalão de juniores.
Na categoria profissional, ou seja, nos seniores, Pio Matos foi nomeado por duas vezes melhor jogador da extinta Liga Vodacom e o quarto melhor base – armador do Afrobasket de 2013.
Além dos títulos supracitados, o base – armador foi eleito o MVP das Universíadas Africanas e melhor jogador do Torneio Quatro Nações que teve lugar na África d Sul nos meados do ano em curso. Apesar destas conquistas, Pio Matos ainda não se sente um atleta realizado.
“Ainda falta muito para eu me considerar um basquetebolista realizado. Quero ganhar títulos com a camisola da selecção nacional e ajudar o meu clube a conquistar mais troféus, sem esquecer os prémios individuais, mas realçar que em primeiro lugar estão as conquistas colectivas”.
“Não penso em representar outro clube nacional”
O @Verdade sabe que o vínculo contratual entre o Desportivo de Maputo e Pio Matos expirou, mas o base-armador pretende renová-lo, apesar de estar a ser assediado por alguns emblemas nacionais e estrangeiros.
“Tenho vários convites para representar clubes da África do Sul, Angola, Espanha e Portugal, mas aqui tenho a minha família e os estudos. Prefiro ficar no Desportivo de Maputo. Não penso em representar outro clube em Moçambique. Agora que ganhei o meu primeiro título nacional, quero continuar a lutar por mais conquistas”.
Um craque que gosta do aconchego da família
Fora das quadras, Pio Matos frequenta no presente o quarto ano do curso de Licenciatura em Ciências de Comunicação, na Universidade A Politécnica. O atleta, de 25 anos, que considera a conquista da medalha de prata nos X Jogos Africanos, realizados em Maputo, e o título da Liga Nacional de Basquetebol os melhores momentos da sua carreira, afirma ser um brincalhão, e nos tempos livres adora ficar com a família.