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Pinturas revelam emoções e sonhos

“Emoções dos Sonhos” é como se chama a mostra colectiva de artes plásticas patente na Galeria da Associação Moçambicana de Fotografia, na cidade de Maputo, que junta obras do pintor moçambicano Noel Langa e da portuguesa Filomena Maria de Jesus Gaspar.

As obras expostas resultam de uma residência de criação artística que possibilitou que, numa estratégia de produção colaborativa, os artistas partilhassem experiências, emoções, sentimentos, sonhos e pontos de vista em torno da sua realidade. Não é obra do acaso que a mostra se chama “Emoções dos Sonhos”.

No alinhamento de todas as obras, apesar de se notar que ao nível das opções de cores cada um tem preferências próprias, algumas similaridades são traduzidas na utilização das técnicas mistas e do óleo sobre a tela, que ambos aplicam nas suas criações.

Por um lado, as pinturas de Noel Langa fazem de si o exemplo nobre de um pintor naturalista que explora os elementos que a própria natureza lhe oferece, designadamente o homem, os objectos que o rodeiam, essas regiões rurais, bem como a diversidade de animais em que as aves se impõem.

É como se Noel Langa, que fala sobre a mulher moçambicana, não conseguisse imaginá-la ou visualizá- -la desprovida da capulana, do lenço, do cesto, do pote e de uma criança no colo com que se faz acompanhar em todas as suas actividades domésticas.

Nas suas telas, e ainda bem que os seus títulos nos orientam para isso, não dá para ignorar as dificuldades do homem campesino que, invariavelmente, é impelido a percorrer um “caminho longo” a fim de ter acesso a água, ao posto de saúde, à escola ou mesmo ao mercado.

Quando se parte do princípio de que este artista vive na cidade desde a juventude, os motivos rurais que se encontram na sua tela intrigam determinadas pessoas. No entanto, se o artista nos disser que se trata de uma recordação, por exemplo, da festa do sumo de canhu, como o faz, havemos de convir, tendo em conta que, na verdade, há outros aspectos envolvidos, partindo desta ansiedade de ver as zonas rurais – onde a noção do tempo continua a ser definida pelo nascer e pelo por do sol – a evoluírem também.

Sobre a mostra e o encontro de Noel Langa com Filomena Gaspar (Gaspy), o escritor moçambicano, Marcelo Panguana, considera que “quando dois artistas se associam num projecto comum, nada mais os alicia senão a partilha plena das suas emoções e dos seus sonhos, e sobretudo essa vontade de poderem trilhar o mesmo caminho, mesmo sabendo-se oriundos de contextos e trilhos diferentes”.

Sabe-se que Filomena Maria de Jesus Gaspar nasceu em Portugal, na aldeia do Concelho de Tomar. É duma família humilde e a sua relação com as artes plásticas torna-se obsessiva ao longo da sua infância, não obstante nunca ter tido uma formação específica na área das artes plásticas.

A artista vive em Moçambique há vinte anos. É neste país onde o seu amor pela pintura se materializa, tornando- se uma realidade. Numa breve biografia sobre Gaspy (como ela é carinhosamente tratada) escreve- -se que “as primeiras telas são pinceladas, arranhadas, banhadas de cor e luz, numa harmonia desorganizada que manifesta o desejo reprimido durante 40 anos”.

Na sua pintura, se calhar porque é rica em termos de motivos africanos, valoriza preferencialmente as cores vivas como, por exemplo, o amarelo, o rosa, o castanho, o vermelho e, por vezes, o preto na construção dos detalhes das suas figuras, mormente humanas. Nas suas obras, além de dar forma às suas figuras, a coloração convida o espectador a abstrair-se das nuances da luz.

Aliás, em relação às cores quentes que se sublimam nos quadros de Gaspy, fica-se com a impressão de que a opção tem o propósito de traduzir o calor humano e o clima tropical quente abundante neste continente.

De qualquer modo, Marcelo Panguana considera que “a Filomena Gaspar percorre ainda os difíceis passos neste mundo de arte. Nada mais traz no seu bornal a não ser uma exposição individual que realizou discretamente há menos de três anos e que veio consumar a vontade de pintar que a perseguiu obsessivamente durante a sua infância. A Filomena atirou-se à pintura como se mergulhasse no abismo, isto é, sem ter frequentado uma escola de artes ou ter estado próximo de uma tela ou papel”.

É em resultado de todas estas circunstâncias – desse encontro entre os artistas com experiências diferentes – que o autor do livro “Como um louco ao fim da tarde” considera que prante as obras, “alguns se vão sentir tentados a descobrir as interferências que poderão ter surgido durante o tempo em que os dois artistas trabalharam juntos. Talvez as encontrem talvez não, e isso pouco importa, porque nesta amostra, mais do que os cruzamentos que possa ter havido, há que enaltecer em conjunto que ambos realizaram, o espírito de diálogo, a aprendizagem constante e o cruzamento de culturas”.

As obras em que constituem a exposição “Emoções dos Sonhos” podem ser apreciadas na Associação Moçambicana de Fotografia até o fim de Junho.

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