Os “pesos pesados” da bancada parlamentar do partido Frelimo entraram mudos e saíram calados da plenária da Assembleia da República durante os dois dias da Informação que foi prestada pela Procuradora-Geral da República (PGR). Nem mesmo deram a cara para defender a honra do partido acusado pela oposição de ser um antro de corruptos e de pretender extraditar o deputado Manuel Chang para Moçambique para a “sua eliminação física”.
Após ouvirem a primeira Informação de um PGR onde claramente são referenciados três antigos governantes e membros do partido Frelimo em casos de corrupção os deputados mais importantes da bancada da maioria não intervieram no debate para saúda-lo. A tarefa ficou a cargo de Francisco Mucanheia e de alguns outros pouco intervenientes do debate político que originou o cognome de “escolinha do barulho”.
Escutaram o deputado da Renamo, António Muchanga, sugerir: “Afinal que grande interesse é esse que de repente despertou em Vossa Excelência, o que se pretende em concreto com Manuel Chang em Moçambique. A resposta é simples: sua eliminação física para permitir a queima de arquivo porque pensam que ele conhece muitos assuntos feios que envolvem a nomenclatura dominante do partido e do Governo da Frelimo”.
E ouviram o jovem deputado Ivan Mazanga desafiar a Procuradora-Geral da República a processar o seu partido: “Já que os corruptos envolvidos nestas dívidas, e não só, são todos da Frelimo e mais do que isso declaram que roubaram a mando e para financiar o partido Frelimo porque não instaurar um processo contra esta organização? É que eles tem uma escola na Matola, construída com dinheiro da corrupção, e pode ser lá que esta corrupção é ensinada onde a associação para delinquir é engendrada”.
Margarida Talapa, Edson Macuácua, Sérgio Pantie, José Katupha, Ana Rita Sithole, Eduardo Mulémbwe ou mesmo Damião José permaneceram calados, não houve pedidos de defesa da honra ou a retórica que as dívidas não são crime, que é preciso deixar a justiça fazer o seu trabalho ou que os actos de alguns indivíduos não podem ser confundidos com os de todos membros da Frelimo.
Por diversas ocasiões Beatriz Buchili olhou para os “pesos pesados” da Frelimo, que no passado sempre a acudiram justificando os seus paupérrimos Informes, quase pedindo socorro mas não foi atendida, teve de sozinha tentar esclarecer aos deputados e, para não variar, não defraudou as expectativas: deixou a plenária com a convicção que os assassinatos do Professor Cistac, do Conselho de Estado Jeremias Pondenca, o desaparecimento do cidadão português Américo Sebastião, o desaparecimento do membro do Conselho de Estado Francisco Lole e até mesmo o assassinato de Siba-Siba Macuácua nunca serão esclarecidos.
“Reiteramos os nossos agradecimentos pelas contribuições dos senhores deputados não só ao longo desta interacção, como também pelas cordiais relações institucionais que desenvolvemos ao longo do presente mandato” concluiu Beatriz Buchili em jeito de despedida do cargo que ocupa desde 2014.
Foi aplaudida por toda a bancada do partido Frelimo em pé.