– O que é que fazes por aqui?
– Porquê?
– Pareces triste!
– Estou a pensar na participação das selecções africanas que actuaram no Brasil.
– Pois é, aquilo foi uma grande frustração.
– Mais do que uma grande frustração, foi uma grande derrota para toda a África.
– É verdade.
– É injusto que uma equipa tão valorosa como o Gana tenha sido eliminada como foi.
– Eu choro pelo Gana e por todas as outras. Choro pelos africanos que se recusam a aprender e a mudar de rumo.
– Explica-te melhor.
– Temos que deixar de ser como os caranguejos. Não percebo como é que os africanos dão glórias às equipas europeias e não conseguem elevar-se a eles mesmos.
– Acho que deixamo-nos guiar muito pelo obscurantismo. Acreditamos mais cegamente no que ouvimos na macumba, do que em nós próprios. Somos muito pobres em termos de espírito. Somos vulneráveis aos espíritos malignos, que nos vão acompanhar sempre, enquanto não nos predispusermos a aceitar novos caminhos.
– Que novos caminhos são esses, meu irmão?
– Não é possível servires a dois Reis ao mesmo tempo.
– Como assim?
– Temos jogadores africanos untados em todo o corpo pela resina dos curandeiros, e quando estão no campo fazem o “Pai-nosso”.
– Eu não vejo problema em seguir as nossas tradições e venerar a Deus ao mesmo tempo!
– Uma coisa é seguir as nossas tradições, outra coisa é seguir os preceitos do diabo. Se tu acreditas em Deus, não precisas de ir ao curandeiro. Basta a tua abnegação, a tua obstinação. Reza e trabalha, tudo vai-se abrir à tua frente. Essa é a verdade.
– Estás a agir como os fanáticos.
– Fanático é pensares que os curandeiros são a solução da tua vida. Fanático é seres vacinado nas costas e dormir no cemitério e pensares que tudo o que vier será um mar de rosas. Isso é que é fanatismo. Não vejo que seja fanatismo acreditar apenas em Deus e no trabalho.
– Achas que todas as selecções africanas são comandadas pela macumba?
– Tens dúvidas? Lembras-te do jogo Gana-Alemanha?
– Sim.
– Viste o falhanço incrível ganês para, segundos depois, seguir-se o golo dos germânicos?
– Vi.
– Não achas que os espíritos do mal é que negaram aquele golo dos africanos? – Acho que tens razão.
– Se um dia abdicarmos destas crenças que nunca nos levarão a lugar nenhum, então aí terá chegado a nossa libertação. Hoje estamos manietados pelos espíritos malignos. É por isso que pensamos constantemente no mal. Não nos importamos de destruir ou matar um irmão para atingirmos os nossos objectivos. Sabes disso ou não sabes?
– Sei.
-Então, como é que podemos atingir a prosperidade enquanto agirmos desta forma? Nunca chegaremos a lado nenhum enquanto a inveja e o ódio imperar em nós. O africano quer enriquecer sozinho, e faz tudo ao seu alcance para esmagar o seu próximo, no lugar de ajudá-lo a chegar onde ele está. Falta-nos a unidade, sobretudo a fé em Deus. É nisso que estou a pensar aqui sentado, sozinho. Há um espírito maligno que paira no nosso futebol.