Das montanhas escarpadas que fazem fronteira com o Paquistão às planícies ocidentais varridas pelo vento, milhões de afegãos votarão no sábado numa eleição para a primeira transferência democrática de poder na tumultuada história do país. O Taliban, movimento islâmico radical empenhado em derrubar o governo, espalhou combatentes por todo o país para interromper a eleição, que consideram ser uma farsa apoiada pelos Estados Unidos.
Dezenas de pessoas foram mortas na onda de violência que antecedeu a votação. Uma veterana fotógrafa da Associated Press foi morta e uma correspondente da mesma agência de notícias ficou ferida nesta sexta-feira quando um policial abriu fogo contra as duas mulheres no leste do Afeganistão, quando elas faziam uma reportagem sobre os preparativos para a votação.
Mais de 350.000 soldados afegãos foram colocados de prontidão para impedir ataques aos locais de votação e eleitores.
A capital, Cabul, foi isolada do restante do país por barreiras e postos de controle. Candahar, berço da insurgência Taliban, estava sob um virtual bloqueio antes da eleição. Moradores foram aconselhados a ficar em casa.
O atual presidente, Hamid Karzai, não pode disputar novamente a Presidência, de acordo com a Constituição, mas se espera de modo geral que ele mantenha seu controle sobre o governo por meio de políticos leais a ele.
Os eleitores estarão inevitavelmente lembrando da situação do Afeganistão desde 2001, quando as forças lideradas pelos EUA derrubaram o Taliban, por abrigar Osama bin Laden e a Al Qaeda.
Esses 13 anos viram derramamento de sangue aparentemente interminável — pelo menos 16.000 civis, 3.500 soldados estrangeiros e milhares de soldados afegãos foram mortos. Bilhões de dólares foram gastos na reconstrução do país.
“É preciso dar crédito ao governo Karzai para algumas conquistas limitadas em direitos humanos, em condições muito difíceis”, disse a Anistia Internacional em um comunicado. “Mas a situação de milhões de afegãos permanece terrível, e até mesmo o progresso que temos visto é muito frágil.”
Sem um claro favorito, é provável que o processo eleitoral se arraste por semanas, ou meses, sobretudo se houver uma segunda volta. Qualquer atraso deixaria pouco tempo para concluir um pacto crucial entre Cabul e Washington para manter até 10.000 soldados dos EUA no Afeganistão após 2014 – depois que a maioria das tropas estrangeiras deixar o país.
“Todo o futuro do Afeganistão está em jogo”, disse Franz-Michael Mellbin, representante especial da UE em Cabul, à Reuters. “É crucial … que os afegãos saiam e votem em grande número e deem legitimidade política, e o resultado das eleições será crucial, porque precisamos de um governo estável”.
Dos oito candidatos, os três favoritos são os ex-ministros das Relações Exteriores Abdullah Abdullah e Zalmay Rassoul e o ex-ministro das Finanças Ashraf Ghani.
Se, como previsto, ninguém obtiver mais de 50 por cento dos votos no sábado, haverá um segundo turno entre os dois candidatos principais. Essa votação será realizada em 28 de maio.