O Irão considera seu programa nuclear uma fonte de poder e prestígio e sanções mais duras não devem alterar muito a análise de custo-benefício do governo, apesar dos problemas econômicos que causam. A profunda desconfiança das intenções do Ocidente e preocupações de segurança em uma região volátil, onde os Estados Unidos mantêm uma forte presença militar, poderiam ajudar a explicar a determinação do Irão de não voltar atrás e reduzir o programa nuclear que os seus inimigos temem ter como objetivo a construção de armas.
Essa determinação pode ter sido reforçada pela queda do líder líbio Muammar Khaddafi, que concordou em 2003 em abandonar os esforços para adquirir armas de destruição em massa apenas para ser derrubado depois que seu povo iniciou um levante e as potências ocidentais se voltaram contra ele.
O Irão está a enfrentar uma nova onda de medidas punitivas depois que um relatório do órgão de supervisão nuclear das Nações Unidas este mês reforçou as suspeitas, rejeitadas por Teerão, de que o país vem desenvolvendo a capacidade de fazer bombas atômicas. “O programa nuclear do Irão é motivado pela sobrevivência do regime”, disse o analista de política internacional Alireza Nader, da RAND Corporation, um grupo de pesquisa norte-americano.
“Parece que a República Islâmica tem feito o cálculo de que uma potencial capacidade de fabricar armas nucleares vale o preço de sanções, desde que as sanções não coloquem em perigo o regime.” Se for esse o caso, o mais recente esforço dos Estados Unidos e seus aliados europeus pode fazer pouco para forçar uma mudança de curso por parte do Irão na longa disputa nuclear, que tem potencial de desencadear um conflito mais amplo no Oriente Médio.
Ministros de Relações Exteriores da União Europeia reúnem-se na quinta-feira para discutir novas sanções ao país, depois que Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha anunciaram na semana passada medidas contra os setores financeiro e de energia iranianos. Os líderes iranianos estão a responder na sua maneira caracteristicamente desafiadora às mais recentes medidas contra o grande produtor de petróleo, que já está sujeito a quatro rodadas de sanções da ONU, bem como ações separadas dos EUA e Europa.
RESISTINDO AO “DOMÍNIO” OCIDENTAL
Num sinal da postura intransigente do Irão, um projeto de lei para reduzir os laços com a Grã-Bretanha ganhou aprovação legislativa final na segunda-feira, obrigando o governo a expulsar o embaixador britânico em retaliação às novas sanções contra o país. “A pressão só aumenta a oposição no Irão para entrar em diálogo ou recuar de suas posições, já que isso demonstraria fraqueza que eles acreditam poderia ser explorada pelo Ocidente”, disse um diplomata ocidental na capital iraniana.
Os Estados Unidos e seus parceiros europeus aproveitaram o relatório de 8 de novembro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que disse que o Irã parecia estar trabalhando na elaboração de uma arma nuclear, para tentar isolar ainda mais o país. O relatório também renovou as especulações de que Israel, que vê o programa nuclear iraniano como uma ameaça existencial, poderia lançar ataques preventivos contra as usinas.
O Irão rejeitou o relatório da agência da ONU, que disse ter sido forjado. O país afirma que seu programa nuclear é uma tentativa pacífica de gerar eletricidade.