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Para feridos em Sirte, primeira triagem é feita em mesquita

Para feridos em Sirte

De um lado da mesquita, que só tem uma sala, há um relógio que mostra o horário local e o de Meca, além de uma pilha de Alcorões. Do outro lado há uma dúzia de macas equipadas com suportes para soro, aguardando a chegada de rebeldes feridos na batalha por Sirte, a cidade natal do líder líbio deposto Muammar Khadafi. “Recebemos (os rebeldes) com grandes ferimentos, estancamos a hemorragia, damos os primeiros socorros e os enviamos para atendimento posterior,” disse Noori Al-Maieri, cirurgião de 27 anos de idade na estação de triagem da frente de batalha, a três quilômetros do centro de Sirte.

“Chegam pessoas com ferimentos na cabeça, no peito, nos membros… as pessoas que precisam de atendimento urgente,” disse ele enquanto rebeldes e forças pró-Khadafi trocaram disparos intermitentes de foguetes e morteiros a um quilômetro de distância.

Desde que a batalha por Sirte começou, no mês passado, a estação de triagem vem recebendo entre 15 e 100 pacientes por dia, a maioria com ferimentos provocados por estilhaços de morteiros e foguetes. A leva mais recente de pacientes chegou na tarde de segunda-feira.

Ambulâncias, com as sirenes tocando, deixaram 12 combatentes feridos na mesquita. Geralmente os rebeldes feridos não contam com armadura protetora. A maioria sofreu ferimentos múltiplos e recebe tratamento para estancar sangramentos fortes. Al-Maieri e a sua equipe de enfermeiros voluntários também tratam civis feridos por explosivos quando tentam fugir de Sirte de carro. “Um carro foi atingido por uma RPG (granada impelida por foguete), e a família inteira morreu.

Em outro carro a família tinha um bebê que sofreu queimaduras abdominais.” Vestindo uniforme verde de cirurgião, Al-Maieri descreveu alguns dos outros pacientes que tratou. “Uma mãe com ferimentos graves na cabeça, e duas crianças muito feridas, uma com nove meses e a outra com um ano e meio.” “Outra família morreu inteira. Recolhemos partes dos corpos das pessoas. Acabamos de recolher duas cabeças.”

Enquanto combatentes trocavam tiros nos arredores de Sirte na manhã de segunda, um soldado rebelde foi trazido para a mesquita semiconsciente depois de cair de uma carrinha 4×4 que se dirigia ao front. Esticado na maca, ele olhou para as paredes da mesquita, brancas e cor de pêssego, decoradas com versos do Alcorão, enquanto dezenas de combatentes e profissionais médicos se preparavam para as orações do meio-dia.

“Todos os pacientes têm uma reação,” falou Mohamad Al Mubarak, de 22 anos, estudante de medicina que está a servir como enfermeiro voluntário no hospital. “Eles se sentem mais calmos, consolados aqui na mesquita.”

Para os médicos voluntários no centro de triagem, o trabalho de médico do front também trás riscos. Pader Al Dinari, estudante de terceiro ano de odontologia que vem servindo como voluntário desde fevereiro, levou um tiro no ombro quando trabalhava com uma equipe de ambulância na batalha por Benghazi, no leste do país, em março.

“Não tive outra escolha senão ser voluntário,” falou Al Dinari, que fazia um intervalo diante da mesquita-hospital, enquanto nuvens de fumaça se erguiam sobre Sirte, entre rajadas intermitentes de disparos. “Tive que fazer isso pela Líbia.”

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