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Países árabes celebram um fim do Ramadão denegrido por conflitos no Médio Oriente

O fim do Ramadão e a celebração do “Eid ul-Fitr” nesta segunda-feira (28) perdem algum do seu caráter festivo em muitos países do Médio Oriente, onde os conflitos armados e as crises políticas não dão tréguas à população nem nestas datas.

Esta festividade, que dura três ou quatro dias e é uma das mais importantes do calendário muçulmano, arrancou esta jornada em países como o Egito, Iraque, Síria, Iémen, Arábia Saudita e Líbano, depois de os especialistas avistarem na noite deste Domingo o “hilal” ou crescente lunar.

Como é tradição, centenas de milhares de pessoas dirigiram-se ao amanhecer às praças localizadas em frente às principais mesquitas para participar em rezas coletivas. Parte da população xiita atrasou, no entanto, o início da festividade para terça-feira, da mesma forma que no Irão.

Os muçulmanos dedicam estes dias a visitar os familiares e amigos, comprar roupa nova e presentes às crianças, e viajar. Após um mês de jejum e fervor religioso, muitos aproveitam agora para ir, por exemplo no Egito, à praia para sobreviver às altas temperaturas estivais.

No entanto, embora a população tente deixar de lado as suas preocupações durante estes dias, poucos podem ficar indiferentes perante a ofensiva israelita contra a Faixa palestiniana de Gaza, a guerra na Síria ou os avanços dos jihadistas nesse país e Iraque, onde proclamaram um califado.

Enquanto a comunidade internacional pediu um cessar-fogo durante o “Eid ul-Fitr” em Gaza, não ocorreu o mesmo este ano com a Síria, um conflito que parece dar-se por perdido e que ficou em segundo plano como outras crises regionais.

No Egito, o país árabe mais povoado, a polarização social e política e a repressão contra os islamitas continuam a pesar no ambiente, rarefeito também pela subida geral de preços nas últimas semanas. Chamativas foram as advertências do Ministério do Waqf (Assuntos Religiosos) que vigiará as mesquitas para que os ímãs não aproveitem os seus sermões para pronunciar chamadas políticas ou partidárias.

As autoridades reforçaram, além disso, as medidas de segurança para evitar protestos dos islamitas e atentados terroristas, como também ocorre no Líbano. Tudo isso acontece, apesar de se respira a calma em comparação com o fim do Ramadão de 2013, quando os protestos dos islamitas pela derrocada militar de Mohammed Mursi estavam no seu ponto mais álgido.

Este ano, nem o Ramadão escapou à “sisimania”: os tradicionais “fauanis” (lanternas) ou as tâmaras com as quais se rompe o jejum caíram sob o influxo do presidente, Abdul Fatah al Sisi, que apresenta o seu rosto ou nome aos produtos mais típicos destas datas.

O Ramadão, durante o qual os crentes se abstêm de comer, beber, fumar e manter relações sexuais desde a alvorada ao ocaso, tem um caráter sagrado porque, segundo a tradição, foi durante este mês que o profeta Maomé recebeu a revelação do Corão.

O respeito desta abstinência transformou-se num assunto de vida e morte este ano nas zonas do Iraque e Síria controladas pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI). Segundo ativistas sírios, a dita organização deteve a pessoas no norte da Síria por não respeitar o jejum ou não rezar na mesquita.

Enquanto os combates continuam na maior parte do país, o único lugar onde houve um espreita de celebrações foi em Damasco, transformada na fortaleza do regime. Embora fique longe o ambiente festivo de antanho, as autoridades organizaram na capital algum “iftar” (comida com a qual se rompe o jejum) em honra aos “mártires” do conflito.

Outra das fortificações do EI desde junho passado é a cidade iraquiana de Mossul, onde impera a tristeza entre os habitantes pelo medo dos extremistas e pela destruição de vários dos seus santuários.

Os jihadistas arrasaram em pouco mais de uma semana com várias mesquitas e mausoléus, como os dedicados ao profeta Yunis (Jonás), do século XIII, que foram destruídos com explosivos. Por isso, a maioria dos residentes de Mossul decidiram não celebrar o “Eid ul-Fitr”, abandonados entre o fogo cruzado dos extremistas e o Exército, que bombardeia diariamente a urbe.

Enquanto isso, no ultraconservador reino da Arábia Saudita, as autoridades desdobraram mais de 3.000 efetivos da Polícia da moral para que vigiem o bom cumprimento dos preceitos religiosos. Riad, adornada com luzes, acolherá exibições de acrobacia aérea e obras de teatro durante o “Eid ul-Fitr”, celebrações públicas que – por sua vez – o Catar decidiu cancelar este ano em solidariedade para com os palestinianos de Gaza.

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