Os especialistas oncológicos estimam que, em 2030, mais de 1.6 milhão de africanos vai sofrer de cancro, principalmente as raparigas com mais de 15 anos de idade, caso não se tomem medidas sanitárias adequadas e céleres para estancar o mal. Neste momento, Moçambique está menos preparado para lidar com este problema. A falta de quase tudo nos hospitais para detectar e tratar a doença a que nos referimos é uma realidade. Apenas os hospitais tais como o Central de Maputo estão minimamente equipado para o efeito.
Em Moçambique, as pessoas que se queixam de sintomas provavelmente relacionados com o cancro recorrem aos centros de saúde, de onde são reencaminhados, após alguns exames, para outras unidades sanitárias. Enquanto isso, o tempo de espera – entre a fase de diagnóstico da patologia e do início do tratamento – continua longo e, na pior das hipóteses, começa-se o tratamento numa altura em que a enfermidade está numa fase avançada.
Das doenças cancerígenas de que mais se fala no mundo, os cancros da mama e do colo do útero, que afectam as mulheres, e o de próstata e do fígado, que são mais frequentes nos homens, apoquentam milhares de pessoas em Moçambique e matam centenas delas anualmente. Apesar de serem curáveis, quando os sintomas forem descobertos na fase inicial, o país ainda enfrenta problemas logísticos para tratar estas moléstias. Os aparelhos para o efeito são muito onerosos, por isso, os hospitais ainda não estão devidamente apetrechados para a detecção, o tratamento e a prevenção.
O cancro afecta homens e mulheres de todas as idades, bem como crianças, apesar da existência de algumas enfermidades que apoquentam pessoas com 50 anos de idade ou mais. O tratamento é, na maior parte das vezes, feito através da cirurgia, das radiações e da quimioterapia, cujos meios são bastante penosos e o Governo não está em condições de suportá-los.
Segundo dados do Ministério da Saúde (MISAU), divulgadas na sétima conferência sobre o cancro da mama, do colo do útero e da próstata em África, realizada em Maputo, em cada ano mais de 2.500 compatriotas perdem a vida devido a um diagnóstico tardio, limitações sanitárias que impedem que haja um atendimento adequado a tempo de se evitar danos maiores nos pacientes e o elevado custo da vacina.
Na verdade, é que ainda somos – as fraquezas dos estabelecimentos hospitalares provam isso – um país muito pouco capaz de lidar com o problema e este pode ser fatal se tivermos em conta que os cidadãos ainda enfrentam dificuldades sérias para aceder aos serviços de diagnóstico e tratamento de doenças de menor risco como aquelas a que nos referimos anteriormente.
Aliás, numa nação onde o grosso da população é pobre, sem meios mínimos de sobrevivência, ter cancro pode ser pior que a própria enfermidade devido à falta de meios para o tratamento. As pessoas abastadas, apoquentadas por esta doença, recorrem à vizinha África do Sul por causa da falta de condições para o efeito no país.
Nesse contexto, a Primeira-Dama, Maria da Luz Guebuza, patrona das campanhas de luta contra as lesões cancerígenas, disse, recentemente, numa das suas visitas a um distrito da zona sul do país, que a vacina contra o Vírus Papiloma Humano (HPV) vai iniciar, na fase piloto, em 2014, e passará a ser amplamente usada dois anos mais tarde.
A primeira campanha de vacinação experimental vai abranger três mil raparigas de nove a 10 anos de idade. Se isso acontecer, efectivamente, será o início do alívio do tormento a que estão sujeitas as mulheres afectadas pelo cancro do colo do útero.
Entretanto, enquanto essa promessa não se concretizar, as unidades sanitárias fazem tratamentos “paliativos” para os casos em que a doença é diagnosticada já num estado grave, pois não há hipóteses de evitar a amputação de uma mama, por exemplo, ou, se for próstata, administrar uma quimioterapia.
Estima-se que mais de seis milhões de mulheres estão em risco de desenvolver o cancro do colo do útero e todos os anos são diagnosticados mais de 3.600 novos casos, para além de que em 100 novos casos cancro nas mulheres, oito são da mama e 32 do colo do útero.
O sector da saúde reconhece que há um número considerável de casos nas comunidades que não é conhecido por causa de vários factores com que os Serviços Nacionais de Saúde se debatem. Neste momento, o país conta com mais de 610 profissionais de saúde habilitados para tratar as patologias em alusão.
De acordo com o MISAU, as altas incidências das enfermidades a que nos referimos resultam da mudança do estilo de vida das pessoas, nomeadamente o elevado consumo do tabaco, álcool, a radiação solar, a poluição ambiental, o consumo de alimentos altamente gordurosos, o sedentarismo, a falta de exercício físico, a exposição ao stress, o início precoce de relações sexuais, dentre outros factores.
Os especialistas da saúde indicam que os adolescentes de 10 a 15 anos de idade, jovens de 25 a 29 anos de idade, as mulheres que tiveram filhos depois dos 35 anos de idade, adultos de 40 a 55 anos de idade, as raparigas que menstruaram pela primeira vez antes dos 12 anos de idade, ou que depois dos 50 anos não menstruam, correm o risco de contrair o cancro da mama. A forma mais eficaz de reduzir o número de mortes e o sofrimento por causa deste tipo de doenças é a prevenção, detecção precoce da doença bem como o tratamento adequado.
Em toda África, a indicação é de que o cancro da mama mata 50 mil mulheres anualmente, ou seja, 54 óbitos em cada 100 pessoas e há 9.600 casos novos diagnosticados, enquanto o do colo do útero é responsável pela morte de 88 indivíduos do sexo feminino em cada 100. Além disso, no continente africano estima-se que em 265 milhões de habitantes, cerca de 69 mil sofrem de cancro uterino, dos quais 62 mil não resistem, isto é, 78 pessoas morrem em cada 100 casos.
Sintomas do cancro da mama
A presença de um caroço ou inchaço numa das duas mamas ou debaixo de um dos braços, o aumento anormal do tamanho dos seios, o enrugamento da pele da mama e aparecimento de feridas, bem como a mudança da posição do mamilo são os principais sintomas deste tipo de patologia.
Próstata
Na sua fase inicial, o cancro da próstata não apresenta nenhum sintoma, somente na fase avançada em que o homem tem necessidade frequente de urinar, particularmente à noite, pese embora permaneça a sensação de que a bexiga não vazou completamente durante esse processo, dificuldades de urinar e de interromper o acto, e urinar em gotas ou jactos sucessivos.
Para além disso, a enfermidade em causa faz com que a pessoa sinta necessidade de uso da força para manter o jacto da urina, saída espontânea da mesma, sensação de dor na parte da bexiga ou abaixo dos testículos, problemas em conseguir manter a erecção, sangue na urina ou esperma, e dor nos testículos durante a ejaculação e no momento de urinar.
Colo do útero
No que diz respeito ao cancro do colo do útero, a mulher tem sangramentos vaginais anormais, hemorragias durante ou após as relações sexuais, aquando do período, e corrimento vaginal repetitivo, por vezes, com mau cheiro na altura de manter relações sexuais.