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Os pais de hoje não têm tempo de educar os filhos e aí surgem os problemas que resultam em violência

Os pais de hoje não têm tempo de educar os filhos e aí surgem os problemas que resultam em violência

Foto de Adérito CaldeiraA violência doméstica na capital moçambicana continua preocupante, revela Maria Sopinha que aponta a maneira como educamos os nossos filhos como a causa deste mal, “(…)o rapaz é ensinado desde pequeno que vai ser o sucessor e nos esquecemos da rapariga, eles crescem em desequilíbrio (…) e a mulher também sempre coloca-se naquela posição eu dependo do meu irmão, seja mais velho ou mais novo”. A chefe do gabinete de atendimento à mulher e criança vítimas de violência doméstica na cidade de Maputo responsabiliza também aos progenitores pela falta de valores morais na nossa sociedade, “os pais hoje trabalham muito tempo fora de casa, estão mais preocupados com trabalho e esquecem-se do seu papel de pais e educadores, não têm tempo de conversar com os filhos, não têm tempo de escutar os problemas dos filhos”.

“Tudo parte de como educamos os nossos filhos desde pequenos, mesmo as pessoas com educação continuam a colocar o rapaz em primeiro lugar, ele é ensinado desde pequeno que vai ser o sucessor e nos esquecemos da rapariga, eles crescem em desequilíbrio, sempre acima da sua própria irmã. E quando ele for adulto e casado carrega consigo este pensamento, que a mulher é inferior”, explica Maria Sopinha que acrescenta que a mulher também se coloca numa posição inferior dependo do seu irmão, seja mais velho ou mais novo, e sugere que a solução passa por mudar de pensamento na educação dos nossos filhos.

“Se nós tentarmos inverter os papéis podemos mudar muitas coisas, podemos começar por mudar a cor da roupa dos bebés. As meninas deixam de ter aquele enxoval cor-de-rosa e os rapazes deixam de ter o azulinho, porque as cores também tem um significado na violência. O céu é azul, o mar é azul e ninguém se atreve a sair de casa nos dias em que o céu está bravo, ninguém se atreve a entrar para o mar quando está bravo, desde o início nós damos este poder, esta força, ao rapaz, que tu tens a força tal como o céu e o mar”, afirma a agente da Polícia da República de Moçambique(PRM) que é casada e mãe.

Para a nossa entrevistada a educação em casa é a chave dos problemas de violência que a sociedade moçambicana enfrenta e considera também que nos progenitores residem as responsabilidades pela falta de valores que os jovens apresentam.

“Pais atiram todas as responsabilidades da educação dos filhos para as empregadas”

“Eu não gosto de atribuir culpa aos jovens pelo comportamento que eles têm hoje, os pais são culpados. Qual é a educação que o pai dá ao filho? O dar um telemóvel caro não significa que é um bom pai, o facto de no fim-de-semana o pai entregar vários milhares de meticais e entregar ao filho para que vá a discoteca não é dar uma boa educação aos filhos, quais sãos os valores morais? Será que este pai que tem proporcionado este tipo de vida é um pai que consegue sentar e conversar com o filho? É um pai que está em altura de dizer ao filho de manhã tu tens que dizer bom dia a tua irmã, a tua irmã, ao sair a rua tens que saber cumprimentar as pessoas mais velhas, dentro do chapa tens que ceder lugar as pessoas crescidas, independentemente de tu conheceres ou não, será que este pai faz isto? Muito provavelmente não” diz Maria Sopinha que não tem dúvidas “este jovem, ao sair para a rua despreza a todos, não respeita a ninguém porque o que conta para ele são bens materiais não são os valores morais, e de quem é a culpa, é do próprio pai”.

De acordo com a chefe do gabinete de atendimento à mulher e criança vítimas de violência doméstica na cidade de Maputo “os pais hoje trabalham muito tempo fora de casa, estão mais preocupados com trabalho e esquecem-se do seu papel de pais e educadores, não têm tempo de conversar com os filhos, não têm tempo de escutar os problemas dos filhos. Alguns pais atiram todas as responsabilidades da educação dos filhos para as empregadas, é lá onde temos problemas”.

Maria Sopinha diz ainda que não só é condenável a violência contra as mulheres e homens mas também contra as crianças, nem que seja com a desculpa de as estar a educar “há homens que hoje adultos têm medo dos seus pais, e não é por respeito”, e recomenda “o remédio santo é o diálogo, mesmo com eles ainda pequenininhos”.

Trinta e duas crianças violadas sexualmente

Foto de Adérito CaldeiraO gabinete de atendimento à mulher e criança vítimas de violência doméstica capital de Moçambique existe desde o ano 2000 mas só desde finais de 2009, quando foi aprovada a lei que penaliza a violência doméstica, é que tem o seu trabalho têm-se tornado visível. Contudo Maria Sopinha revela que “a violência doméstica não é policiada, os números não nos indicam o aumento ou a redução da violência. Os números indicam que há mais denúncias de casos de violência. Alguns casos reportados não são recentes, a medida que a informação vai passando as pessoas vão despertando e e vêm a polícia denunciar”.

Depois de em 2014 terem sido registados 1700 casos de violência doméstica este ano, entre Janeiro e Outubro, na capital de Moçambique foram atendidos “1186 mulheres vítimas de violência, contra 193 homens”. Além disso, nesse período, foram registados 702 crianças vítimas de todo o tipo de violência (crianças perdidas, além das crianças vítimas de abusos sexual dentro e fora da família).

Entre estas crianças 32 foram violadas sexualmente, 17 menores dos 10 as 13 anos, nove com seis a nove anos de idade e ainda três bebés, com menos de cinco anos de idade, foram vítimas dos predadores sexuais.

“A violência doméstica na cidade de Maputo continua preocupante”, declara Maria Sopinha que argumenta “a partir da violência doméstica há uma desestruturação da própria família, porque os pais depois vão ter que separar-se e as crianças, algumas, acabam parando na rua”. A nossa fonte afirma que nestes dez meses foram reportados 263 casos de pais que não deram assistência alimentar aos seus filhos.

“Porquê este homem hoje violenta a sua própria esposa”

Sem entrar em detalhes a nossa entrevistada revela que embora se aponte a pobreza como uma das causas da violência doméstica a verdade é que “os pobres nem têm força para se bater, porque um pobre está esfomeado, não tem força para discutir, e nesta questão da violência também temos as relações de poder. Quem tem mais poder sobre outra pessoa é o homem, sendo o homem é ele que violenta a sua própria esposa”.

“Nós tivemos 458 mulheres, na faixa etária dos 22 a 32 anos de idade que foram espancadas por parceiros íntimos, e tivemos 215 mulheres, dos 33 a 43 anos de idade, que também foram agredidas pelos seus maridos ou companheiros”, destaca a chefe do gabinete de atendimento às vítimas de violência na cidade de Maputo que refere que entre estes jovens a maioria não se separou depois das agressões e questiona-se “porquê este homem hoje violenta a sua própria esposa ou a sua namorada se ele no início procurou a ela para que fosse companheira, e hoje deixa de ser companheira é sua inimiga e a sua adversária”.

Foto de Adérito CaldeiraMaria Sopinha apontou ainda existirem casos de violência doméstica envolvendo pessoas acima dos 55 anos de idade mas que não são casos de violência de filhos contra os seus pais mas sim entre idosos que vivem juntos.

A lei 29/2009 define a violência doméstica como um crime público e por isso qualquer pessoa que presencie um caso pode denuncia-lo as autoridades policiais. Em Maputo as queixas devem ser feitas no gabinete de atendimento à mulher e criança vítimas de violência doméstica na cidade de Maputo, localizado no término da avenida Eduardo Mondlane ou telefonando para o número 821556805.

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