Com o objectivo de revolucionar as tendências musicais na província de Nampula, dois jovens, nomeadamente Délfio Passuleque e Jordão Mário, conhecidos no mundo da música por Sainthood e Lebwosky, respectivamente, formaram uma dupla denominada “Os Incríveis”, no bairro de Carrupeia, arredores da chamada capital do norte. Conheça as suas histórias e razões…
Em Nampula, existem vários cantores, mas os seus trabalhos não são exemplos, pois os mesmos têm apostado na produção quantitativa ao invés da qualitativa. Além dessa particularidade, os artistas considerados “nómadas” ou “roda dos ventos” são culpados por alegada desordem no seio dos músicos. Porém, deixando de lado estes problemas, vamos então ao historial de “Os Incríveis”, os revolucionários da música nampulense…
A história de “Os Incríveis” confunde-se com a dos membros do grupo. São, no entanto, revelações que descrevem detalhadamente os caminhos percorridos pelos artistas revolucionários. Importa referir que a matéria- -prima para a composição das suas músicas cinge-se ao quotidiano, essencialmente ao amor. O grupo “Os Incríveis” interpreta diversos géneros musicais.
Os estilos R&B, Kizomba e Zouk, e a mistura com Hip Hop remetem-nos à comparação deste agrupamento com os demais que passeiam a sua classe internacionalmente. As colectividades, tais como Boyz II Men, Backstreet Boys e alguns artistas que cantam a solo, com destaque para o músico moçambicano Nuno Abdul, são tidos como as principais fontes de inspiração dos dois jovens.
As ideias de constituir um grupo já vinha sendo motivo de conversas quando eles frequentavam a 11ª classe na Escola Secundaria de Napipine, arredores da cidade de Nampula. Mas, naquela altura, tratava-se apenas de um mero sonho. O agrupamento nasceu no pretérito ano de 2012, quando Sainthood e Lebwosky decidiram juntar-se para estudarem as novas técnicas musicais.
Na verdade, o surgimento da dupla, “Os Incríveis” têm a sua história ligada a um evento promovido pela Universidade Católica de Moçambique (UCM), denominado Universidade Aberta, que tinha como principal objectivo é reunir os jovens com talento para a sua posterior divulgação. “Pela sua magnificência e o jeito com o qual ele entretinha os convidados, chamou-me a atenção e a partir daquele momento decidimos juntar-nos e formarmos um grupo para cantarmos melhor”, disse Sainthood.
Por outro lado, de acordo com Lebwosky, “Os Incríveis” descobriram, naquele dia, que juntos poderiam levar o nome da cidade de Nampula além-fronteiras e, entretanto, a ideia de formar o agrupamento ficou mais sólida.
Foi aí que começou o sonho de revolucionar a música em todos os aspectos técnicos. Nos finais do ano de 2012, “Os Incríveis” gravaram a sua primeira música intitulada “Amor à primeira vista”, que retrata a emoção e os bons momentos vividos por dois jovens que se apaixonam logo no primeiro dia em que se viram.
Concretizava-se, deste modo, a solidificação das ideias e dos objectivos traçados para aquele período. Posteriormente, no ano seguinte, o grupo lançou mais um tema denominado “Não quero saber”. A música tornou-se um sucesso no seio dos jovens residentes no bairro de Napipine. Após o lançamento da faixa em alusão, seguiu-se a uma época repleta de espectáculos nos quais o grupo elevou o nome “Os Incríveis”.
Eras tu…
O ano de 2014 foi, de certa forma, um dos mais gratificantes para Délfio Passuleque e o seu parceiro, Jordão Mário, pois o ascendimento da carreira começou a ser visível no seio dos cidadãos da cidade de Nampula. Enfim, chegou o momento de fama. A temporada de sucesso foi mercê da publicação da música que se tornou o cartão-de-visita de “Os Incríveis”.
A música baptizada com o título “Eras tu”, que é, no entanto, um trabalho cuja abordagem não foge ao estilo do grupo: o amor. Ela conta a história de um jovem cuja namorada decidiu traí-lo com o seu melhor amigo justamente no momento que o namoro parecia correr bem.
Em suma, as peripécias de um relacionamento que não deu certo. Por outro lado, a mesma composição também fala sobre um outro jovem que fica decepcionado e vê, no rompimento da relação amorosa, uma estratégia viável para colocar um fim nos seus problemas.
“Nós pretendíamos, com o tema em alusão, chamar a atenção das pessoas que, devido a alguma razão, perderam o gosto ou o amor ao seu parceiro, para que optem pelo diálogo e sejam abertos para evitarem desilusões”, disse Délfio ao @Verdade.
Um sonho que se torna real
Para a dupla, o sonho de ser cantor vem da infância e sempre tiveram em mente que nasceram para serem artistas. Porém, eles encontraram-se na arte de (bem) combinar os sons. Os revolucionários da música nampulense afirmam que já deram os primeiros passos para tornarem os seus sonhos realidade.
Por outro lado, a vontade de expressar o sentimento, sobretudo o amor, em forma de música é, também, um sonho realizado uma vez que, segundo os jovens, não é fácil descrever situações de um relacionamento e falar do amor em todas as suas vertentes.
“Nós e os nossos fãs somos a inspiração”
Neste âmbito, “Os Incríveis” baseiam-se em histórias, quer vividas por eles próprios, quer por alguém mais próximo (os seus fãs, a título de exemplo). “Nos nossos trabalhos, procuramos relatar os episódios vividos por nós e pelos nossos admiradores”, explicou Lebwosky.
“Queremos apostar na qualidade e não na quantidade”
Os dois jovens estão conscientes de que, apesar de pensarem em revolucionar a música de uma maneira positivista, os desafios que estão prestes a enfrentar são maiores. Mas eles acreditam que, quanto à produção, a qualidade está normalizada. Eles são da opinião de que os estúdios caseiros – os então denominados Home Studios – tendem a apostar em boa aparelhagem para a produção e captação musical e, com isso, estão esperançados de que os próximos tempos serão melhores.
A música é (des)valorizada
Apesar de o mercado musical de Nampula ser pouco rentável, eles tencionam envidar esforços para contornar a situação, pois há pouco consumo do trabalho de artistas locais. A fraca promoção desta área artística contribui, sobremaneira, para a aparente estagnação.
No contexto da promoção, esta particularidade é pouco entendida, embora, nos últimos, as rádios tendem a ajudar, mas de uma forma limitada. Ao invés de idealizar que não vale a pena investir num mercado em que não se consome os produtos locais, “Os Incríveis” olham para este problema como um dos desafios a vencer. Nos shows não convidam os artistas considerados donos de casa, pois não há espectáculos para a promoção de trabalhos dos principiantes.
O que acontece, actualmente, é que os músicos andam dispersos, cada um vira-se como quiser e acaba por vender o seu trabalho a preço baixo. “Nós estamos à procura de um espaço onde podemos promover os nossos feitos e espectáculos. Mas não temos fundos suficientes para a nossa subsistência”, salientou Lebwosky.
Gratos aos familiares e amigos
Apesar de algumas dificuldades serem por si colmatadas, o agrupamento diz-se grato aos mais próximos entre os familiares, os amigos e os fãs que, de uma forma incondicional, apostaram e investiram directa e indirectamente para que “Os Incríveis” pudessem existir. “Os nossos familiares e amigos são pessoas que nos têm ajudado a persistir na carreira musical. Mas, também, carecemos de apoios e patrocínio para a produção dos nossos trabalhos”, disseram os artistas.