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Os estupros que ainda assombram Luís Cabral

Criminalidade: o dilema de “Luís Cabral”

Os dias 16, 19, 27 de Junho e 17 de Julho últimos jamais serão esquecidos no bairro Xinhambanine, vulgo Luís Cabral, na capital moçambicana, que foi assolado por uma vaga de agressões físicas e estupros que culminaram com a morte de, pelo menos, quatro raparigas. Todos os crimes se deram de forma muito semelhante. Agora, a situação parece estar controlada mas o medo e a insegurança ainda reinam na região. As mulheres dos quarteirões onde os crimes aconteceram continuam apavoradas, e a partir das 19h00 não saem de casa por temerem ser as próximas vítimas.

Nas ruas as pessoas contam que estão com pânico tendo em consideração o que consideram tamanha violência. Até hoje, a população daquele bairro não percebe por que razões as vítimas foram mortas de forma bárbara e clama por uma patrulha intensa por parte da Polícia, alegadamente porque, além de agressões físicas e violações sexuais, a zona tem sido palco de outros crimes, sobretudo de assaltos nas cercanias das linhas férreas e machambas, áreas consideradas altamente perigosas.

A 16 de Junho do ano em curso, a jovem Angelina José Coreia, de 19 anos de idade, encontrou a morte de forma brutal. Consta que ela passara a morar em casa de uma tia há relativamente pouco tempo, na zona de Luís Cabral, em virtude de ter tido um desentendimento com o irmão da sua mãe. Segundo Injurda Hilário, de 20 anos de idade, residente do quarteirão 39, a sobrinha perdeu a vida quando voltava da residência do seu irmão, no bairro unidade 7, onde ia buscar os seus pertences.

“Por volta das 17h00 notei que ela estava a demorar; telefonei-lhe e ela garantiu-me que estava na paragem da “Brigada” e chegaria à casa o mais rápido possível. Retomei a chamada às 19h00 e ela dizia a mesma cosia, que estava a chegar À casa. Às 20h00, quando quis insistir, o telefone já estava desligado. Fiquei preocupada sem saber o que fazer para encontrá-la, uma vez que já era tarde”.

A noite passou e um novo dia chegou mas ninguém sabia do paradeiro de Angelina, até que, na madrugada do dia 16/06/14, os vizinhos da nossa interlocutora encontraram a vítima sem roupa, ensanguentada e com o rosto inchado, sinais que sustentavam a tese de que a jovem teria sido espancada e, em seguida, abusada sexualmente até à morte. Mais de dois meses passaram, os malfeitores continuam em parte incerta e não se sabe o que esteve na origem do crime. Os supostos assassinos apoderaram-se de todos os bens que a miúda tinha em sua posse, tais como telemóvel, pasta com roupa, documentos pessoais e dinheiro.

A má notícia sobre o seu desaparecimento físico, alegadamente premeditado, abalou Injurda, que nos assegurou que nenhum destes pertences foram encontrados até hoje. “Existem factos inexplicáveis… os pais da minha sobrinha perderam a vida quando ela tinha oito anos de idade e com menos de dois dias a viver naminha casa ela foi violada até à morte; é triste”, lamentou a senhora.

Esta acredita que o grupo que abusou da jovem e tirou a sua vida habita na mesma zona e admite que o homicídio foi uma forma de evitar que tais indivíduos fossem identificados e responsabilizados por este acto macabro. A nossa entrevistada apelou à Polícia da República de Moçambique (PRM) para que seja mais vigilante e trabalhe em coordenação com os próprios moradores com vista a estancar este mal. Ela considera que o que aconteceu com a sua parente um dia pode vir a ocorrer numa das familiares dos presumíveis assassinos.

Decorrido pouco tempo, o bairro Luís Cabral foi abalado por uma nova tragédia. Segundo informações em nosso poder, a 19 de Junho, uma cidadã de aproximadamente 30 anos de idade, cujo nome e o da família não conseguimos apurar, foi encontrada pelos moradores sem vida dentro de uma vala, por volta das 06h00, numa área onde se produz hortícolas. Felismina Chambule, de 58 anos de idade, vive na área onde o crime se deu e contou ao @Verdade que a vítima residia no bairro George Dimitrov.

No “Luís Cabral” ia passar o fim-de-semana em casa dos sogros. A terceira malograda, cujo nome também não foi possível apurar, aparentemente de 16 anos de idade, morreu a 27 de Junho, a caminho de uma padaria sita nas imediações do seu quarteirão a fim de comprar bolos para revender no Terminal Rodoviário Interprovincial da “Junta”.

À semelhança das duas primeiras vítimas, ela foi estuprada, agredida fisicamente e o seu corpo abandonado numa linha férrea na mesma zona. A quarta vítima, de acordo com Felismina Chambule, era uma menina de 14 anos de idade, que, após ser violentada física e sexualmente, foi arremessada para baixo de coqueiros, numa área onde abunda este tipo de árvore. Ao contrário da Injurda, a nossa interlocutora considera, apesar de não apresentar argumentos, que os crimes foram protagonizados por pessoas provenientes de outros bairros. A cidadã apela às pessoas supostamente sem ocupação para realizarem biscates algures em vez que desgraçar famílias.

Os assaltos

Os moradores do bairro Luís Cabral estão preocupados com a onda de violência que tomou conta da região nos últimos tempos. São raros os dias em que os residentes não se queixam de assaltos frequentes. A partir das 19h00 é ariscado circular na zona, principalmente nas proximidades da linha férrea e do rio Malauze. Um grupo de bandidos tem estado a criar terror, despojando pessoas indefesas dos seus bens, tais como dinheiro, telemóveis e outros objectos.

O secretário da zona, João Matlombe, reconheceu que a criminalidade deixou muita gente agastada, entre Janeiro e Julho. Em conexão com os casos a que nos referimos, ninguém foi detido, o que preocupa bastante a comunidade. O líder garantiu que a PRM está a trabalhar em coordenação com a Força de Intervenção Rápida (FIR) com vista a mitigar a situação.

Todavia, os moradores não sentem o efeito desse trabalho. Jorge Sitoe, de 24 anos de idade, trabalha numa empresa de segurança privada; por isso, sai de casa por volta das 04h00. Ele confessou que tem medo de cair nas mãos dos malfeitores e desde que quatro miúdas foram mortas muita gente já não circula livremente na zona a partir de certa altura.

“O indivíduo que for encontrado pelos bandidos é espancado até perder os sentidos e depois assaltado. Isto acontece, em parte, devido à falta de patrulhamento à noite. A Polícia efectua rondas à tarde, período em que casos desta natureza não acontecem”, disse Sitoe. Laura Machava, de 27 anos de idade, considerou que a presença da corporação é quase nula e o perigo está nas zonas sem iluminação.

“Há sensivelmente seis meses que não sabemos o que é circular à vontade neste bairro. Há pessoas que estudam à noite e acabam por desistir por receio de serem agredidas e mortas”.

Jorge Nhanombe é o dono de um vasto campo no qual produz e vende algumas hortícolas que abastecem diversos mercados das cidade de Maputo e da Matola. Contudo, ele queixa-se de estar a registar prejuízos desde o dia em que o corpo de Angelina foi encontrado no meio de alguns canteiros da sua machamba.

A partir dessa data, ninguém quer saber das verduras retiradas daquele local por temerem ser vítimas de azar ou por receio de não conseguirem revender os produtos ali adquiridos. Orlando Mudumane, porta-voz da PRM a nível da cidade de Maputo, disse que as autoridades renovam o apelo à vigilância da população. Qualquer movimento suspeito deve ser comunicado à Polícia.

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