Para continuarmos  a fazer jornalismo independente dos políticos e da vontade dos anunciantes o @Verdade passou a ter um preço.

“Orgulhosamente” moçambicano

Triste. Muito triste. De dar pena. De causar indignação até à náusea a quem gosta de cultura – de “cultura”, ponto final. Esta foi a forma como um dos eventos mais emblemáticos do panorama artístico moçambicano foi enxotado para segundo plano, despudoradamente ultrapassado, conscientemente atropelado e, assim, enxovalhado mesmo, por todas as “questões” que o envolveram. Antes e depois.

 

E “envolver” é um verbo perfeitamente adequado, pois o VI Festival Nacional de Cultura, em si, foi mesquinho, mas completamente, subsumido por palavras a mais, questiúnculas atreladas a si, que não têm ali lugar (e quem tiver isso como preocupação que se dê ao trabalho de referi-las). Mas, neste país (agora sem ponto final… e com imensas reticências…), a “cultura”, é assim que se “manifesta” em 2010. Começou cedo. Não espantou.

Foi assim que houve o primeiro a dizer: “Já cheira a Festival!”.

Já se esperava: é a altura de “começar”. É, cada vez mais, normal.

Parece o “tiro de partida” para as palavras avulsas, os discursos preparados até que, à laia de enfermidade para a qual não se vislumbra cura, pendem epidemicamente à volta destes festivais (sobretudo), os mais apetecidos da época para quem (e mais natural) anseia por um evento em que o país se reveja culturalmente, onde as culturas de todos os cantos funcionem como raios luminosos que se entrelaçam e se fundem num único ponto: celebrar a diversidade para fazer a unidade.

E, neste festival, a doença teve consequências de aniquilação quase total. Foram cinco dias de um dos mais importantes acontecimentos culturais – o evento tem lugar de dois em dois anos – e, aquilo que realmente interessa, ficou completamente para trás. Antes e depois, já se disse. O “antes” apareceu, como de costume, numa das suas várias formas do tal “vírus” pronto a “atacar” e que por ausência de vacina já aparece de braço dado com o conformismo.

Desta vez, ainda por cima, houve também um “depois”. Este estado enfermo fez questão de se manter até final, ultrapassou em muito os cinco dias do festival e fechou com “chave de lata” mais uma semana de evocação da moçambicanidade. Pelo meio ficou quase ignorado o espectáculo proporcionado de forma hercúlea pelos artistas, à deriva, que perderam o pé sem ter hipótese de se defenderem, sem saberem onde se colocarem tal foi o outro “espectáculo” que os “devorou”.

A situação passada pelos jornalistas para ter acesso a qualquer informação, o Gabinete de Comunicação e Imagem que não existiu, a comida podre, quando houve, para os artistas, a arrogância de Maria Emília, o monumento erguido à incompetência sob forma de assessora de imprensa, a fugir de qualquer questão relacionada com o festival (e foram tantas as vezes) não podia ter sido exemplo mais cru deste “Festival Nacional de Cultura”.

Que – infelizmente é mesmo verdade – é o que temos.

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Telegram

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

error: Content is protected !!