Um alto funcionário da ONU alertou nesta quinta-feira para o risco de genocídio na República Centro-Africana se não houver uma resposta internacional mais robusta ao derramamento de sangue entre comunidades no qual foram mortas pelo menos mais oito pessoas durante a noite.
Ex-colónia francesa, o país mergulhou no caos depois que uma coalizão rebelde de maioria muçulmana, chamada Seleka, tomou o poder em março, desencadeando uma onda de matanças e saques que levou a ataques retaliatórios por parte de uma milícia cristã conhecida como antibalaka (antimachete).
Mais de 1 milhão de pessoas deixaram suas casas por causa da violência desde que o Seleka instalou o seu líder, Michel Djotodia, como presidente. Somente no mês passado mais de mil pessoas foram mortas na capital, Bangui, o que levou nações vizinhas a retirar do país mais de 30.000 de seus cidadãos. Há relativa calma desde que Djotodia renunciou, na semana passada, sob intensa pressão internacional, mas persiste a violência esporádica em Bangui.
Nesta quinta-feira, um porta-voz de um grupo de 15.000 milicianos antibalaka criticou o governo provisório e ameaçou retomar a violência se ele não for alterado. “Se não houver nenhuma solução para isso, nós sempre teremos nossos machetes, que ainda não entregamos”, disse à Reuters o porta-voz, Sebastien Wenezoui, numa base em Boeing, um bairro ao norte de Bangui, protegido por cerca de 20 milicianos armados com facas, machetes e fuzis Kalashnikov.
O seu grupo quer que o Conselho Nacional de Transição (CNT) seja remodelado para ampliar a participação dos grupos antibalaka e reduzir o número de representantes do Seleka. Eles planeiam realizar uma marcha em Bangui na sexta-feira para tentar impedir a nomeação de um novo presidente interino, acrescentou. O CNT deve eleger o novo dirigente do país em 20 de junho, disse sua vice-presidente Lea Koyassoum Doumta, nesta quinta-feira.
A ONU designou a República Central-Africana entre suas três principais emergências humanitárias, com a Síria e as Filipinas. Mas um apelo da organização por ajuda recebeu apenas 6 por cento da meta de 247 milhões de dólares. No retorno de uma viagem de cinco dias ao país, um funcionário da ONU disse que a crise era previsível e tem origem em muitos anos de negligência internacional para com o caótico país.
“Os elementos estão lá, as sementes estão lá, para um genocídio”, disse o diretor de operações para o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, John Ging, em entrevista à imprensa em Genebra. “Lá estão todos os elementos que vimos em outras partes, em lugares como Ruanda e Bósnia.”