O presidente sudanês, Omar al-Bashir, contra quem a Corte Penal Internacional (CPI) emitiu esta quarta-feira uma ordem de prisão por genocídio em Darfur, é um militar de carreira hábil, mas imprevisível, que se projetou no poder com um golpe de Estado apoiado pelos islamitas.
Os 19 anos que ele passou à frente do maior país da África foram marcados por um período de guerra e, depois, pela paz com o Sul, por relações tumultuosas com os países ocidentais e pelo conflito no Darfur, que, em cinco anos, já deixou mais de 300.000 mortos, segundo a ONU.
Nacionalista, o general Bashir se recusou até agora a enviar à CPI responsáveis sudaneses acusados de crimes de guerra no Darfur, dizendo que não permitiria jamais que um sudanês fosse julgado por um tribunal estrangeiro.
“O presidente El-Bashir é também conhecido por sua propensão a responder violentamente a insultos, e dizem que ele fica preocupado com o que considera uma conspiração do exterior para derrubá-lo. Suas respostas são imprevisíveis”, comentou o estudioso Alex de Waal.
Omar al-Bashir derrubou o governo democraticamente eleito de Sadek el-Mahdi num golpe de Estado em 30 de junho de 1989, apoiado pelo Frente islâmico nacional, partido de seu ex-mentor Hassan al-Turabi que se tornou mais tarde seu maior inimigo.
O governo de Al-Bashir orientou o Sudão para um islamismo radical, e as Forças populares de defesa recentemente criadas foram enviadas ao Sul, povoado de animistas e cristãos, para combater os “infiéis”, no que se transformou num dos conflitos mais longos do continente africano.
Nascido em 1944 em uma família rural de Hoshe Bannaga, a 100 km ao norte de Cartum, Omar al-Bashir sempre foi fascinado pela carreira militar. Ele galgou rapidamente as etapas da carreira e serviu ao lado do exército egípcio no conflito entre israelenses e árabes de 1973. Comandou na ocasião a 8ª Brigada do Exército regular posicionado no Sul, no auge da guerra entre o governo de Cartum e o Movimento de libertação do povo do Sudão (SPLA), porque soube com muita habilidade tirar proveito da impertinência de seus oficiais para tomar o poder em 1989.
Na companhia de Hassan Turabi, exerceu seu poder através de um Conselho de comando da revolução (RCC) e de um governo de saúde nacional, formado por jovens oficiais. Em 1993, dissolveu o RCC e se autoproclamou presidente da República. Acumulou todas as funções, antes de ser eleito pela primeira vez em 1996 numa eleição amplamente criticada.
Seu regime acolheu durante cinco anos o chefe da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, antes de expulsá-lo sob pressão dos Estados Unidos. Em 1999, suas relações com Hassan Turabi começam a desandar e Turabi é detido de 2001 a 2003. Omar al-Bashir tenta se livrar do islamismo radical e melhorar suas relações com seus vizinhos e a comunidade internacional.
Autorizando em 2005 seu governo a assinar o Acordo de Paz Global, ele surpreendeu ao fazer um pacto com os rebeldes do Sul e abrir caminho para um processo democrático. Mas seu país vem enfrentando há mais de cinco anos o conflito em Darfur, pelo qual diversos responsáveis de seu regime são acusados de crime de guerra e no qual cometeu crimes de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra, segundo as acusações feitas pelo promotor da CPI Luis Moreno-Ocampo.