As potências ocidentais expulsaram os diplomatas da Síria, esta Terça-feira, por indignação com o massacre de 108 pessoas, quase metade delas crianças, mas o presidente Bashar al Assad, apoiado pela Rússia, não mostrou nenhum sinal de ceder à pressão.
Os assassinatos na cidade de Houla atraíram um coro de condenação de todo o mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU) disse que famílias inteiras foram mortas nas suas casas, Sexta-feira.
“Bashar al Assad é o assassino do seu povo”, disse o chanceler francês, Laurent Fabius, ao jornal Le Monde. “Ele deve abdicar ao poder. Quanto antes, melhor.”
O chanceler australiano, Bob Carr, afirmou que o “massacre de mais de 100 homens, mulheres e crianças em Houla é um crime hediondo e brutal”.
Os Estados Unidos, a França, a Grã-Bretanha, o Canadá, a Alemanha, a Itália, a Espanha, a Austrália, a Holanda e a Bulgária deram algumas horas ou dias para os diplomatas sírios deixarem as suas capitais, num movimento coordenado que reforçou o isolamento diplomático de Assad.
Alguns já haviam expulsado embaixadores ou reduzido os laços diplomáticos e, assim como os Estados Unidos, expulsado diplomatas de menor escalão.
A porta-voz do Departamento de Estado norte-americano Victoria Nuland chamou o ataque em Houla de “a mais inequívoca acusação até hoje” da recusa de Damasco em implementar as resoluções da ONU.
“Nós consideramos o governo sírio responsável por esse massacre de vidas inocentes”, disse ela.
O mediador internacional Kofi Annan, que está em Damasco para tentar salvar um plano de paz de seis semanas de duração que não conseguiu conter o derramamento de sangue na Síria, disse a Assad sobre a “grande preocupação da comunidade internacional com a violência na Síria”, especialmente em Houla, disse o seu porta-voz Ahmad Fawzi depois de duas horas de conversações em Damasco.
Mas o governo de Assad negou ter algo a ver com as mortes, ou até mesmo ter armas pesadas na área, apesar da evidência contrária encontrada por monitores da ONU.
O próprio Assad repetiu para Annan a frase da Síria de que os “grupos terroristas”, termo do governo para os rebeldes, intensificaram os assassinatos e os sequestros em todo o país.
Os países ocidentais que pediram para Assad renunciar esperam que os assassinatos em Houla coloquem a opinião global, notadamente a da Rússia, principal protector da Síria, mais próxima duma acção mais eficaz contra Damasco.
Carr disse que o charge d’affaires sírio em Canberra recebeu ordens para “transmitir uma mensagem clara para Damasco de que os australianos estão consternados por este massacre e vamos buscar uma resposta unificada internacional, para fazer os responsáveis pagarem”.
Granadas e rastros de tanques
Monitores da ONU encontraram granadas usadas e rastros recentes de tanques em Houla, provas do uso no local de armamento que os rebeldes sírios não têm no seu arsenal.
Mas o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU em Genebra disse que a maior parte dos 108 civis mortos principalmente em Houla tinha sido executada à queima-roupa.
A maioria havia sido baleada. Os sobreviventes disseram aos investigadores da ONU que os assassinos eram milicianos “shabbiha” (pró-Assad), que no passado agrediram e intimidaram focos de oposição ao presidente.
“O que está muito claro é que este foi um evento absolutamente abominável que aconteceu em Houla, e pelo menos uma parte substancial disso foi de execuções sumárias de civis, mulheres e crianças”, disse Rupert Colville, porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU em Genebra.
Ele disse que havia 49 crianças e 32 mulheres entre as vítimas. “Parece que famílias inteiras foram baleadas nas suas casas.”
O relatório contradiz uma carta aberta enviada pela Síria ao Conselho de Segurança da ONU, Segunda-feira, que disse: “Nem um único tanque entrou na região e o Exército sírio estava em situação de auto-defesa”.
“Os grupos terroristas armados… entraram com o propósito de matar e a melhor prova disso é a morte por facas, que é a assinatura de grupos terroristas que massacram de acordo com a maneira islâmica.”
Imagens de vídeo distribuídas por activistas da oposição ajudaram a agitar a opinião pública mundial de crescente indiferença a um conflito no qual mais de 10.000 foram mortos, a maioria partidários da oposição deles por forças de segurança.
Fontes da oposição disseram que os rebeldes mataram 20 soldados em confrontos violentos perto da fronteira com a Turquia, esta Terça-feira.
Elas disseram que seis civis e seis rebeldes, incluindo dois comandantes, também morreram nas últimas 24 horas em combates que começaram quando o Exército lançou uma ofensiva com tanques e helicópteros para retomar a região ao redor de Atareb.