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OBITUÁRIO: Tayeb Saleh 1929 – 2009 – 80 anos

OBITUÁRIO: Tayeb Saleh 1929 – 2009 – 80 anos

“Através da janela, vejo no pátio a nossa velha palmeira de tronco robusto, arremessada, com as suas raízes mergulhando na gleba, com as folhas desleixadas nos ramos verdes inundando o cume. Penetrei numa profunda segurança. Assim não sou uma pena ao vento, mas criatura, semelhante a esta palmeira, de grande linhagem e de destino seguro.”

É nestes termos que é descrito o personagem principal de ‘Época de Migração para o Norte’, um dos grandes clássicos de ficção árabe do século XX. O livro conta a trajectória de Mustafa Said, um jovem que emigra para o Reino Unido onde vive durante sete anos até regressar ao Sudão. O seu autor, o sudanês Tayeb Saleh, faleceu no passado dia 17 de Fevereiro, em Londres, vítima de doença prolongada. Contava 80 anos.

Tayeb pode igualmente definir-se como uma “criatura de grande linhagem”, devido à sua obra literária que o coloca na linha dos grandes romancistas. Comparado com Tewfik El Harim ou com Naguib Mahtouz, Saleh é considerado o pai fundador da literatura árabe moderna. Nada, todavia, o fazia prevê. Nascido em 1928 em Karmakol, uma ladeia no norte do Sudão, filho e neto de camponeses, Saleh estudou agronomia na universidade de Cartum, antes de prosseguir os estudos em Inglaterra em 1952. A guerra civil que eclodiu no Sudão por altura da independência, em 1956, adiou-lhe o regresso. Ingressou então no serviço de língua árabe da BBC, tendo, mais tarde trabalhado na UNESCO em Paris e ainda como director-geral de informação no Qatar. Foi nesta fase que deu a sua grande produção literária, se bem que a sua obra se limite a quatro romances e a uma compilação de novelas, facto que não obsta que Saleh seja um escritor importante e representativo das inspirações africanas dos anos 60’ marcadas pelo fim do colonialismo e pela ascensão do nacionalismo. Saleh escrevia como sudanês, como alguém que veio ao mundo numa região de entroncamento entre o mundo árabe e o africano, mas também como migrante que era. É nestes vários mundos que vive também o personagem principal da sua obra de referência, ‘Época de Migração para o Norte’, dado à estampa em 1966. As diferenças culturais constituem, aliás, um dos temas recorrentes nos seus romances bem como alguns conflitos entre a realidade e a ilusão, a que não é alheia uma certa visão psicanalítica. As contradições e conflitualidade dos indivíduos, eles sós ou em confronto com os seus próximos, e perante os valores e a ética.

Da sua obra, traduzida em várias línguas, destacam-se os títulos: ‘Época de Migração para o Norte’, 1966; ‘O casamento de Zein’, 1969; ‘O Cipriota’, 1978; e ‘O árabe e o africano’.

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