Moçambique perdeu nesta terça-feira (21) provavelmente o seu maior humorista Chaguatica Dzero, que sempre pensou que iria viver da música. “Os políticos de hoje não têm senso de humor e sentem-se ofendidos com qualquer tipo de piada”, confidenciou ao @Verdade Chaguatica, Nelson Coutinho de Sousa de seu nome, que aos 59 anos de idade não resistiu a doença que o acometia a alguns anos.
Nascido a 21 de Janeiro de 1961 em Ribáuè, província de Nampula, Chaguatica cresceu entre Sofala e Manica despertou para o mundo das artes ainda cedo, quando frequentava uma escola primária na cidade de Chimoio. Mas foi aos 10 anos de idade que começou a dar os primeiros passos no universo da música no agrupamento Oliveira Muge. Iniciou- se a tocar bateria e, mais tarde, passou a dedilhar guitarra.
Ainda na infância, fez parte de pequenos grupos teatrais que se apresentavam em datas importantes como as de festas de Natal e do fim do ano. “Sempre fazia papéis cómicos nas peças teatrais. Numa das nossas apresentações, um professor prestou atenção à minha actuação e viu que tinha talento”, contou ao @Verdade em 2011.
Já adulto e com uma legião de admiradores o músico Nelson viu-se na desconfortável situação de reinventar a sua carreira porque “a música já não estava a dar”, visto que, por um lado, não havia instrumentos musicais e, por outro, as casas de pasto começaram a apostar nos DJ’s.
Entretanto veio à cidade de Maputo para gravar o disco que viu as portas do universo das piadas abrirem-se. Chaguatica aproveitou-se de uma pausa para, em cinco minutos, numa festa da Rádio Moçambique (RM), onde haviam sido convidados para apresentar as suas músicas, contar algumas anedotas. E o resultado: caiu na graça do público presente.
A fama nacional chegou com o “Riso Não Paga Imposto”, um programa da RM que começou por ter cinco minutos diários de duração, passou por trinta por semana e, depressa, chegou a uma hora semanal.
Confidenciou ao @Verdade que não lhe preocupava o controlo do tipo de anedotas que podia fazer, ainda por cima na rádio controlada pelo partido no poder, mas a falta de senso de humor dos governantes. “Os políticos de hoje não têm senso de humor e sentem-se ofendidos com qualquer tipo de piada. Antigamente, isto é, no governo de Chissano podia-se fazer graça com qualquer dirigente e ninguém se ofendia. Já apelidei o presidente Chissano de Mariazinha por várias vezes, hoje nem sequer se deve pensar em fazer uma coisa idêntica”.
“Há humoristas cujas piadas só têm graça quando os vemos. Eu, particularmente, nunca precisei de dar a cara para que as pessoas se riam das minhas piadas”, orgulhava-se Nelson de Sousa que deixa viúva e três filhos.