O presidente Barack Obama tem agora uma conquista política histórica para incluir em seu legado, ao ser o primeiro democrata a obter o sonho de uma cobertura de saúde que beneficiará quase todos os americanos. Mas o rancor gerado pela intensa batalha sobre o projeto de lei de reforma da Saúde, aprovado no domingo pela Câmara de Representantes, foi tamanho que o impacto sobre o futuro político de Obama e seus aliados democratas ainda não ficou claro.
Obama já tinha um lugar único na história dos Estados Unidos por ser o primeiro presidente negro e agora, com a vitória na reforma da saúde, a maior iniciativa social nos últimos 50 anos, coroou uma luta centenária dos democratas. Os democratas dirão que ele é o presidente mais reformista desde Lyndon Johnson (1963-1969), que obteve a aprovação da cobertura de saúde para os pobres e idosos, além da leis de direitos civis.
A vitória de domingo revigorou uma presidência que começou com expectativas estratosféricas e que recentemente se via confusa e atribulada, e permite a Obama argumentar que cumpriu a mudança que prometeu durante a campanha eleitoral. “É assim a cara da mudança”, disse um cansado, mas triunfante, Obama pouco depois da votação na noite de domingo. “Esta noite nós respondemos ao chamado da história como muitos americanos fizeram antes de nós … não tememos nosso futuro, nós o demos forma”. Alguns liberais argumentarão, no entanto, que a reforma não é suficientemente profunda, e alguns conservadores a considerarão uma iniciativa que eliminará empregos e permitirá que o governo se apodere de boa parte da economia, mas ninguém discute a importância.
“Acredito que vamos lembrar desta votação como algo histórico”, disse Dan Shea, professor de Ciências Políticas de Allegheny College, Pensilvânia. “Mudará a relação entre o cidadão e o governo, e o papel do governo na medicina”, completou sobre a reforma, que amplia a cobertura de saúde a 32 milhões de americanos que eram ignorados antes. Alguns acreditam que quando Obama promulgar a lei esta semana alcançará o ponto alto da presidência.
“Sem levar em consideração algum acontecimento maior, penso que este será provavelmente o momento mais importante de seu primeiro mandato, inclusive da presidência”, disse Costas Panagopoulos, cientista político da Universidade Fordham. Obama chegou ao poder com promessas de amplas reformas políticas e sociais, mas foi detido pela oposição republicana e a queda na popularidade.
A vitória política vai aumentar sua autoridade em Washington depois de insistir com a mudança. Mas alguns analistas acreditam que, além disso, também haverá um preço a pagar. A luta pela reforma da saúde deixou os Estados Unidos mais polarizado que quando Obama assumiu o poder em 20 de janeiro de 2009. A Casa Branca argumenta que assim que passar o furor gerado pela discussão, os americanos aceitarão a reforma da saúde. Mas os republicanos não esperam que isto aconteça. Eles acreditam que o mal-estar permita eliminar a maioria democrata nas legislativas de novembro.
“Esta votação e a aprovação deste projeto de lei não representam o fim do debate sobre a reforma da saúde. Será o principal tema das eleições legislativas de 2010”, afirma Panagopoulos. Marco Rubio, pré-candidato republicano ao Senado pela Flórida, disse logo após a votação que a reforma representa “todas as coisas que os americanos odeiam em nosso sistema político”. Mas a reforma, que não é tão ampla como gostariam os seguidores de Obama, pode de todas as formas estimular os eleitores democratas a participar da votação em novembro.