O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tentou romper décadas de desconfiança e animosidade com o Irão nesta sexta-feira ao enviar uma mensagem histórica diretamente ao povo do Irã, na qual defende uma resolução das divergências e o início de um relacionamiento “honesto”.
Obama se dirigiu de forma direta ao povo e aos líderes do Irão em uma surpreendente videomensagem, na qual também pede uma nova era de paz e associação entre as duas nações.
Naquele que é o discurso mais decisivo de política externa de seu curto mandato, o presidente afirmou que Washington está comprometido a buscar “laços construtivos” com a república islâmica e que Teerã deve ocupar um “espaço justo” no mundo se renunciar ao terror e abraçar a paz.
“O meu governo está comprometido agora com uma diplomacia que aborde todo o espectro de assuntos entre nós, e a buscar laços construtivos entre Estados Unidos, o Irão e a comunidade internacional”, declarou Obama em uma mensagem por ocasião do Nowruz, o ano novo persa.
“Por quase três décadas as relações entre nossas nações foram de atritos.
Porém, neste feriado recordamos a humanidade comum que nos une”.
Os dois países romperam relações diplomáticas em 1980 e estas permanecem interrompidas.
Ao pedir na celebração do Nowruz um tempo de “novos começos”, Obama afirmou que deseja “falar claramente aos líderes do Irão” sobre a necessidade de uma nova era de “relacionamento que seja honesto e baseado no respeito mútuo”.
Sem mencionar as acusações dos Estados Unidos sobre o suposto apoio do Irão a atividades terroristas ou o programa nuclear de Teerão, que para Washington tem fins militares, Obama disse que “os Estados Unidos querem que a república islâmica tenham seu merecido espaço na comunidade de nações”.
“Vocês têm este direito, mas ele vem com responsabilidades reais e não puede ser alcançado por meio do terror ou das armas, e sim por ações pacíficas que demonstrem a verdadeira grandeza do povo iraniano e sua civilização. E a medida desta grandeza é não a capacidade de destruir, é sua comprovada habilidade para construir e criar”.
A mensagem do presidente reconhece o Irão como um sócio potencial no momento de negociar, apesar de Obama ter se recusado a retirar a opção militar da mesa como forma de evitar que Teerão obtenha armas nucleares.
O Irão sempre afirmou que seu programa nuclear tem fins pacíficos.
As primeiras autoridades iranianas a reagir à mensagem de Obama destacaram que a mesma é positiva, mas pediram ações concretas.
Este foi o caso do ministro iraniano da Energia, Parviz Fattah.
“Evidentemente a mensagem é positiva”, afirmou Fattah durante o V Fórum Mundial da Água em Istambul (Turquia).
“Porém, além de palavras precisamos de atos”, acrescentou, antes de afirmar que os dirigentes iranianos analisarão a mensagem “com atenção”.
“Recebemos favoravelmente a vontade do presidente americano de deixar de lado as diferenças do passado, mas o meio para alcançar isto não é pedir ao Irã que esqueça unilateralmente a atitude agressiva dos Estados Unidos no passado”, declarou à AFP Ali Akbar Javanfekr, conselheiro de imprensa do presidente Mahmud Ahmadinejad.
“Os Estados Unidos devem reconhecer seus erros passados e repará-los para deixar de lado as diferenças entre os dois países”, acrescentou.
Ao buscar renovar a diplomacia com o Irão, o democrata cumpre um compromisso de campanha de dialogar com os adversários de Washington. No discurso de posse, em 20 de janeiro, ele prometeu estender a mão ao mundo muçulmano.
O presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad respondeu na ocasião que se Obama “fala de mudança”, deveria acabar com a presença militar dos Estados Unidos em todo o mundo”.
A Casa Branca informou que uma versão do vídeo com legendas em farsi foi distribuída aos canais da região. Uma versão na internet também terá legendas em inglês e em farsi.
A comunidade internacional reagiu bem à mensagem de Obama. “Acredito que é uma mensagem muito construtiva. Espero que o Irão preste atenção ao que disse o presidente Obama e espero que abra um novo capítulo nas relações com Teerã”, afirmou o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Javier Solana.