´Gbenga Sesan e Erik Charas, ambos graduados pelo African Leadership Institute, sob a égide de Tuto, estão a apoiar os jovens e pobres de África a serem donos da sua voz por meios próprios.
Quando a personagem protagonizada por Al Pacino pôs sentada a sua equipa de futebol no intervalo dum jogo decisivo, na parte final do filme “Um Domingo Qualquer”, ele descreveu a vida como sendo um “jogo de etapas”. Por outras palavras, é tudo uma questão de pequenos passos para a frente, não importa quais.
“Nós lutamos por esta etapa. Vamos lutar com unhas e dentes. Porque sabemos que quando acrescentamos essas etapas, tal fará a diferença entre ganhar e perder. Entre a vida e a morte”.
A determinação é um ingrediente activo num empresário convencional. Recuos, barreiras, questões embaraçosas e guardiões do poder encontram-se entre si e os seus milhões. Mas quando se trata de um empresário comprometido com causas sociais, a tentar construir mudanças positivas através do negócio, é preciso também ter em conta factores como pobreza, drogas, álcool, profissionais do sexo, doenças, saúde mental ou deficiências no seu plano de negócios. A sua determinação pode ser testada diariamente.
´Gbenga Sesan, um homem com um plano
Trimestralmente, `Gbenga Sesan, um empresário social a trabalhar na área mais pobre de Lagos (na Nigéria), senta-se e questiona-se em frente a um espelho. “O que é que tens feito de útil nestes três últimos meses, ´Gbenga? Em que é que falhaste? Como é que podes, doravante, melhorar? Como é que podes ajudar mais pessoas? Porque falhaste e o que te poderá fazer triunfar?”.
O ciclo de auto-avaliação continua de forma permanente. No término de cada grande projecto, no fim de cada trimestre, depois de cada recuo, ele tem estado a rever-se sem misericórdia nos últimos cinco anos.
Em 2007, Sesan foi indicado para participar num curso de liderança organizado pelo Instituto Africano de Liderança patrocinado por Desmond Tuto (o Arcebispo sul-africano Nobel da Paz pelo seu trabalho na luta contra o apartheid). Tendo viajado de avião para uma conferência num local retirado perto de Johanesburgo, Sesan juntou-se a jovens africanos de várias áreas de negócios, desde governamentais aos de desenvolvimento. Eles foram envolvidos em intensivas séries de seminários, discussões, palestras e exercícios em matérias de liderança.
Não decorreu muito tempo até que Sesan tivesse o seu momento de descoberta – no seu voo de volta a Lagos, ele rabiscou um esboço para a Ajegunle.org no verso da sua passagem aérea.
A Ajegunle.org está vocacionada para a criação de competências em tecnologia e comunicações nos jovens da Nigéria. O projecto apoia jovens de zonas suburbanas na obtenção de formação e emprego. O desemprego é o maior problema na Nigéria, com uma larga faixa de graduados sem hipótese de conseguir um posto de trabalho. Muitos deles vêm de comunidades desfavorecidas e são atraídos para o submundo do cibercrime e de pequenos roubos.
O programa de emprego e formação de Sesan visa estes desempregados, que são indivíduos com muita capacidade e habilidade. Ele desenvolve as suas competências no tocante a Tecnologias de Informação, habilidades empresariais e de comunicação, e coloca-os em estágios e em empregos locais, ou ajuda-os a iniciar e a desenvolver os seus pequenos negócios. Desde 2007, o seu trabalho já apoiou mais de 13.000 jovens nigerianos.
Qualquer um deles tem a agradecer o ritual de auto-avaliação de Sesan. Certamente que isso lhes dá determinação. Tem inspirado o seu programa a crescer a um alto patamar, e demonstrou o potencial para transformar a vida das pessoas que ele abrange directamente, mas também outros empresários sociais no país, no continente e no mundo.
Erik Charas, levando a verdade ao povo
Erik Charas, de Moçambique, foi um dos empresários presentes no programa do Instituto Africano de Liderança. Recordando os primeiros dias do curso, ele disse ao Think Africa Press: “É estimulante, porque o indivíduo tem na sua mente a indicação por Tuto, e isso representa uma grande realização. Ele é um africano que inspira respeito, e enfrentou um sistema governamental opressivo com recurso apenas a palavras”.
Como Tuto, Charas encontra-se no negócio do emprego de palavras para desafiar o sistema. Na sua terra natal Moçambique, o governo desde sempre controlou a imprensa escrita. Apenas 15% da população tinham acesso à electricidade ou Internet. Isto limitou drasticamente a sua capacidade de se informar, de compreender e, finalmente, de criticar o seu governo.
Reconhecendo este problema, Charas criou o primeiro jornal impresso gratuito distribuído em áreas socioeconomicamente carentes. O jornal, designado Verdade, não é entregue a indivíduos da classe média, a quem se recomenda a edição gratuita online. Esta distinção é importante uma vez que o custo de um jornal impresso pode corresponder ao custo de oito pães em Moçambique e, com vista a garantir uma mais abrangente distribuição e cobertura das áreas desfavorecidas, é importante dar-se prioridade àqueles que não têm capacidade financeira para comprá-lo.
Tradicionalmente, os moçambicanos pobres desconfiavam, instintivamente, dos jornais impressos considerando-os propaganda do governo. Charas e a sua equipa quiseram desafiar a hierarquia convencional de distribuição de informação e notícias. A direcção editorial foi retirada das mãos dos editores de jornais e entregue aos cidadãos.
Reportagens podem ser sugeridas por carta, telefone, redes sociais, email ou SMS. Conforme os factos e as informações são confirmadas ou não, o jornal actualiza no website e o que vai ser impresso no jornal. Com efeito, eles instalaram um quadro preto na parede exterior do seu escritório, permitindo às pessoas que exijam respostas aos seus artigos.
Presentemente a imprensa escrita tornou-se um instrumento de confiança para disseminar notícias fiáveis acerca de factos que ocorrem em Moçambique. Reparos e pontos de vista opostos são colhidos através dos canais de contacto com os leitores e engenhosamente redistribuídos com comentários da sua página do Facebook impressos no jornal, e as opiniões escritas no quadro de parede fotografados e partilhados no Twitter. As reacções são vastas, activas e transparentes.
O efeito é bastante significativo. Os pobres em Moçambique são capazes não somente de se educar a si mesmos nos seus afazeres quotidianos, assim como os níveis de literacia têm melhorado de modo mensurável, se calhar tendo em conta, felizmente, o facto de os leitores terem a oportunidade de praticar as suas competências linguísticas por um período curto no seu quotidiano.
Os designados “Mensageiros da Verdade” que distribuem o jornal pelas áreas pobres de Moçambique são muito bem organizados e discriminatórios. Eles dividiram o país em zonas postais e mantêm um registo detalhado das condições de vida e das desigualdades sociais de modo a, cuidadosamente, atingir o grupo-alvo com base no seu estrato social.
Ao lançar a propriedade do jornal para os leitores pobres em Moçambique, Charas assumiu uma lição de Tuto que se tornou uma orientação no seu trabalho.
“Humildemente, foi a maior lição que aprendi no curso de liderança”, disse. “Nós somos africanos sem distinção. Eu não sei se sou preto ou branco. Eu pinto o meu cabelo de loiro. Falo três línguas. Mas eu sei que sou africano. Nós todos somos o mesmo”.
“Mas devemos todos assumir também que temos um lugar no mundo. Não devemos ter inveja das terras dos outros. Eu sei que o meu cargo neste jornal não é de gestão nem de recomendação sobre o que os repórteres têm de escrever. Sei que o meu papel é distribui-lo e isso é tudo. Sou humilde e sei de que eles são melhores que eu em algumas áreas”.