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O Mistério – Katoucha

Júlia Cebola: a condutora de máquinas pesadas

Afogamento acidental ou homicídio? Hoje, um ano após a descoberta do corpo da ex-top-model de origem guineense sob uma ponte de Paris, as zonas sombrias à volta da sua morte permanecem.

As águas lamacentas do Sena conservam os seus segredos. Um ano após a descoberta do cadáver de Katoucha, junto à ponte Garigliano, em Paris, as circunstâncias do seu afogamento continuam a alimentar fantasmas. E o processo judicial.

No entanto, as primeiras conclusões da polícia pareciam claras: morte acidental por afogamento. Foi na noite de 31 de Janeiro ou já na madrugada de 1 de Fevereiro de 2008, não se sabe ao certo, que o já singular destino da ex-rainha dos pódios da moda, ícone da “black attitude” e eleita de Yves Saint Laurent, desapareceu sem deixar rasto. Depois de um jantar bem regado no conceituado restaurante do hotel Costes, Katoucha fez-se acompanhar de um amigo até junto da plataforma do ‘Petite Vitesse’, o confortável barco-casa do seu companheiro, o artista Laurent-Victor Cotte, amarado junto à Ponte Alexandre III. Eram cerca de duas horas da manhã, fazia frio e chovia. Foi a última vez que Katoucha foi vista com vida.

Um mês de espera

Volvidos três dias, após terem deixado dezenas de mensagens no seu telemóvel enfiado no fundo da carteira encontrada na plataforma do barco-casa, os seus próximos deram o alerta. A sua amiga Cécile Barry foi das primeiras pessoas a dar conta do seu desaparecimento, avisando a polícia que imediatamente tomou o caso em mãos. Mas, seria necessário esperar até ao dia 28 de Fevereiro, ou seja cerca de um mês, para que o corpo da jovem modelo fosse encontrado no rio Sena, para lá da ponte Garigliano. Sob a direcção do médico Dominique Lecomte, director do instituto médico-legal, a autópsia foi conclusiva: “Submersão rápida sem resquícios de violência física ou sexual”, “elevada taxa de alcoolemia”, “ausência de substâncias toxicológicas.” Esta última despistagem teve particular importância, uma vez que Katoucha era uma habitual consumidora de drogas, gosto que lhe valeu o epíteto de “Dope Model.”

“Para mim, estou convicto de que se tratou de um acidente. Antes da tragédia, ela já havia caído de um destes barco-casa ao Sena, mas acabou por ser socorrida. Agora caiu uma segunda vez”, explica Célile Barry, que “exclui formalmente” a hipótese de suicídio.

Contudo, a tese de afogamento acidental é totalmente rejeitada pelo pai da modelo, o muito respeitado historiador guineense Djibril Tamsir Niane que, em Março de 2008, apelou à intervenção do ex-chefe da diplomacia francesa Roland Dumas. Este, imediatamente, apresentou uma queixa afirmando que se tratou de um crime. O processo foi confiado ao juiz de instrução Gérard Caddéo.

“O que me pareceu suspeito quando fui à morgue para identificar o cadáver, foi o estado do rosto, que estava quase intacto”, explicou Niane. E acrescenta: “Perguntei então ao médico se era possível que um corpo submerso durante quatro semanas no rio estivesse em tão bom estado. Respondeu-me que nunca tinha visto nada assim em toda a sua carreira. Foi a partir desse momento que fiquei com a convicção de que não se tratava de afogamento.”

Tráfico de Estupefacientes

Acidente? Assassinato? Por agora ninguém pode afirmar nada com segurança. O processo judicial parece não ter levado muito em conta as suspeitas da família. Enquanto “as portas se fecham”, segundo a expressão utilizada pela própria polícia, levantam-se numerosas suspeitas acerca desta borboleta da noite com uma vida dupla.

Um assassinato ligado ao universo da droga? Grande consumidora, nomeadamente de cocaína, a ex-manequim havia feito uma estadia nas prisões senegalesas, em 1996, acusada de tráfico e posse de droga. Dois anos antes, o russo Serguei Mazarov, pessoa próxima das suas relações, foi morto crivado de balas, naquilo que pareceu ser um ajuste de contas entre narcotraficantes.

Esta pista, susceptível de ser aprofundada nos meios nocturnos parisienses, poderia igualmente passar pelo Senegal, o segundo país de adopção de Katoucha. A transbordar de projectos, a “Princesa” era conhecida pelo seu empenhamento contra a prática de excisão, da qual ela também foi vítima quando tinha nove anos de idade. Inclusivamente, montou uma academia de alta-costura em Dacar, sonhando fazer da capital senegalesa uma encruzilhada internacional da moda. Com Laurent-Victor Cotte, ela havia igualmente aberto um restaurante, o Montecristo na estrada das Almadies, em Dacar.

Dizia-se que o negócio do restaurante servia sobretudo para lavagem de dinheiro. O seu pai afirma que ultimamente Katoucha estava numa fase de reaproximação a Pierre Demettre, um dos sócios, de conduta duvidosa. As ameaças poderiam ter sido proferidas no último encontro. O seu companheiro, que parece ter também desempenhado um papel decisivo na gestão deste negócio, poderá ser levado a dar explicações à justiça.

Os amantes de intrigas policiais estarão igualmente interessados em saber que o antigo proprietário do Montecristo é o actual dono de uma das discotecas mais frequentadas do bairro das Almadies, em Dacar.

Acidente ou homicídio? O juiz Caddéo terá ainda trabalho para convencer os pais e os seus três filhos que a bela Katoucha morreu queimada pelo fogo das noites.

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