“Milagre” é a forma que muitos encontram para explicar a entrega do Estádio Nacional do Zimpeto ou mesmo o facto de ter sido concluído. Encaixado numa zona de Maputo onde vai nascer a Vila Olímpica, o Estádio foi objecto de uma novela entre o empreiteiro chinês e o Governo Moçambicano.
Após a designação da África do Sul para acolher o Mundial de futebol 2010, enquanto o Governo sul-africano começou a trabalhar afincadamente, um coro de entusiastas em Moçambique levantou-se e prometeu um estádio para tirar proveito da competição. Mas como palavras não erguem empreendimentos, o primeiro Mundial de África acabou sem Moçambique poder apresentar o seu estádio. O país lançou a primeira pedra em Abril de 2008 e a construção do empreendimento teve início em Novembro de 2009.
Greves e adiamentos
O processo da construção conheceu uma série de greves por parte dos trabalhadores moçambicanos que, entre outras coisas, reivindicavam um suplemento salarial de 20 porcento. Por essa altura, já se disputava o primeiro Mundial africano e a conclusão do estádio ganhava uma nova data: 11 de Dezembro de 2010.
No dia previsto, o Ministério da Juventude e Desportos, Pedrito Caetano, convocou a imprensa para o acto de entrega. Na manhã do dia 11 de Dezembro, em vez de os moçambicanos receberem o estádio aconteceu uma desfeita inédita: o embaixador chinês e o empreiteiro não apareceram e o ministro socorreu-se de uma desculpa lacónica. “Tudo fica a dever-se ao facto de existirem alguns aspectos não previstos que não condicionámos na altura em que estávamos a trabalhar que levaram a cerimónia a não ser realizada, mas logo que nós tivermos decidido pela próxima data iremos comunicar”, referiu.
Entrega
O Governo da China entregou formalmente a Moçambique o Estádio Nacional, situado nos arredores de Maputo, que passa a ser a maior infra-estrutura desportiva do país, com capacidade para 42 mil pessoas.
O Estádio Nacional ocupa cerca de 42 mil metros quadrados, possui um campo de relva natural e uma pista de atletismo com piso sintético. Dez mil dos 42 mil lugares disponíveis no recinto estão localizados numa bancada coberta, a única, que alberga igualmente a tribuna VIP e espaços para serviços de restauração e para a comunicação social.
A infra-estrutura demorou dois anos e três meses a construir, tendo custado 70 milhões de dólares financiados pelo Governo da China, que se encarregou igualmente da empreitada, através de uma empresa do país.
O novo estádio supera em capacidade e estruturas o Estádio da Machava, ex-Oliveira Salazar, construído no tempo colonial para acolher 35 mil espectadores.
Para assinalar a passagem do Estádio Nacional para as mãos Governo moçambicano, proprietário do recinto, o embaixador chinês em Maputo, Wuang Songfu, entregou ao vice-ministro moçambicano da Juventude e Desportos, Carlos de Sousa, uma chave de plástico de pouco mais de 30 centímetros e um termo de entrega.
“É um dia especial para a China e para Moçambique. Este estádio é mais um símbolo da amizade entre os governos dos dois países e entre os dois povos”, referiu Wuang Songfu.
Na ocasião, o vice-ministro moçambicano da Juventude e Desportos apontou a infra – estrutura como o resultado de um novo momento das relações entre os dois Estados, iniciado com o actual ´período de galvanização´ da cooperação entre a China com Moçambique, em particular, e com África, no geral”.
Gestão
O Fundo de Promoção Desportiva (FPD) vai gerir, a título provisório, o Estádio Nacional do Zimpeto. Paralelamente, o Ministério da Juventude e Desportos encetará acções para determinar o melhor modelo para a gestão do mesmo.
Carlos de Sousa prestou esta informação à imprensa na cerimónia de entrega do Estádio Nacional ao Governo moçambicano pelo empreiteiro chinês.
A implantação de um sistema de gestão e manutenção daquele empreendimento, assim como um mecanismo que garanta a rentabilidade nos planos desportivo, cultural, turístico e económico são alguns dos desafios que se impõem ao país. Mas, diz, no que se refere ao processo de gestão provisória o Governo delegou tal tarefa ao FPD.
O que falta
O estádio, visto de dentro, é perfeito. Mas essa ilusão de óptica esconde o muito que há por construir ou concluir. Por exemplo, as vias de acesso, o sistema de saneamento de águas pluviais e de tratamento das residuais, e a arborização da zona reservada ao parqueamento das viaturas ainda não são uma realidade.
A par disso, para o estádio ficar efectivamente concluído, a terminal de transportes semicolectivos de passageiros e o mercado grossista do Zimpeto devem ser transferidos.