Em “Equilibrium”, a exposição que marca a sua estreia no mundo das artes plásticas, o jovem artista moçambicano, Luís Jussa, leva-nos a uma viagem ao universo “Pop Art”, transportando, ao estilo “Readymade”, elementos do quotidiano de uma sociedade. E fá-lo com surpresa, pois ele explora as ambiguidades e não deixa ninguém indiferente.
Quando estamos diante de algumas das 27 obras que compõem a exposição “Equilibrium”, a sensação é de “déjà vu”, até porque o artista transporta elementos de vida quotidiana para um mundo imaginário no qual a ideia, o tempo e o espaço parecem eternos.
Mas a mostra é mais do que uma soma de obras de artes, aliás, reconhece-se nelas a liberdade expressiva de um artista plástico que não se prende às fórmulas comuns e às infl uências. Luís Jussa faz um equilíbrio entre a imaginação e a realidade.
“Tentei arranjar uma forma um pouco exótica, meio artística que soasse a grego. Denominei ‘Equilibrium’ porque tento buscar formas diferentes de fazer arte, uma mistura entre a pintura e a arte Pop que consiste em processar imagens. Portanto, tentei buscar um equilíbrio entre essas diferentes formas de pintar”, comenta.
Embora em algumas ocasiões se tenha a sensação de que o artista deambula por dentro e por fora das ambiguidades, Jussa não se limitou à mera exploração de elementos de vida de uma sociedade.
Pelo contrário, ele procura transmitir diferentes mensagens, uma das quais é mostrar que é possível fazer arte com diferentes materiais, desde os CD’s inutilizados, passando por troncos de árvores até uma simples cartolina.
“Em suma, tudo o que o ser humano faz é arte:cozinhar, dançar, dar aulas, etc. Por esse motivo, nesta exposição trago alguns materiais para mostrar às pessoas que a arte é muito mais do que as pessoas imaginam”, diz Jussa.
Num total de 27 obras, todas produzidas por ele desde 2004, Luís Jussa conta diversas histórias que se entrelaçam numa exposição sem precedentes num equilíbrio assaz peculiar apelando à meditação dos amantes da pintura “Readymade e Pop Art”.
O jovem utiliza alguns materiais pouco explorados – e também pouco conhecidos – por outros artistas plásticos, como é o caso de “corex”, que lhe permitiu, em pouco tempo, conseguir os resultados que esperava. Trabalha com “abs”, “ artela”, cartão e madeiras.
O artista Luís Jussa nasceu a 2o de Maio de 1980, na cidade de Maputo. Fez o ensino básico na Escola Casa de Educação da Munhuana, frequentou a 6ª e a 7ª classes na Escola da Malhangalene, a 8ª, 9ª e 10ª na Escola Secundária Josina Machel, tendo-se candidatado depois à admissão na Escola de Artes Visuais.
Frequentou a Escola de Artes durante cincos e depois fez o curso de Desenho Gráfi co e, de seguida, começou a trabalhar na área de formação.
A paixão pela arte começa desde muito cedo. Quando contava com 12 anos de idade, já demonstrava amor à pintura, fazendo alguns desenhos no chão. “Uma vez, algo que me marcou, foi um desenho que fi z no chão e a minha irmã mais velha gostou bastante. E desde aquele instante comecei a interessar-me pelo desenho até ingressar na Escola de Artes Visuais”, conta.
O amor pela arte sempre se manifestou no seu dia-a-dia. Quando frequentava a Escola Secundária Josina Machel, nos recreios, Jussa gostava de passar o tempo fazendo desenhos, de tal sorte que o professor de Desenho Técnico viu que ele tinha um potencial. “Ele sugeriu-me que seguisse algo ligado ao desenho porque julgava que eu tinha destreza para as artes”.
Logo após ter concluído a 10ª classe, Luís Jussa optou por seguir o conselho do seu professor, candidatando-se aos exames de admissão na Escola de Artes Visuais e, hoje, orgulha-se da escolha que fez. Aliás, a decisão de entrar numa escola de artes tomou-a sozinho, embora a mãe perspectivasse um curso diferente para o seu filho. “A minha mãe apoiou-me sempre. Portanto, em nenhum momento ela esteve contra a minha decisão”, afi rma.
Depois de concluir o curso na Escola de Artes Visuais, ainda que depois tenha feito o curso de Design Gráfi co, Jussa nunca deixou de desenhar. Desde que começou a trabalhar como desenhador gráfi co, em 2004, nos tempos livres, fazia alguns desenhos e guardava- os.
Mais tarde, o artista deu conta de que já possuía um número considerável de quadros e teve a ideia de dar a conhecer ao público, nascendo, assim, a sua primeira exposição individual “Equilibrium”.
“Não é fácil expor obras, porque o banco dificilmente te dá dinheiro. Aliás, apenas concede-te o espaço, o cocktail e convida a imprensa. Mas naquilo que tem a ver com o teu trabalho eles não patrocinam.
Portanto, trabalhar assim não é fácil”, comenta e acrescenta: “Felizmente, eu consegui porque sou trabalhador. Ia tirando uma parte do meu salário e comprando algum material. Mas viver pura e simplesmente da arte é muito difícil. Fiz todos os quadros com o meu dinheiro”.
A exposição levou muitos anos a ser concebida. “O tempo que levei para produzir os quadros não posso precisar. Porque há uma coisa engraçada em arte: a pessoa pode ter uma ideia durante um ano, mas conceber o trabalho em apenas 45 minutos”, afi rma Luís Jussa.
O artista plástico, de 31 anos de idade, já está a pensar na segunda exposição, que poderá ser lançada provavelmente em Dezembro.