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Livros: um luxo para poucos bolsos

Livros: um luxo para poucos bolsos

O preço do livro praticado em Moçambique inibe os leitores de adquiri-los. Nem mesmo com as feiras a situação muda de fi gura. Os descontos praticados são, muitas vezes, insignificantes. Aliás, o preço de algumas obras, tanto de literatura assim como didácticas, chega, muitas vezes, a ultrapassar o salário mínimo. As editoras e livrarias justificam-se alegando que tal se deve aos altos custos de produção e importação.

A situação do elevado custo dos livros é geral, aliás, adquirir uma obra de um autor nacional ou internacional em algumas livrarias em Moçambique pode não ser uma experiência agradável quando se tem como referência países como Brasil e Portugal, além de se ter em conta o poder de compra do consumidor moçambicano.

Ou seja, os preços de livros praticados a nível nacional são considerados na sua maioria um obstáculo para a leitura, pois, quando comparados com os praticados noutros países, constata-se que as obras são muito caras para a maioria da população moçambicana.

Tendo como mote “os preços de livros em Moçambique”, analisámos os custos de obras de autores moçambicanos e também estrangeiros no mercado nacional, português e brasileiro. Aliás, quando colocamos na balança as tabelas de preços de livros praticadas nos três países, Moçambique aparece como o país onde custa mais caro adquirir um livro, embora haja excepções.

Esta situação deve-se, por um lado, ao facto de Moçambique possuir um mercado mais pequeno que outros países como Portugal ou Brasil, e, por outro, devido ao baixo poder de compra dos moçambicanos, e não só. Também a falta de cultura de leitura e o custo de produção e importação das obras são apontadas como as principais razões desta realidade.

A título de exemplo, a obra “Venenos de Deus e Remédios do Diabo”, do escritor moçambicano Mia Couto custa 20 reais (cerca de 400 meticais) no Brasil e 11 euros (cerca de 500 meticais) em Portugal contra aproximadamente 800 meticais praticados em Moçambique. A mesma situação verifica-se com os títulos de outros escritores moçambicanos tais como José Craveirinha, Paulina Chiziane, Nelson Saúte, entre outros, cujas obras custam em torno de mais 150 a 250 meticais no país do que além-fronteiras.

De referir que os livros da autoria de Ungulani Baka Khossa, Ana Mafalda Leite, Calane da Silva e Marcelo Panguana publicados pela Alcance Editores custam menos em Moçambique do que em Portugal e Brasil. Os preços variam entre 400 e 500 meticais, aproximadamente menos 500 meticais do que naqueles países. Por exemplo, a antologia poética “NUDOS”, de Eduardo White, é vendida por 30 euros (1360 meticais) no estrangeiro contra os 600 meticais no mercado nacional.

Os livros técnico-profissionais e/ou didácticos não fogem à regra. Na sua maioria, contam com preços demasiado elevados. Nesta secção, a obra mais barata custa cerca de 1200 meticais, aliás, existem outros pequenos títulos cujos preços variam de 300 a 500 meticais.

Na literatura internacional, a situação também é a mesma, ou seja, por exemplo, as obras de escritores como Dan Brown e Paulo Coelho são comercializadas, em Moçambique, a partir de 1500 e 760 meticais, respectivamente. Os livros daqueles autores podem ser adquiridos no Brasil ou em Portugal ao preço de 900 e 350 meticais.

Serão as feiras de livros uma solução?

Quando o assunto é feiras de livros, as imagens que nos vêm à cabeça são de aquisição de obras a preços acessíveis. Porém, ao contrário do que acontece noutros países, geralmente os preços praticados nas feiras de livros promovidas, por exemplo, a nível da cidade de Maputo, não são nada convidativos.

Durante os certames, que se pretende sejam eventos onde os livros estejam acessíveis a qualquer leitor, constata-se o inverso, uma vez que as obras continuam a ostentar preços proibitivos. Os descontos, esses, não chegam a ultrapassar os 10 porcento.

Para os leitores ouvidos pelo @Verdade, os preços praticados pelas livrarias e editoras nas feiras “não incentivam ninguém a ler”, ou seja, as mesmas não cumprem o papel de promoção da leitura, uma vez que o seu custo não difere do das livrarias tradicionais.

“Baixar o preço de livros não é só fazer com que os leitores encham as suas estantes com novos autores, mas também é incentivar a leitura”, comenta Marcelo Boaventura que se encontrava a apreciar livros expostos na feira da Livraria Minerva.

“Se se pretende que haja mais moçambicanos a visitarem as feiras e fazer com que as pessoas pouco dadas à leitura comecem a procurar livros e a gastarem algum dinheiro é necessário aumentar os descontos”, acrescenta.

O livro constitui uma fonte de conhecimento de valores, de saberes, do sentido estético e do imaginário da Humanidade, além de uma janela para a diversidade das culturas e ponte entre as civilizações.

“Os preços dos livros estão bastante altos e penso que as feiras deveriam ser uma oportunidade para as pessoas poderem adquiri-los a preços acessíveis”, diz Belarmina Munguambe, estudante, que acrescenta lamentando: “mas infelizmente não é isso que se tem verificado”.

Paulo Abdul defende que nas feiras os preços de livros deveriam baixar para metade. “Normalmente, os descontos não passam de cinco a 10 porcento, o que não deixa de ser um obstáculo à leitura”, comenta.

O elevado preço dos livros, segundo o leitor Osvaldo Paunde, constitui “um dos principais obstáculos à cultura”, uma vez que as pessoas, devido ao elevado custo de vida, tendem a optar por bens de consumo básicos em detrimento do hábito da leitura. “É um bocado absurdo pagar por um livro mais de 600 ou 1000 meticais nestes momentos de crise, embora seja um investimento importante”.

O escritor Eduardo White é da opinião de que se os livros fossem mais baratos, o nível de desinteresse pela leitura e, sobretudo, de analfabetismo, não seria tão grande como se tem vindo a constatar. “Os moçambicanos não têm o hábito de leitura. Poucos compram um livro.

Não por falta de vontade, mas porque os livros são demasiado caros. É necessário que o Ministério da Cultura e também de Educação comecem a pensar em formas simples de proporcionar livros acessíveis aos moçambicanos. Aliás, o Governo também devia subsidiar o livro”, afirma.

Dentre as livraria e editoras que têm vindo a promover feiras de livros destacam-se a Livraria Minerva Central e a Alcance Editores. A Alcance Editores tem estado a promover tais certames em todo o país.

Na cidade de Maputo, vem realizando semanalmente duas a três feiras nas escolas e universidades, uma estratégia definida no início da actividade no mercado nacional de modo a tornar os livros acessíveis aos leitores.

“Tentamos fazer com que as pessoas tenham o gosto pela leitura. Fazer feiras contribui para cativar o público, uma vez que fazemos preços promocionais”, diz Sérgio Pereira, director comercial da editora. Geralmente, os descontos são a partir de 10 a 30 porcento.

Há sensivelmente um mês, a Livraria Minerva Central promove uma Feira de Livros alusiva à comemoração de mais um aniversário de existência daquela que é uma das mais antigas livrarias do país. Os descontos variam de 10 a 30 porcento e, nos fins-de-semana, chegam aos 50 porcento.

A culpa não é das livrarias nem das editoras

A maior parte dos livros vendidos em Moçambique é importada de países como Brasil e Portugal, o que faz com que os livros custem mais caro no mercado nacional. “Os livros são extremamente caros e a culpa não é das livrarias e nem das editoras. Grande parte de livros que nós vendemos é importada”, diz Vítor Gonçalves, director da Minerva Central.

Para o nosso interlocutor, esta situação só se pode reverter incrementado a produção e a edição nacional. “Enquanto dependermos do mercado estrangeiro, os livros continuarão caros. Mas a Minerva aposta na produção literária nacional, uma vez que temos a nossa própria oficina gráfica que nos permite vender os livros mais barato, pois não pagamos a mão-de-obra”.

O custo do transporte – 30 euros por quilo -, somado ao do desalfandegamento, torna os livros mais caros. “Ao imprimirmos o livro em Portugal, para o mercado local, poupamos no custo de transporte e desalfandegamento. Enquanto para o mercado moçambicano esses custos têm de ser previstos. Aliás, isso é que faz com que os livros fiquem mais caros no nosso país”, exclarece Sérgio Pereira.

Dada a qualidade de impressão que existe no país, a Alcance Editores opta por editar os livros em Portugal. “ Não só pela qualidade, mas também pelo preço. Sai-nos caro – e a qualidade não compensa – imprimir aqui no país e, por isso, optamos por fazê-lo fora”, diz Pereira.

Refira-se que editar uma obra com 1000 exemplares em Moçambique custa em torno de 300 a 400 mil meticais e, muitas vezes, as editoras não conseguem obter um retorno significativo.

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