“A música não é para ser pensada é para ser sentida”, palavras de Carlos Serra e se o sociológo tiver razão, as letras do autor de “Run and tell your Mother”, Simba, pelo menos em Moçambique, pertencem a essa dimensão da música que se esgota nos sentidos. Simba, apesar de ser moçambicano expressa-se em inglês, um idioma, no qual o grosso dos moçambicanos são “inocentes”. Mas, porque a música é para ser sentida, Simba acredita que a mensagem ultrapassa os arames da língua. O autor dos êxitos “Glorious Food” e “Lovely Day”, disse, em entrevista ao @ Verdade que é, sem dúvidas, o embaixador do Hip Hop moçambicano na África do Sul: “Sou o único rapper que está a representar o país na África do Sul”.
Quem é SIMBASou um jovem de 28 anos de idade, sou compositor, poeta, rapper e produtor de vídeo e audio. O meu sonho era ser advogado como a minha mãe, mas desisti de fazer o curso de Direito porque ví oportunidades melhor na música. Sou proprietário da Brown Records, uma empresa que opera no ramo da produção discográfi ca, que está sediada na África do Sul. Sou de uma família de músicos, meu avô materno, Moisês da Conceição, foi um dos compositores da famosa marrabenta “Elisa Gomara saia”, a maior parte dos meus tios que já faleceram eram músicos, os meus primos Mega Júnior, Deusa Poética e Deodato Siquir, como sabe, são cantores, por isso cresci num ambiente de música. |
Depois de ter lançado o single “Glorious Food” em 2001, aparentemente, desligou-se da música. O que aconteceu?
Desliguei-me sim da música moçambicana, porque a Vidisco, que era a única editora na altura, obrigava os músicos a cantar “passada”. Ignorei muitas oportunidades de lançar o meu primeiro álbum poque não queria misturar o “rap” com a “passada”. Daí fui aprendendo como era fazer música neste país.
Como é que foi produzir o “Run and tell your Mother” e com que parcerias contou?
Não foi fácil, o disco foi gravado em Moçambique e na África do Sul e juntou alguns nomes sonantes da arena musical, como é o caso de XL, Samito, Orlando Venhereque, Lizha James e o produtor Iko, que produziu o álbum, excepto a música “Lovely Day”, produzida por mim. O álbum tem 13 temas cantados em Inglês, Changana e Português em alguns temas. O disco teve uma produção muito rigorosa e só a preparação do video “Lovely Day” levou cerca de sete meses. Penso que é um trabalho de qualidade internacional, apesar de ser uma produção independente, como também é o primeiro produto da minha empresa discográfi ca.
“Run and tell your Mother” teve uma receptividade signifi cativa por parte do público?
O retorno foi muito positivo, porque o trabalho foi lançado numa altura em que este estilo estava a enraizar-se no país, embora tenha sido mais consumido na África do Sul, onde cheguei a ser distinguido pela revista “HYPE” na categoria de Melhor Verso. A revista moçambicana “Túnel” também me distinguiu como um dos melhores rappers. Quando fi z o álbum não esperava que pudesse vender tanto. Não entreguei o disco a nehuma editora, estou a fazer uma distribuição personalizada, como forma de garantir que o trabalho chegue ao consumidor com a qualidade desejada.
Quando é que entra na música e porque decidiu enveredar pelo Rap em Inglês?
Devo dizer que para um grande sucesso é preciso primeiro imitar alguém, e comigo foi assim, imitava artistas negros americanos que apareciam na televisão. Entro no Hip Hop por volta de 1995, criando um grupo de jovens que na altura já “repavam”, como Arsen, Flash, Doppaz, Tuta Fax, Bang e Lizha. Assim formámos a Broxen, que era nos tempos o grupo com os melhores Mc´s da praça. Foi um grupo de jovens muito ambiciosos, no bom sentido da palavra, que teve a oportunidade de aparecer através do primeiro álbum do Arsen. Daí foram saindo mais trabalhos, até que em 2001 chegou a minha vez, com o single “Glorious Food”. Não aprendi a falar Inglês na escola. Os meus pais viajavam muito para a Europa e América e eu fi cava com o meu irmão mais velho, o nosso principal passatempo eram os desenhos animados e fi lmes sem legenda que meu pai trazia das viagens. Nós imitávamos todos os dias o que ouvíamos nos fi lmes e nos desenhos animados e repetíamos sempre aquelas palavras em inglês, daí começou o interesse por esta língua. Hoje sou um dos MC´s moçambicanos que mais se impõem, apesar de cantar em Inglês. Expresso-me melhor nessa língua e penso, que acima de tudo, é um dom que Deus me deu.
Quando é que prevê lançar o seu segundo disco?
Neste momento não estou muito preocupado em colocar o segundo disco no mercado, quero que as pessoas consumam o álbum na íntegra, não apenas uma ou duas músicas por serem as mais conhecidas. Só depois de as pessoas se cansarem do disco e começarem a reclamar, é que vou lançar o segundo, porque o disco foi concebido de forma a ser um companheiro para os amantes do rap. Quem é Simba? Quais foram os momentos mais altos da sua carreira? Foi muito emocionante ter sido convidado para actuar no Moçambique Jazz Festival, ao lado de grandes nomes da música internacional, foi um dos melhores shows que dei este ano. O facto de ter sido convidado para abrir o espectáculo do meu ídolo, o norte americano J Live, em Abril último na África do Sul, foi um marco importante para mim, porque no meio de grandes rappers sul africanos, eu moçambicano fui escolhido para abrir um show de tamanha envergadura, isso foi gratifi cante. Actualmente participo em grandes festivais e tenho dividido o palco com grandes nomes da música como Flax Ground e WFP. Por estas razões considero-me sem dúvida o embaixador do Hip Hop moçambicano na África do Sul.
Para Simba, o segredo para o sucesso na vida artística depende da maneira como é gerido o talento, porque muitos artistas querem ganhar dinheiro sem no entanto se preocuparem com a qualidade do seu trabalho. Actualmente o rapper divide-se entre Moçambique e África do Sul, onde tem já uma empresa de produção e distribuição de música, a Brawn Records.