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O “defensor” das florestas de Mocuba

O “defensor” das florestas de Mocuba

Nos últimos tempos, fiscalizar espécies florestais no distrito de Mocuba, província da Zambézia, transformou-se numa profi ssão que exige coragem. Porém, existem fiscais que arriscam a sua vida para desmantelar redes de madeireiros furtivos. Eusébio Figredo, de 46 anos de idade, é o exemplo de agente do sector de Florestas e Fauna Bravia da Direção Provincial da Agricultura que luta para travar a onda de exploração ilegal da madeira. Com mais de 15 anos de carreira, ele já colocou fora de acção vários infractores e foi vítima de inúmeras ameaças de morte.

Diferentemente de outros funcionários, Eusébio Figredo nunca sonhou em fazer parte da equipa de fiscalização de espécies florestais, devido ao medo de ser alvo de ameaças de morte. Ele sempre quis tornar-se escritor. Com o tempo, o sonho foi desaparecendo, tendo nascido o amor pelas árvores.

O corte indiscriminado de árvores de grande valor económico fez com que Figredo mudasse de ideia, pois a cada dia que passava ouvia relatos da destruição da biodiversidade naquela circunscrição geográfica. Já com novas perspectivas de vida, Figredo passou a enfrentar inúmeras dificuldades no que diz respeito à materialização do sonho.

O obstáculo centrava-se na forma como integrar a equipa de fiscais de espécies florestais, uma vez que, na altura, ele trabalhava numa firma que se dedicava à produção de vestuário. Ele tentou juntar-se ao sector de Florestas e Fauna Bravia da Direcção Provincial da Agricultura da Zambézia, mas não teve sucesso. Insatisfeito, Figredo aproximou-se de um amigo que na altura integrava a equipa de fiscalização da exploração de toros, onde aprendeu como o processo era tramitado.

“Nunca sonhei em ser fiscal. Queria ser escritor, mas a falta de financiamento para o efeito afundou os meus projectos e, com o elevado índice de corte indiscriminado de árvores de grande valor, fui desenvolvendo afinidade com as espécies florestais. Portanto, fui atrás do meu novo sonho, mas os primeiros passos não surtiram efeitos desejados”, disse.

Os Serviços Distritais de Actividades Económicas lançaram um concurso público com o propósito de reforçar a equipa de fiscais, e Figredo candidatou-se a vaga, tendo sido admitido.

“Tive de abandonar o meu emprego na firma de vestuário para me dedicar exclusivamente à fiscalização das espécies florestais. A cada dia que passava, chegavam-me informações que davam conta da existência de indivíduos que promoviam o desflorestamento. Por amor que tenho pelas florestas, quem explorasse os toros ilegalmente e destruísse a biodiversidade tornava-se meu inimigo”, afirmou.

Durante o período probatório, Figredo passou a ser vítima de constantes ameaças protagonizadas pelos madeireiros furtivos, além de merecer a atenção dos colegas que se envolviam nas redes de exploração ilegal de toros. Ao contrário do que se esperava, ele consolidava cada vez mais a afinidade com as florestas e tornava- se mais implacável na passagem de multas e apreensão dos produtos explorados ilegalmente.

“Recebi várias ameaças de morte. Alguns colegas tentavam coagir-me a colaborar com os furtivos, mas recusei porque é antiético”, afirmou, tendo acrescentado que ele foi contratado para minimizar o índice de abate de árvores para o processamento de objectos de grande valor económico, e não para contribuir para a extinção de espécies florestais.

Segundo o nosso interlocutor, após a sua integração na equipa de fiscais, o trabalho tornou-se mais complexo. A promoção coincidiu com uma fase em que o número de madeireiros furtivos crescia exponencialmente, o que exigia uma fiscalização árdua, pois os infractores usam vias clandestinas.

Aumentar o nível académico

O @Verdade soube que, há anos, Eusébio Figredo trabalhava nas localidades do distrito de Mocuba. Nos finais do ano transacto, ele decidiu melhorar o seu nível académico. A primeira opção foi a Faculdade de Engenharia Agronómica e Florestal (FEAF) da Universidade Zambeze (UniZambeze), onde concorreu para o curso de Engenharia Florestal. Graças ao empenho e dedicação, Figredo foi admitido no ensino superior.

Actualmente, ele frequenta o primeiro ano. “Pensei em aumentar o meu nível para ficar dotado de ferramentas para intensificar mais o trabalho de fiscalização e, igualmente, promover a reposição das espécies florestais abatidas”, sustenta. Muitas vezes, Figredo trabalha na calada da noite e, durante o dia, frequenta a faculdade. O seu agregado familiar tem apoiado bastante a sua actividade e os seus estudos.

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