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O calvário de Simbine

Ser fotógrafo profissional foi desde sempre a ambição de Celso Simbine, um jovem de 25 anos a viver no bairro FPLM, na cidade de Maputo. Contudo, a vida negou-lhe esse desejo e transformou o sonho em pesadelo: um calvário que começou em 2001 quando contraiu a cegueira.

Aos 25 anos de idade, a vida de Nelson Simbine é feita por lutas, sacrifícios e, sobretudo, por “muita esperança”. Ao todo passam nove anos desde que aquele jovem perdeu a vista. Tinha 17 anos e frequentava a nona classe quando o destino ditou a sentença. Os seus dias nunca voltaram a ser como antes. Não apenas porque deixou de contemplar o mundo à sua volta, mas, mormente porque se viu obrigado a abandonar tudo aquilo de que mais gostava de fazer, incluindo os seus sonhos: Além da reparação de máquinas fotográficas e outros aparelhos electrónicos, Simbine era um fotógrafo amador e pretendia seguir a carreira até se tornar profissional.

Os rendimentos do ofício permitiam-lhe colaborar nas despesas de casa e com o remanescente custeava os seus estudos. Mas quando ficou cego e porque “tudo o vento levou” os obstáculos à sobrevivência cresceram exponencialmente. O seu novo estado turva-lhe o discernimento ao ponto de se considerar “um fardo” para os seus. Para quem, nem nas piores previsões, a cegueira foi considerada uma hipótese, o novo estado rebentou com estrondo. Ou seja, a perca de autonomia corrói, de forma inexorável, os poucos resquícios de lucidez que lhe sobram. Até porque: “O que mais me preocupa é o facto de não conseguir ser dono de mim mesmo. Sintome como uma cruz pesada nas costas dos meus familiares e por isso acho que sou o responsável pela situação precária em que vivem”, desabafa e acrescenta que “às vezes penso em abandonar a escola para trabalhar”.

Viver ensinando os outros cegos…

Hoje em dia, muitos deficientes visuais optam pela esmola como caminho para a sobrevivência, mas Celso é diferente. Nas horas vagas vive ensinando os outros cegos a dominar o Braille. Tenta ganhar a vida em pequenos biscates, fala bem inglês e é maestro na igreja onde reza. Francisco Chuquela, seu antigo professor e amigo, testemunha as suas qualidades invulgares e confessa que o admira bastante. “Para mim, Celso é especial e admiro as suas qualidades e capacidades pouco comuns. Fui seu professor e só percebi que era cego dez dias depois. Era tão inteligente e participava activamente nas aulas”, refere. Muitas vezes o jovem percorre longas distâncias sem precisar de acompanhamento e, nalgumas vezes, nas noites volta da igreja sozinho. Portanto, provavelmente Celso nunca mais voltará a colher imagens a partir de uma objectiva, mas acredita que um dia vai realizar um outro sonho: a independência financeira.

Falta- lhe muita coisa …

Quando tudo começou há nove anos, os parentes submeteram-lhe a uma série de tratamentos, mas os médicos alegaram tratarse de um caso anormal, por isso incurável na medicina c o n v e n c i o – nal. Face à q u e l e d i a g n ó s – tico, os f a m i l i a r e s recorreram à medicina tradicional, onde igualmente não houve avanços tendo-se concluído que era um caso de feitiçaria. Desde então a vida do mancebo ficou marcada por momentos de dor, sofrimento e desespero. Entretanto, mais tarde, conheceu a Associação dos Cegos e Amblíopes de Moçambique (ACAMO). Foi ali onde, com a ajuda dos colegas, começou a estudar o Braille, um alfabeto para deficientes visuais. “Nesse processo comecei a ter novas esperanças e a resgatar o sonho de voltar à escola para terminar os meus estudos”, conta.

Actualmente, com o apoio daquela Associação, oito anos depois, Celso voltou a frequentar a nona classe na Escola Secundária Noroeste 1 na cidade de Maputo. De acordo com as suas palavras, falta-lhe muita coisa e considera que tudo teria sido mais fácil se estivesse numa escola especializada para cegos, mas, infelizmente, a cidade de Maputo não dispõe de um estabelecimento do género, por isso é obrigado a esforçar-se o dobro para ter a mesma compreensão que os colegas. Celso Simbine carece de uma pasta apropriada, um gravador e papel para digitar o Braille, como também se queixa da falta de capacidade de alguns professores. “Tenho de ouvir tudo o que os professores dizem.

É por isso que preciso de gravador para preparar as minhas lições. O papel que uso é muito caro. Muitas vezes os professores dizem não estar capacitados para lidar com gente como eu e aconselham a recorrer aos meus colegas para obter apontamentos, um exercício muito difícil porque aqueles escrevem mal dificultando, dessa forma, as pessoas que peço para me ditarem”, afirma.

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