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O balde misterioso

A fragilidade do sistema de segurança da Brigada Operativa (BO), prisão de máxima segurança, faz muito tempo que deixou de ser novidade. Para tal, tanto funciona o engenho dos prisioneiros como a desonestidade dos guardas prisionais. Não existe outra prisão moçambicana tão porosa e subtil na arte de multiplicação de infracções à legalidade. Tudo o que sucede nesta esfera de actuação onde a lei devia vingar é motivo de vergonha para o edifício da justiça. É que à prisão que devia guardar criminosos se soma uma rede de infractores que leva tudo e mais alguma coisa do lado de fora do muro para as entranhas das celas…

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O vídeo que chegou ao @Verdade e que mostra um esquema de contrabando na BO revela o quão frágil é o nosso sistema de segurança e que os guardas prisionais formam um elo na espinha dorsal de uma rede de criminosos. Isso é o pior que poderia acontecer. Nem tanto pelo nível de envolvimento, mas pela vergonha nacional que representa.

Uma mulher, assim como quem não quer nada, aproximou-se do muro da cadeia. Exactamente no local onde fica um posto de segurança. Rapidamente desceu uma corda de uma torre de controlo com a qual a mulher amarrou um balde contendo algo impossível de descortinar pela distância do local onde foi feita a gravação. Portanto, do conteúdo do balde sabemos pouco apesar de os guardas prisionais alegaram que se trata de bebidas alcoólicas que valem “muito dinheiro” lá dentro.

Efectivamente, um vendaval de corrupção passou pela BO e nem o seu famoso sistema de segurança foi capaz de fazer alguma coisa. As torres de vigia não conseguem sequer minimizar os danos. A demonstração de impunidade foi e é insultante e só não é maior porque um vídeo amador revelou o esquema. Sem tirar mérito ao discurso da vigilância que é tónica dominante nas autoridades policiais e militares, havemos de convir que a oportunidade da lição é escassa.

O sofrimento presente na BO é demasiado para propositar qualquer discurso que evoca segurança.A vida precisa de alguma dignidade, que está muito acima do que este modelo de sociedade oferece. Os guardas da BO estão entranhados na corrupção porque precisam de salvar a si próprios, criando as suas alternativas nos postos de vigilância. Em suma: o cabrito continua a comer onde está amarrado.

@Verdade enviou um repórter ao local e o mesmo foi retido pelos guardas prisionais. O repórter conseguiu deixar o telefone ligado e deu para ouvir a discussão que manteve com os guardas prisionais. “Você não vai sair daqui”, disseram. A retenção teve lugar depois de ele abordar três residentes nas casas circunvizinhas que se mostraram apreensivas e declinaram prestar qualquer espécie de declaração. Porém, mal o repórter se separou da terceira pessoa, cinco funcionários da cadeia arrancaram-lhe os dois telefones em seu poder e forçaram-no a entrar no recinto da cadeia, alegadamente porque não se pode abordar ninguém nas proximidades daquela unidade prisional.

Um responsável da cadeia, que não se quis identificar, inquiriu o repórter sobre o que pretendia nas redondezas. Este explicou que queria entender o que continha o balde que entrava clandestinamente por cima do muro. O responsável da cadeia disse ao repórter que o comandante já tinha visto o vídeo no facebook na página do jornal @Verdade, inclusive tinha dado ordens aos guardas para que intensificassem a vigilância nas redondezas, tendo acrescentado que estavam apreensivos por tal situação e que o presumível balde continha bebida destinada aos prisioneiros.

“Garanto-lhe que é bebida porque isso é proibido aqui, mas mantimentos entram a todo o instante. Falta apenas confirmar os valores envolvidos, mas já sabemos que são exorbitantes, pois os prisioneiros tudo fazem para adquirir a bebida”, justificou-se.

O nosso repórter ainda manifestou a sua indignação relativamente ao facto de uma cadeia permitir tais fragilidades em termos de segurança e como havia tanta certeza de que se tratava de bebidas alcoolicas. O responsável disse que era uma falha ocorrida na torre de vigia número 5 e que tudo seria esclarecido e rectificado.

Depois do inquérito/conversa pediram o bilhete de identidade e a credencial do repórter, tendo sido registados os seus dados. Não explicaram os motivos do cadastro. Posto isto, devolveram-lhe os telemóveis e deixaram-no ir embora. Entretanto, às 9:13 horas de quarta-feira (27), um elemento da cadeia que se identificou como chefe de operações da BO, contactou o jornalista do @Verdade através do número fixo 21706690 convidando-o a deslocar-se àquela unidade prisional, alegadamente porque tinham neutralizado a mulher que aparece no vídeo.

Questionado sobre a possibilidade de o repórter ir acompanhado de outros jornalistas, o suposto chefe de operações disse que iria responder através de uma mensagem. Meia hora depois, o nosso colega recebeu a seguinte mensagem: “Pode não vir mais já dissipámos o que queríamos, a senhora já aceitou não há razão de vir.”

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