Incrivelmente, termina em, quase, duas semanas mais um ano em que todos nós, de forma geral, “matutamos” sobre o balanço dos 365 dias do calendário gregoriano. Por essa razão, mais uma vez e de forma persistente, alguns fazedores das artes e cultura vêem algum sucesso nos seus trabalhos. Aliás, muitos acreditam que triunfaram.
Ao longo deste ano, que está prestes a findar, várias foram as reclamações de artistas que, de uma ou de outra forma, se sentiam excluídos por quem tem o dever de apoiar as artes e cultura no país. O problema é que, embora a ajuda fosse visível em alguns sectores e, também, destinada a alguns criadores, osmecenas nunca, senão poucas vezes, se fazem presentes paraexplicarem oscritérios usados para que haja, de facto, um certoauxílio.
Na verdade, a nossa experiência mostra que, embora o mesmo fundo para as artes e cultura no país seja escasso, falta-nos a sua divulgação, para que os beneficiários possam ter acesso a ele. Mas, apesar de tamanhos murmúrios, os artistas remaram contra a maré a fim de concretizarem os seus planos.
Por isso, ainda no decorrer de 2014, gerou-se na capital moçambicana, em quase todos os pontos do país, um movimento de diversões que culminou com as realizações de festivais de música, de dança, de teatro, entre outros. A verdade é que são momentos únicos que salvaguardam, até certo ponto, os valores dos moçambicanos.
Na lista, destacam-se o Moment of Jazz, o More Jazz Series, o Azgo Festival, o Festival Marrabenta, o Festival Nacional da Cultura, nasuaoitavaedição, o Festival do Lago Niassa, o Festival Mafalala, o Festival de Zalala, o Festival Tropical de Zouk, o Festival de Maputo Afro Swing (2014), entre outros.
De uma ou de outra forma, tratou-se, porém, de realizações que valorizam o trabalho de artistas nacionais, sobretudo dos que supostamente são excluídos, bem como oferecem uma oportunidade aos amantes das artes de partilharem emoções.
Por outro lado, ainda no que a espectáculos e diversões públicos tange, os momentos de música foram, até certo ponto, reprovados devido à má qualidade do som, que incomoda bastante os espectadores. Em resultado disso, a desejável qualidade de tem baixado de forma drástica.
Infelizmente, hámotivos para dizer-se que 2014 não foi um ano de sucessos nas arte em Moçambique. As mortes de Elsa Mangue, cantora, de Oblino Magaia, escultor, e de Eduardo White, escritor, entre outros, deixaram a cultura um tanto debilitada.
Mas de certa forma, sob o ponto de vista de produção e divulgação cinematográfica, destacam-se os jovens cineastas Diovargildo Chaúque e Peter Gudo, realizadores dos filmes “O Provedor” e “Nico”, respectivamente. Ainda no cinema, mais desta vez de animação, o arquitecto moçambicano Nildo Essa, vencedor do Prémio de Animação 2014, com “Os Pestinhas e o Ladrão de Brinquedos”, pretende, caso tenha patrocínios, lançar a sua longa-metragem.
No que, ainda, às premiações se refere, neste ano, destacam-se o arquitecto Essa, o jovem músico Claúdio Ismael, que pela primeira vez venceu as melhores categorias do Mozambique Music Awards; o brasileiro radicado em Moçambique Licínio Azevedo que conquistou os prémios da Agência de Desenvolvimento e Cooperaçãoda Suíça, e do Centro Nacional de Cinematografiada França; a Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD) galardoada, no dia 25 de Junho, com a medalha de Ordem Eduardo Chivambo Mondlane – 1º grau (a mais alta distinção do país no âmbito do Sistema de Títulos Honoríficos e Condecorações da República de Moçambique), entre outros.
Na literatura,o FUNDAC patrocinou a publicação dos livros “A Voz das Minhas Entranhas”, da jovem escritora de Xai-Xai, Deusa de África, “Prédio 333”, de HelgaLanguana, “Jasmins & Chambre”, de Nélio Nhamposse e “Nwerheti”, de Mahazul, pseudónimo de Arlindo Mandlate. Publicou-se também sob a chancela de editoras privadas os livros “A Adubada a Fecundidade e Outros Contos” de Dany Wambire e “A Vingança de Jesus Cristo” de Osvaldo das Neves.
Lamentavelmente, no campo literário, este ano não tivemos quase nenhuma obra dos já consagrados escritores. Diríamos, talvezporinfluência da insatisfação, queosmais “velhos” estãocansados.
Na segunda arte, a dança, os apoios foram direccionados à realização do “Festival Msaho”, organizado pela Associação dos Amigos de Zavala; à produção do “Projecto Makochopi”, um espectáculo de fusão entre danças de origem Makonde e Cicopi, da autoria de Atanásio Nyusi; à participação de um grupo moçambicano da União Nacional para o Fomento da Cultura Lomwe (ALOMWE), no Festival Anual do Mulhako Wa Alhomwe, no Malawi; à participação do Grupo de Dança Tufu da Mafalala, no festival com o mesmo nome; à participação de dois artistas moçambicanos (Judite Olívio e Eugénio Joaquim) no “workshop” de intercâmbio cultural sobre a dança, no Brasil; ao Festival da Marrabenta, concedido ao Laboratório de Ideias (aprovado em 2013).
Dos músicos que publicaram os seus trabalhados discográficos no decorrer do ano também, muitos deles foram congratulados pelo Governo, tendo-se destacado homens como José Barata, com a obra “O Melhor de José Barata”, Pureza Wafino, (“Um Olhar ao Futuro”) e o agrupamento Djaka, que editou o disco “Unidade Nacional”.
Nas artes plásticas, onde os números são menos credíveis, talvez devido à menor aposta nesta modalidade e também porse tratar de participações de artistas nacionais no estrangeiro, os moçambicanos foram agraciados, em nome de Celestino Mondlane, que participou na exposição de arte contemporânea em Lisboa, de Francisco Vilanculos que colaborou no “workshop” sobre a exposição de arte na Suécia, de um grupo de quatro artesãos (Pascoal Mbudi, Fabião Samuel, Zeca Alfiado e Artur Muianga) e da dupla Domingas e Belita na Feira Internacional de Artesanato – FIA, em Lisboa.
Ainda no rol das participações, mais desta vez no que concerne à outras actividades, neste caso o teatro, o FUNDAC criou mecanismos para que grupos de teatro como Oprimido e Mutumbela Gogo fossem tomar parte no Festival de Teatro na Índia edo Festival Internacional de Teatro de Língua Portuguesa (FESTELIP), no Rio de Janeiro, respectivamente.
Porém, no cômputogeral, embora de forma lenta e àsvezesmarginalizada, oscriadoresmoçambicanoscontinuam a impor-se face a factores que ofuscam o seu êxito e, consequentemente, o desenvolvimentoartístico-culturaldo país.
2015 será o fim de problemas nos espectáculos e divertimentos públicos
O Ministério da Cultura mostrou-se preocupado com o actual cenário que se vive no seio dos produtores de espectáculos e divertimentos públicos, no que concerne ao desrespeito à lei reguladora deste tipo de eventos.
Decorrente deste cenário, os produtores de espectáculos e de divertimentos públicos e outros profissionais da cultura reuniram-se, na última quinta-feira (18), em Maputo, para discutirem sobre alguns aspectos que preocupam o sector, no que tange à inobservância dos pressupostos estabelecidos no Decreto-Lei nº 23/2012 de 09 de Julho, por parte dos produtores.
Prestando um informe sobre o processo de aplicação efectiva da Lei, sobretudo na fiscalização de espectáculos e divertimentos públicos, por parte da sua instituição, o inspector-geraldo Ministério da Cultura, Gonçalves Guambe, revela que, contrariamente à apatia que alguns círculos de opinião advogam, a falta de observação de uma fiscalização regular deve-se, sobretudo, à necessidade de observação de aspectos intrínsecos ao próprio processo, desde que esta lei foi aprovada.
De acordo com Guambe, o Ministério da Cultura estipulou que entre 2012 e 2014 a referida lei estaria parcialmente divulgada, pura e simplesmente para a sensibilização dos agentes envolvidos na realização de espectáculos e para a formação de técnicos qualificados para a fiscalização de eventos públicos.
Foi deste modo que, numa acção conjunta, foram até ao presente ano instruídos funcionários da área da cultura, da Autoridade Tributária de Moçambique, do Ministério da Indústria e Comércio, da Procuradoria da República, da Inspecção Nacional de Actividades Económicas e dos agentes da PRM para que, a partir do primeiro trimestre, comecem a trabalhar nas cidades de Chimoio, Beira, Quelimane, Tete e na província de Maputo.
Em 2015, o Ministério da Cultura iniciará o processo de inspecção e fiscalização plenas, com vista a garantir a conformidade dos actos plasmados no decreto, para que os espectáculos sejam mais do que diversões, e sim momentos de aculturação.