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O ano 5º da Festa que Marrabenta!

Se de facto, no roteiro das nossas actividades culturais, a Festa da Música Popular Urbana ocupa um lugar cativo (além da canção, dos palcos, do tempo, da história, das múltiplas disciplinas de arte agregadas) na sua Vª Edição – que decorrerá de 26 de Janeiro a 12 de Fevereiro – a missão que aguarda o Festival Marrabenta é muito árdua: “Consolidar a sua ritualização”. Nos próximos dias veremos se consegue…

Contrariamente ao que se prevê – muitas crises socioeconómicas em 2012 – pelo menos para os “filhos de 29 de Fevereiro” o ano será de muita sorte. Mais uma vez, celebrarão as festas natalícias no respectivo dia.

É que em função dos caprichos da natureza, três vezes em igual período de anos, seis horas a mais são coleccionadas. Quando se chega no quarto, completam- -se 24 horas, mais um dia nos habituais 365. Surge, assim, o ano bissexto, com 366 dias. O evento complica a vida de muita gente. Mas, mesmo assim, alguns se divertem.

Afinal, na teoria e em certa medida na prática, os nascidos neste dia só celebram a data natalícia de quatro em quatro anos. É como se tivessem um crescimento – entenda-se, envelhecimento – retardado. Por que razão isso acontece é outro assunto.

O Festival Marrabenta não é parte integrante deste grupo de “personalidades”. O seu nascimento assinala-se entre finais de Janeiro e princípios de Fevereiro. E, em 2012, celebra o quinto aniversário.

Considerando, como se alardeia entre os quatro cantos do mundo, que o ano que corre (por ser bissexto) será rodeado de algum misticismo – até porque para alguns devia assinalar o fim do mundo – talvez a Festa da Marrabenta aconteça em cenários míticos.

Senão leiamos: pela primeira vez, cinco anos depois, o evento realizar-se-á em cinco províncias do país – Maputo, “Matola”, Gaza, Inhambane e Sofala – e com muitas ramificações.

Quando surgiu o Festival Marrabenta?

A Marrabenta, um estilo musical sobejamente explorado no sul de Moçambique, é considerada a canção popular urbana do país. Nos dias que correm confunde-se com a bandeira nacional. Até porque é devido àquele género musical que Moçambique ganhou o topónimo “País da Marrabenta”.

No entanto, nos princípios dos anos 2000 em diante, com a “bolsa” de uma série de estilos musicais – sobretudo a tropical – que se instala no país, a Marrabenta perde o lugar que (sempre) lhe foi devido, o de destaque.

Neste contexto, um grupo de jovens amantes de Moçambique – um dos quais Paulo David Sithoe, na direcção – criou, em 2008, a deslumbrante ideia de realizar um evento (na verdade digressão musical) que não somente (re)valorizasse o género musical, como também os seus praticantes com uma forte programação anual de concertos.

Eis que nesceu o Festival Marrabenta, realizando concertos musicais em Maputo, Guaza Muthine e Matalane. Apenas três concertos, o maior dos quais sem muita dinâmica em termos de eventos musicais de grande dimensão até então.

Gradualmente, como acontece na vida, o evento foi crescendo. Ampliando o seu espaço de acção de representação cultural, de tal sorte que este ano, na quinta edição, realizará concertos – não somente musicais – em sete destinos. Maputo, Matola, Marracuene, Matalane, Xai-Xai, Inhambane e Beira.

O acontecimento cultural que já criou nostálgicos – nas cidades de Chókwè, e de Chibuto – ver-se-á impelido a “abandoná-los” a favor de outros. “Terão que se deslocar para Xai-Xai”, comenta Inocência Tembe do “Laboratório de Ideias”, a instituição mentora da iniciativa.

Ritualização

Passados cinco anos, em 2012, segundo a organização, os criadores da iniciativa revelam que o festival não irá abandonar a perspectiva que o evento possui na recriação ou reconstrução da história daquele género musical. “Pensar no passado continuará a dar-nos fôlego para compreender de onde viemos, moldando o que queremos ser”, conta Litho, o director. Até porque lembra: na última edição, o evento decorreu sob o mote “Festival Marrabenta – Passado, Presente e Futuro”.

De qualquer modo, “o que importa, o que se nos impõe como imprescindível é o sonho de viver o presente com autenticidade”, lê-se num dos documentos que corrobora o pensamento do evento neste ano.

Paulo David Sithoe (Litho) que conversou com @Verdade acredita que ao longo do tempo o evento que estimula a valorização de um ritmo com profundas raízes e dos valores de ser moçambicano concorreu para “a promoção da cultura de paz, tornando-se num movimento cultural capaz”. Sobretudo porque este intervalo de tempo o Festival Marrabenta “renovou-se e inovou-se”.

Recorde-se que este evento popular é de acesso livre. E, nos locais onde o mesmo decorre – acima de tudo nas zonas rurais – inúmeras feiras (gastronómica, comercial, agrícola e, porque não, de literatura) ganham corpo. Isto, na visão dos criadores da iniciativa, faz com que “ a compra, a venda, o consumo, a oferenda de qualquer objecto/ produto possuem um sentido comunitário nobre, único e eternamente memorável, quando desenvolvido no âmbito desta célebre festa que tem a arte musical como protagonista na união de quem com ela se identifica”.

Em outras palavras, o evento trespassou a dimensão de mero concerto musical. Do encontro temporário entre artistas e o público. As pessoas – e isto é um facto observável – anseiam e preparam-se para acolher a festa da Marrabenta.

Por estas e outras razões, a V edição do Festival Marrabenta, com uma forte vertente comemorativa decorrerá sob o mote de Ritualização.

Inovou-se mesmo!

@Verdade teve – em primeira mão – a programação da edição deste ano que arranca no dia 26. A impressão que com ficou é de surpresa. O Festival Marrabenta inovou-se. Basta reparar que, passado pouco mais de 30 anos, desde quando “As trinta mulheres de Muzeleni”, a obra teatral do célebre dramatugo moçambicano, Lindo Nlhongo, a peça será resgatada e apresentada no âmbito do evento.

Desta vez, sob a direcção cénica da conceituada actriz moçambicana, Lucrécia Paco, “As trinta mulheres de Muzeleni” irão renascer e evoluir no Cine Teatro África, em Maputo.

O sentido de peça teatral, neste campo de representação, está muito enriquecido. Haverá uma parte só de concerto musical. Outra de teatro propriamente dito, bem como de exposição fotográfica, na primeira parte a retratar o percurso do festival.

É por essa razão que além de alguns actores, bem conhecidos no teatro moçambicano, o musical “As trinta mulheres de Muzeleni” juntará no mesmo palcos artistas de diversas disciplinas com destaque para a lendária Orquestra moçambicana, Djambo 70.

Em “As trinta mulheres de Muzeleni” confrontam-se tradições, usos e costumes – sobretudo a poligamia – vividos e praticados por uma figura central, Muzeleni.

A obra é uma metáfora de um passado (?) em que a tradição e a religião estavam muito apegadas. Para lhe conferir um ar de modernidade, serão mesclados alguns aspectos, (na verdade, desafios) da vida contemporânea que originam um conflito de valores (entre gerações) entre Muzeleni – a figura paterna – e os seus filhos.

Acredita-se que todo o musical dure pouco mais de duas horas repletas de surpresas para o espectador.

Boa música em sua casa

Se dizer que a Marrabenta é boa música é uma mentira, então que o autor destas linhas seja condenado. Mas porque, ao que tudo indica, a Marrabenta identifica o país não há dúvida de ninguém duvida de que se trata de boa música.

Na perspectiva de propagar este estilo musical – rico de virtude – um trabalho discográfico triplo será publicado, no âmbito da quinta edição deste evento. “Rádio Marrabenta Vol. 1” é como se chama o referido trabalho.

Muita música que – caso não existisse o Festival Marrabenta – devido à pouca (senão nenhuma preocupação) que as editoras discográficas moçambicanas têm em publicá-las, provavelmente nunca fosse gravada, daí que se terá uma oportunidade de escutá-la.

Mahotella Queens, a grande surpresa!

Dentre vários metais, a chama que irá abrir o Festival Marrabenta 2012 não é dourada, mas é de ouro. E tem nome, “Mahotella Queens”. A magia, som, de um dos mais célebres musicais do mundo – oriundo da África do Sul – África irá reencontrar-se.

Trata-se de um grupo deslumbrante que parte da lenda da música sul-urbana-africana. Iniciador de um novo estilo que passou a designar-se Mbaquanga.

Quem são as rainhas Mahotella?

No início, as três rainhas lançaram-se nas lides da música, acompanhando o cantor Mahlathini. E não tardou muito até que se tornaram presença regular no circuito musical do Soweto. Corriam os anos ´60. Na mesma época, projectaram-se para uma carreira internacional que atingiu o apogeu em 2000, momento que ao grupo é atribuído, pela Womex, o Prémio “World Music Artist of the Year”.

O grupo já se apresentou em (quase) toda África. Mas os seus meritórios trabalhos justificam os estrondosos aplausos com que são recebidas fora de África.

Nas próximas edições, @Verdade acompanhará, a par e passo, os trilhos do Festival que promove a música que identifica os moçambicanos: a Marrabenta.

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