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Neidy Ocuane: Um talento que (já) conquistou África

Neidy Ocuane: Um talento que (já) conquistou África

A capitã da selecção nacional de sub-16, Neidy Ocuane, foi eleita Jogadora Mais Valiosa (MVP) da última edição do Campeonato Africano de Basquetebol juvenil feminino, prova que decorreu em Maputo de 07 a 12 de Outubro último. A nova promessa da “bola ao cesto” do país é a nossa entrevistada nesta semana.

Neidy nasceu na cidade de Maputo a 22 de Junho de 1997. É residente no bairro do Jardim local onde, por influência de amigos, começou a jogar basquetebol. Gosta de assistir a jogos desta modalidade e sente-se mal quando não pode, por algum motivo, estar na quadra. É base da selecção nacional de sub-16 e a sua fonte de inspiração é a sénior Deolinda Ngulela, jogadora com quem sonha em jogar na mesma equipa. Cursa a 11ª classe numa escola privada situada no bairro da Machava, município da cidade da Matola.

@V – Como é que despertou a sua paixão pelo basquetebol?

Neidy Ocuane – Como todas as crianças, eu tive uma infância muito alegre. Sempre gostei de praticar exercícios físicos duas vezes por dia, ou seja, ao raiar e ao pôr-do-sol. Assistia a jogos de basquetebol até certo dia em que, por influência de amigos e colegas de escola, decidi tocar na bola e gostei. A minha porta de entrada foram os Jogos Desportivos Escolares da cidade de Maputo, a convite do mister Dezasseis, o meu actual treinador adjunto na selecção nacional de sub- 16. Lembro-me de que ele veio chamar-me para formar uma equipa da Escola Primária que na altura iniciou com um total de 100 alunos. Muitos desistiram ao longo do caminho e, por incrível que pareça, desse número, apenas quatro é que continuam a jogar basquetebol.

@V – Fale-nos um pouco mais do seu trajecto como jogadora de basquetebol.

NO – Depois dos Jogos Escolares da cidade fui convidada a participar num projecto denominado “mini-basket”. Foi neste torneio que o meu amor pelo basquetebol se revelou. Fui solicitada, no mesmo ano, 2011, a fazer parte da equipa dos iniciados de basquetebol do Clube dos Desportos da Costa do Sol onde senti, pela primeira vez, o valor de ser federada. Na mesma época em que entrei no clube canarinho representei a cidade de Maputo no décimo Festival Nacional dos Jogos Desportivos Escolares que teve lugar na cidade da Matola, em que ganhei a minha primeira medalha de ouro. Em 2012 passei para os juvenis, sem abandonar os iniciados do Costa do Sol, sendo que no sábado jogava por uma equipa e no domingo por outra.

@V – E como é que foi essa experiência?

NO – Nos primeiros dias sentia-me castigada, confesso. Mas ao longo dos tempos fui notando que jogar num escalão diferente do meu contribuía para o melhoramento da minha performance como atleta.

@V – E estando hoje no escalão de juvenis, como se sente?

NO – Muito bem. Não posso correr contra o tempo. Ainda tenho muito a aprender e a fazer. Mas sonho ascender ao escalão júnior.

Queria ter ganho o “Afrobasket”

@V – Qual é a avaliação que faz da participação de Moçambique no “Afrobasket”

NO – O meu sentimento é ambíguo. Diria que foi boa por ter conquistado a medalha de bronze e o prémio de MVP da competição. Mas triste por não ter corrido conforme queria. Como disse a seleccionadora nacional, semana passada no vosso jornal, o nosso objectivo era o pódio. Mas quando estivemos perto sentimos que podíamos ir mais longe e, quem sabe, levantar o troféu. Mas, infelizmente, as coisas não correram bem.

@V – Qual foi o melhor momento da participação de Moçambique neste “Afrobasket” de sub-16?

NO – Para mim, o momento mais alto da prova foi do jogo para a atribuição do terceiro e do quarto lugares. No último período, o nosso adversário estava a sufocar-nos. Mas, graças ao apoio do público que esteve presente, embora tardiamente, conseguimos assentar o nosso basquetebol. Sentimo-nos realmente em casa e as coisas foram fáceis no fim. Conquistámos a terceira posição e eu fui eleita a MVP da competição.

@V – E qual foi o pior momento?

NO – O jogo dos quartos-de-final contra o Mali, sem dúvidas. Jogávamos, primeiro, com a melhor selecção de África neste escalão. Segundo, porque não estive bem e não consegui ajudar as minhas companheiras a darem também o seu melhor. No decurso da partida cheguei a chorar, inconsolavelmente, porque até pareceu que estivemos a jogar de mãos atadas. Precisávamos de nos libertar de uma força que nos impedia de marcar pontos. De resto é um confronto que jamais gostaria de disputar na minha carreira.

“Trocaria o galardão por uma medalha de ouro”

@V – Foi eleita a MVP do “Afrobasket” de sub-16. Qual foi o sentimento que se apossou de si quando ouviu, no pavilhão do Maxaquene, ser anunciado o seu nome?

NO – Confesso que fiquei surpresa, mas ao mesmo tempo satisfeita porque vi que estava a ser reconhecida a luta travada pelo grupo durante a prova. Se não ganhámos a medalha de ouro, tinha de haver outra forma de se gratificar a nossa selecção, penso eu. Tenho que agradecer às minhas companheiras porque, sem elas, este galardão não estaria nas minhas mãos. Ninguém é jogador, ou seja, ninguém se torna melhor se não estiver inserido num grupo de trabalho. Fui eleita a MVP graças às minhas companheiras.

@V – O representa este prémio de MVP?

NO – Um incentivo para que eu possa continuar a trabalhar para alcançar os meus objectivos como jogadora de basquetebol. Mas eu trocaria este prémio se fosse por uma medalha de ouro que seria recebida por todas as minhas colegas de trabalho.

@V – Quais são os anseios de Neidy no mundo do basquetebol?

NO – Como toda a atleta, eu quero jogar na maior liga de basquetebol do mundo, a WNBA dos Estados Unidos de América. Quero, portanto, seguir os passos de Clarisse Machanguana, uma pessoa que admiro muito. Mas estou ciente de que terei de trabalhar muito e manter os pés bem assentes no chão como tem ensinado a “mamusca” Lucília Caetano.

@V – Depois do “Afrobasket” houve uma indicação, quase certa, de que ia para o estrangeiro. Teve conhecimento disso?

NO – Houve rumores, como era de se esperar. Não recebi nenhum convite, até porque seria benéfico para mim ir para um país onde o basquetebol é mais desenvolvido. Penso que estaria em melhores condições técnicas de ajudar Moçambique a triunfar nas próximas competições. Infelizmente, os sussurros não passaram disso. E isso não me vai desvirtuar. Vou continuar a trabalhar para que um dia seja realmente convidada para o estrangeiro.

“Gostaria de jogar na mesma equipa que a Deolinda Ngulela”

@V – Qual é a sua fonte de inspiração?

NO – Adoro a Deolinda Ngulela. Ela é espectacular e exuberante. Gosto muito de vê-la a jogar. Ela é, sem dúvidas, a minha fonte de inspiração. A forma como ela conduz uma equipa, como é capaz de tornar um jogo veloz ou lento quando necessário, como constrói as jogadas e como comanda a equipa faz-me confidenciar a mim mesma que quero ser como ela.

@V – Muitos afirmam que Neidy é a nova Deolinda Ngulela. Concorda?

NO – Se as pessoas dizem isso é muito bom para mim. Sinto-me lisonjeada. É o meu ídolo e é muito bom quando as pessoas começam a fazer este tipo de comparações. Inspira-me ainda mais. Mas tenho muito que trabalhar para chegar até onde ela chegou. É certo que jogamos na mesma posição, base, mas o talento dela é notável e agrada a qualquer um que percebe de basquetebol. Gostaria de um dia jogar na mesma equipa que ela.

@V – Quais são os outros títulos que ganhou?

NO – Como afirmei anteriormente, o meu primeiro troféu foi uma medalha de ouro em 2011 nos Jogos Desportivos Escolares que tiveram lugar na cidade de Maputo. Com o Costa do Sol fui campeã da cidade por duas vezes, em juvenis e uma em iniciados.

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