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Autárquicas 2013: “Não estamos a tirar proveito do lago Niassa” Anase Achimo edil Metangula

A escassos meses do fim do seu mandato, Anase Achimo, presidente do Conselho Municipal da vila de Metangula, distrito de Lago, na província de Niassa, afirma que se conseguir convencer uma das instituições bancárias que operam no país a instalar-se naquele município e levar energia eléctrica a quatro bairros ainda este ano, terá cumprido o seu manifesto eleitoral em 100 porcento. Apesar de fazer um balanço positivo da sua governação, Achimo diz que ainda há muitos desafios pela frente e lamenta o facto de não se estar a tirar proveito do lago Niassa, por sinal um dos maiores de África.

@V – A escassos meses do fim do seu mandato, qual é a avaliação que faz da sua governação? Cumpriu o seu manifesto na íntegra?

Anase Achimo (AA) – Primeiramente, agradecer pela oportunidade que nós é dada para falar do trabalho em torno do nosso manifesto eleitoral. Em jeito de balanço, estamos no bom caminho, se formos a olhar para aquilo que foram os nossos desafios. Daquilo que tínhamos arrolado como as actividades a realizar dentro da nossa governação municipal dispúnhamos de 82 actividades no nosso manifesto que apresentámos aos munícipes.

Das 82 acções, nós estamos, até a esta fase, com 78 já realizadas, o que corresponde a 94 porcento. Estamos a caminhar para a realização de 80 actividades, pois duas estão em curso; refiro-me a um jardim infantil e à construção de um mercado na zona de Mechumua. Vai faltar-nos duas grandes actividades, aqueles que nós tínhamos arrolados como acções que mereciam bastante atenção, tal é o caso de instituições bancárias.

Nós sabíamos que o banco não seria construído por nós como município, mas iríamos entrar em contacto com as instituições bancárias para ver se pelo menos uma pudesse vir para cá, porque precisamos muito de um banco. Todas as nossas economias são depositadas nos bancos existentes na capital provincial, a cidade Lichinga. Sempre que pretendemos fazer alguns movimentos, somos obrigados a deslocar-nos para lá.

@V – A nível da vila, a iluminação eléctrica é fraca e alguns bairros ainda não dispõem de corrente eléctrica. O que está a falhar?

AA – Apenas uma parte do nosso município ainda não tem energia eléctrica. Existem bairros que nós prometemos que faríamos de tudo para que todos pudessem ter electricidade. Ou seja, são apenas quatro bairros que não têm corrente eléctrica dos 12 de que a vila municipal dispõe. Fizemos um contacto com a empresa Electricidade de Moçambique (EDM) e ela prontificou-se em ajudar-nos a resolver este problema.

Agora já estamos noutra fase. Há dias entrou um expediente da EDM a dizer que provavelmente ainda este ano dois bairros vão passar a dispor de corrente eléctrica. E outros dois, devido à distância relativamente à sede do distrito, não terão a mesma sorte. Mas vamos fazer de tudo para mudar a situação.

@V – Há água canalizada em Metangula?

AA – Uma parte do município tem um pequeno sistema a funcionar, que dá água aos munícipes da zona alta da autarquia, porém, temos dificuldades neste momento porque o sistema de abastecimento encontra-se com algum problema de avaria da bomba. Puxámos a água para o tanque da Base Naval e a partir daí faz-se a distribuição domiciliária. No entanto, estamos a ter problemas na subida de água para o tanque, pois não há capacidade interna na Base Naval.

No geral, retirando essa dificuldade, nós temos água canalizada. Não fornecemos água 24 horas por dia, damos uma parte do dia, sobretudo nas manhãs, entre as 5h00 e as 6h00. Accionámos todos os mecanismos para o abastecimento de água a nível da vila. Conseguimos fazer isso porque começámos a ver que o sistema não estava a conseguir dar água aos bairros da baixa, e dividimos o sistema em duas partes. Além disso, temos água dos furos mecânicos.

@V – Quantos quilómetros percorrem os munícipes para terem acesso a água potável?

AA – Como dizia, dependendo da população existente em cada bairro, fomos distribuindo com alguma planificação os furos. Portanto, não temos casos de pessoas que têm de percorrer mais de 500 metros para encontrar água. Isso foi ultrapassado há bastante tempo. Em média, as famílias percorrem uma distância de 100 a 150 metros até ao furo de água mais próximo.

@V – A Vila Municipal de Metangula não tem sequer uma rua asfaltada. Existe algum plano de asfaltagem ou pavimentação das vias de acesso?

AA – O que nós estamos agora a fazer é como, de facto, começar com a pavimentação das vias de acesso da vila e já identificámos uma rua, que é a rua Paulo Samuel Kankhomba, onde estamos a fazer de tudo com vista a começar com as obras de colocação de pavé ainda este ano. Este é o primeiro ensaio que vamos fazer e penso que vamos conseguir pavimentar alguns metros.

Ela tem uma extensão de 1.200 metros e nós não temos dinheiro suficiente para a pavimentação de todo o troço, mas vamos fazer aquilo que pudermos. Nós precisávamos de valores acima 10 dos milhões de meticais, e neste momento dispomos apenas de cinco milhões. Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance, pelo menos 400 a 500 metros, e o resto veremos lá para a frente.

@V – Como está o município em termos de ordenamento territorial?

AA – Existem construções desordenadas porque os bairros são muito antigos e nós não temos casos de bairros novos. Antigamente, não existia um plano de urbanização, as pessoas foram construindo as suas habitações de forma desordenada. Mas estamos a tentar fazer o trabalho de estruturação das zonas residenciais e penso que lá para a frente as coisas possam vir a melhorar. Aqui na sede do distrito temos bairros que são um exemplo, casos de Thungo que existe desde o tempo colonial, Muchenga e Seli. Mas os restantes encontram-se numa situação complicada e nós queremos inverter essa situação.

@V – A autarquia tem uma lixeira municipal?

AA – Temos uma lixeira, mas não é uma lixeira estruturada. É apenas um espaço onde depositamos os resíduos sólidos produzidos pelos munícipes. Em termos de meios, estamos a tentar aumentar os nossos meios de recolha. Até ao princípio deste ano tínhamos um tractor, e adquirimos mais um com a mesma finalidade.

Além dos dois tractores, dispomos de um camião, mas pelas características do próprio veículo não estamos neste momento a fazer uso dele, porque tem uma suspensão alta e precisamos de uma pá carregadora. Porém, a quantidade de lixo produzido diariamente a nível do município ainda não exige o uso de uma pá carregadora. Em suma, temos a situação de lixo controlada.

@V – Na componente social, sobretudo nas áreas de educação e saúde, quais foram as actividades desenvolvidas pela edilidade?

AA – Primeiro, é importante que se diga que se trata de áreas em que não temos obrigações, até porque estão sob tutela do Governo central. Mas nós sentimos a necessidade de olhar para essa parte. No bairro Mucuio construímos três salas de aulas, uma vez que aquela zona residencial não dispunha de uma escola construída em material convencional. Além disso, oferecemos um bloco administrativo e latrinas melhoradas. Na área da saúde, tínhamos um edifício que outrora foi usado por uma organização não governamental (ONG) que desenvolvia as suas actividades neste município.

Depois de cumprir a sua missão, a ONG deixou a infra-estrutura e nós quisemos aproveitar o espaço. Entrámos em contacto com as autoridades do sector da saúde e propusemos a abertura de um posto de saúde na zona turística de Chiwanga para a comunidade local. Nós reabilitámos o edifício e queríamos oferecer as instalações no passado dia 16 de Junho, mas por causa de outros programas que se sobrepuseram não foi possível.

@V – Praticamente não existe comércio formal no município. A que se deve?

AA – Realmente, temos um défice no que respeita ao comércio formal. Na verdade, a vila é constituída por vendedores informais. A nível do município temos apenas dois estabelecimentos comerciais pertencentes ao mesmo proprietário. Ainda estamos muito dependentes dos operadores informais, que estão espalhados por toda a área municipal.

@V – Qual é a receita anual do município?

AA – Este é um desafio. Estamos a lidar com uma população que viveu durante há anos e anos sem nenhuma informação no que respeita ao pagamento de taxas relativas à actividade económica que desenvolve. É difícil, mas estamos a fazer esse trabalho de sensibilização, e temos recolhido alguma coisa.

As nossas receitas ainda são insuficientes, pois a maior parte vem dos informais que dispõem de barracas, cantinas ou pequenos negócios no quintal das suas respectivas habitações. Há quatro anos nós recolhíamos uma média de 200 mil meticais por ano e, presentemente, já atingimos um milhão. Além disso, temos alugado o nosso camião a algumas empresas, empreiteiros e outras pessoas interessadas.

@V – Metangula tem o privilégio de dispor de um dos maiores lagos de África. O que é que está a ser feito para tirar proveito disso?

AA – A nossa vila é, por natureza, uma zona turística, mas nessa área ainda precisamos de fazer mais trabalho. Nós não estamos ainda a tirar grande proveito do lago Niassa, que, além de atrair turistas pela sua natureza e beleza, ele tem uma grande riqueza, que é o peixe.

O peixe é um produto muito importante, mas, em contrapartida, o lago Niassa não está a dar aquilo que devia dar. Devíamos sair da pesca artesanal que é de consumo ou subsistência. Devíamos aproveitar o máximo para fazer a pesca semi-industrial que pudesse dar frutos e impulsionar o desenvolvimento do município assim como da província. Esta é a nossa preocupação.

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