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Nampula conta com uma escola de música

A cidade de Nampula tem registado, nos últimos anos, o surgimento de novos talentos, sobretudo da música macua. Porém, a falta de domínio dos instrumentos musicais retira a qualidade dos ritmos locais. Entretanto, um grupo de jovens decidiu criar uma escola de música para, entre vários objectivos, revolucionar a arte a nível da província de Nampula e da região norte de Moçambique.

Trata-se, na verdade, de uma iniciativa que visa, essencialmente, melhorar a qualidade dos ritmos. Winnie Muhimua, mentora do projecto está, efectivamente, impressionada com a forma como o povo apadrinha a cultura moçambicana, sobretudo, a macua, preservando a ancestralidade tradicional. Mas ela lamenta o facto de os artistas não estarem a empreender esforços no sentido de acrescer qualidade às suas criações. Segundo Muhimua, grande parte dos músicos que a província de Nampula tem surgiu ao acaso no mundo da música.

“Muitos deles não sabem tocar sequer um instrumento musical”, considera, apontando o dedo para os consumidores que não exigem qualidade. A culpa também recai sobre o surgimento das tecnologias, sobretudo o computador, que criou preguiça no seio dos cantores. Os produtores e os editores também têm aparentemente o seu trabalho facilitado. A nossa interlocutora entende que os instrumentos musicais estão, paulatinamente, a ser descartados.

“A nova geração nasceu com esse vírus de desprezar os instrumentos de música; por isso, eles abraçam a carreira sem o mínimo de instrução sobre como se faz o trabalho”, disse.

A mentora da iniciativa de criação de uma escola de música em Nampula reagiu, intrinsecamente, para mudar essa realidade. Tal como sugere o próprio lema da instituição “Wiipa ni woopa sana”, que traduzido para português significa “Cantar e tocar bem”, o estabelecimento de ensino pretende potenciar as crianças com inclinação para a mundo da música para no futuro desenvolverem a actividade sem qualquer problema, no que diz respeito ao uso dos instrumentos musicais.

“Mas é importante que os pais e encarregados de educação estejam consciencializados”, vincou Muhimua, para quem o espírito de preservar o uso dos instrumentos musicais deve ser cultivado muito cedo. A nossa interlocutora, que já passou pela Escola Nacional de Música na capital do país, afirmou que a iniciativa visa, essencialmente, cortar o mal pela raiz, porque muitos artistas caem de pára-quedas no mundo de música.

Neste momento, estão a ser feitos contactos com os músicos mais experientes e artistas tradicionais para, além de criar? interesses no uso dos instrumentos musicais, ajudarem a promover a cultura local.

“A música macua é a nossa biblioteca. Iremos usá-la como nossa base e desenvolver o resto das actividades”, disse. Para Winnie Muhimua, a falta de domínio no uso dos instrumentos faz com que muitos artistas passem vergonha nos palcos, porque o sistema play-back cria dificuldades nas suas actuações, além de que a voz fica, totalmente, distorcida.

Pirataria: A culpa é dos artistas

Sobre a problemática da pirataria, situação que cresce no seio da classe dos músicos, a mentora da Escola de Música foi cautelosa ao afirmar que, além da falta de vontade política de acabar com o problema, os próprios artistas tornam-se culpados pelo facto de não se profissionalizarem.

Segundo a nossa entrevistada, não é intenção dos músicos tornarem-se ricos pelos seus feitos, mas é doloroso ver um trabalho artístico a ser comercializado como se de banana se tratasse. Na verdade, segundo Winnie Muhimua, os artistas pecam pelo facto de estarem preocupados em cantar e espalhar as suas melodias alegadamente para serem conhecidos pelo público.

“Estamos perante uma situação em que alguém decide cantar e, num piscar de olhos, quer ser chamado artista sem o mínimo de profissionalismo. Há mais interesse pela fama e não pela dignidade”, afirmou.

Alguns professores da Escola de Música de Nampula entendem que a falta de formação profissional é a maior lacuna no seio dos artistas, porque deviam ter em conta, antes de tudo, o sacrifício que fizeram para materializarem o sonho de serem músicos e as respectivas despesas necessárias na preparação, publicidade e no lançamento da imagem do artista.

Num outro desenvolvimento, Muhimua atira a culpa para as entidades responsáveis pelo sector da cultura no país que devem garantir a fiscalização para desencorajarem a prática de venda de discos contrafeitos. Há vezes em que antes de se proceder ao lançamento oficial de uma determinada música, o público já está a usufruir da mesma.

Escola de “loucos”

Além de todas as dificuldades enfrentadas, relacionadas com os aspectos burocráticos a nível das instituições responsáveis pela legalização de projectos culturais, os mentores da Escola de Música de Nampula afirmam ter sido vítimas de críticas desencorajadoras por parte de pessoas próximas.

“Algumas pessoas, a dado momento, chamaram-nos loucos pelo facto de criarmos um projecto que visa, essencialmente, promover a aprendizagem das técnicas de uso de instrumentos musicais”, disse. Na verdade, segundo os mentores da escola, houve atrevimento. Mas valeu a pena, porque, apesar de todas as barreiras, a iniciativa está a ser materializada, pois as limitações encaradas na altura da oficialização foram já ultrapassadas.

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Uma resposta

  1. Com certeza não há palavras que possam descrever a verdadeira essência da profundidade que foi detalhada neste aviso prévio, eu acho que falta isso e muito mais para investir na mudança para a melhoria da música Moçambicana.

    Eu, Fernando Abílio Manuel com o nome artístico dos sonhos Weekend Manuel não sei o que fazer pra dar início a minha carreira na música.

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