No refrão de Rui Veloso está tudo sintetizado: já não há cartas de amor, como havia antigamente. E não será o Dia de São Valentim que vai trazer de volta esses sentimentos. O namoro é uma prospecção, uma interiorização, um terreno desconhecido onde se pode achar o verdadeiro amor, ou o ódio na sua plenitude. O namoro pode ser uma espécie de antecâmara do amor.
Hoje em dia tudo isso está depreciado. Falar de namoro é falar – grosso modo – de uma brincadeira com vista a encontrar o prazer caprichoso, sem qualquer intenção séria, pois são poucos aqueles que namoram, nos dias que correm, com um fim construtivo, embora se saiba que o amor não vai aparecer logo no primeiro contacto. Ele constrói-se. O amor também é um trabalho, como dia diria Otis Redding: love is a job.
Avenida do namoro
Já passámos algumas vezes pela Avenida Frederich Engels, também pela Marginal, na cidade de Maputo, particularmente nos fins de tarde, onde pudemos apreciar casais abraçando-se e beijando-se, alguns deles à beira do atentado ao pudor. Olhamos para aquelas cenas e o que nos sugere é que se trata de casais de namorados, que podem estar a relacionar-se a sério ou a brincar, como se tem brincado muito por aí.
O Bispo Dinis Sengulane, no ano passado, por estas alturas, já chamava a atenção dos jovens para o significado do namoro, o valor que se deve dar a este primeiro passo de um relacionamento que se pretenderá sério e construtivo. Muitos desses jovens nem querem saber: podem namorar (tanto rapazes como raparigas), mais do que um parceiro ao mesmo tempo, sem qualquer responsabilidade. Os pais também entram no “jogo”. Não se escandalizam se uma filha ou se um filho, lhes apresenta um(a) namorado(a) hoje e, passando algum tempo, trazem outro(a) amanhã. Mesmo que não lhes seja apresentado o namorado(a), que será encontrado(a) na sala de visitas, aos beijos, pelos pais, tudo continuará na mesma no seio da família.
Logo nos primeiros passos, vamos perceber que esses namoros já são uma “sinagoga”. Os namoros de hoje transportam muitos interesses, particularmente materiais, o que, a priori, lhes vai esvaziar automaticamente de qualquer valor e futuro. Os namoros de hoje são também orientados fortemente pelo sexo, que se começa a praticar muito cedo, tornando-se – os principiantes – em ávidos animais que quererão sempre novas experiências, com novos parceiros.
Namorar, hoje por hoje, é o acto mais do que banal. Basta ter dinheiro para o fazer e, se você não tiver esta mola de impulsão, encontrará, com certeza, muita dificuldade em ter uma parceira. Estamos numa era em que o dinheiro toma cada vez mais a dianteira dos sentimentos. Numa “dinastia” em que o interesse pelo casamento está a esboroar-se.
Em conversa com um grupo de jovens, bonitas, bem trajadas, comendo hambúrgueres e sorvetes numa pastelaria, fomos “esfregados” com uma frase lapidar, dita quase em coro: casar para quê? O que nós queremos é ter um “pito” para curtir, para além de que vocês os homens não prestam.
Essas raparigas falavam connosco sem respeitarem as nossas idades, – somos da faixa etária dos seus progenitores – mastigando os hambúrgueres e os sorvetes nas nossas “caras” com o maior à vontade. Pra além disso tudo, ao lado delas estava um grupo de rapazes que as beijavam explicitamente.
De acordo com Jubileu Massangai, reformado bancário e trabalhando por conta própria, agora já não há namoro. “Namorar é um período de estudo entre os futuros cônjugues. No nosso tempo você nem tocava na miúda antes de estar tudo “ok”. Namorar, naquele tempo, era algo bastante sério, agora não, até uma criança de dez anos já sabe beijar; o que é isso? Namora-se à calada da noite, onde tudo acaba no sexo, antes de tudo começar”.
Jardim dos namorados
De Jardim dos Namorados tem muito pouco. Fica localizado numa zona privilegiada da cidade de Maputo, com vista para o oceano Índico. É um lugar bem cuidado, aprazível, atractivo, amoroso, muito verde, repousante. Já se tornou um espaço com grande atractivo para os dias de núpcias. E as núpcias serão o ponto mais alto do namoro. Os cafés que estão ali instalados cortam um pouco a liberdade daquilo que seria verdadeiramente um namoro, em que os pares se abraçariam como dois pombinhos, nos bancos dos jardins, com as cabecinhas encostadas umas às outras. O Jardim dos Namorados ganhou outra vocação, acolhendo até homens de negócios, que combinam para ali as suas negociações, com whisky e mais.
Não deixa de ser, mesmo assim, um local eleito, que ganhará pelo seu tratamento, não tendo perdido, completamente, a sua orientação inicial.
Dia de São Valentim
A história do Dia de São Valentim remonta a um obscuro dia de jejum já tido em homenagem a São Valentim. A associação com o amor romântico chega depois do final da Idade Média, durante o qual o conceito de amor romântico foi formulado.
O dia é hoje muito associado à troca mútua de recados de amor em forma de objectos simbólicos. Símbolos modernos incluem a silhueta de um coração e a figura de um Cupido com asas. Iniciada no século XIX, a prática de recados manuscritos deu lugar à troca de cartões de felicitação produzidos em massa. Estima-se que, mundo afora, aproximadamente um bilião de cartões com mensagens românticas são mandados a cada ano, tornando esse dia um dos mais lucrativos do ano..