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Nacivare: onde o desenvolvimento é ainda um sonho

A aproximadamente 15 quilómetros da vila sede do distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado, há uma localidade denominada Nacivare, onde vivem pouco mais de 9.800 habitantes que se queixam da falta de um pouco de tudo, desde os hospitais e escolas secundárias, passar pela água potável e energia elétrica, até desembocar no desemprego. Os residentes daquela parcela do vasto Moçambique consideram que o progresso está longe devido ao facto de os problemas de que se queixam não têm uma solução à vista. A pobreza é visível a olho nu… a vida está um martírio…

Celina Sicala é uma jovem de 34 anos de idade, mãe de quatro filhos. Uma das suas preocupações é a falta do precioso líquido naquele povoado e para contornar este problema ela recorre a pe- quenos rios cuja água é insalubre. Esta é mesma que se usa para irrigar as hortícolas por parte de pequenos camponeses e é consumida sem se ob- servar nenhuma medida de tratamento de modo a evitar doenças. Diz-se que a água é incolor mas Celina contou que a água que usa é esverdeada.

Ela reclama da falta de um hospital de referência, no qual os habitantes podem ser atendidos sem precisarem de se deslocar ao Hospital Distrital de Chiúre, que dista a 16 quilómetros de Nacivare. Celina disse que a viagem “custa-nos 100 meticais para lá chegarmos”.

Relativamente à educação, aquela cidadã quei- xou-se do facto de supostamente os alunos da 5a classe não saberem ler nem escrever e falam a língua portuguesa com bastantes dificuldades; por isso, ela gostaria que o Ministério da Educa- ção (MINED) apurasse o que se passa.

O seu desejo é também ver uma escola secundária erguida em Nacivare porque as crianças que con- cluem o ensino primário percorrem 32 quilóme- tros para darem continuidade aos estudos. Esta situação tem originado o abandono da instrução por causa da distância.

Joana Tueia, de 32 anos de idade, tem mais de cin- co filhos, dos quais um nasceu na rua, a caminho do hospital, devido à distância que separa a sua comunidade e a referida unidade sanitária.

O acesso a outros serviços básicos é igualmente problemático em virtude das razões anteriormen- te avançadas pela Celina. “Diz-se que sem água não há vida mas as pessoas desta localidade não morrem por falta de água mas, sim, por falta de cuidados médicos”.

Ela narrou que no local onde a população busca água para o consumo também lava-se a roupa e toma-se banho, pese embora seja frequentado por animais.

Joana disse que algumas pessoas pade- cem de cólera e diarreia, por exemplo, por causa desta situação. Maria Mussepe, cuja idade não nos revelou, é ou- tra residente de Nacivare.

Segundo ela, naquele povoado a gravidez precoce tende a ser um pro- blema comum. “É normal uma criança de 14 anos de idade ter dois a três filhos, o que acelera a velhice e au- menta a pobreza na região. Ter filhos é bom mas deve-se ter meios de subsistência para o efeito”.

Virgílio Paulo Tepa, líder da zona, disse que o Governo deve desenvolver acções com vista a reduzir a pobreza que flagela os moradores de Nacivare, onde só existem três torneiras para o abastecimento de água potável. Obviamente, não cobre as necessidades dos mais de 9.800 habitantes.

“A nossa localidade tem registado muitos casos de pessoas que vivem com o VIH/SIDA. Só este ano, cinco indivíduos perderam a vida por não terem acesso a medicamentos devido a longas distância entre o hospital e a povoação”, afirmou Tepa, para quem “temos também casos de malária que assola em particular as crianças e mulheres e tuberculose”.

De acordo com o nosso entrevistado, a população de Nacivare dificilmente tem acesso à ambulânciia do Hospital Distrital de Chiúre, mesmo quando se trata de alguma enfermidade grave porque o veículo apresenta sistematicamente problemas mecânicos. O banco de socorros não tem capaci- dade para à demanda dos pacientes.

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