Não foi ainda garantido o bilhete para o CAN, mas quase. Quando o público na Machava sentia cada vez mais ténue o fio que prende as esperanças de uma presença na África do Sul. O golo de Tico-Tico, a nove minutos do fim, voltou a ligar a máquina, num jogo que mais parecia uma montanha-russa, tantas e tão pronunciadas as subidas e descidas das duas equipas.
O jogo na Machava foi uma espécie de condensado de todos os problemas sentidos pela equipa nesta fase de qualificação: mistura inacreditável de oportunidades perdidas, instabilidade emocional, erros próprios e alheios, oscilações de identidade e falta de sorte. Tudo isto a embrulhar um conjunto de talentos que em determinados momentos mostra ser brilhante, mas ao qual falta o traço de identidade e liderança indispensável às grandes equipas.
A primeira parte confirmou a validade do losango como figurino escolhido por Mart: boa posse e circulação de bola, domínio acentuado e excelente mobilidade de Dominguez e Genito na frente, a permitir a criação de um número apreciável de oportunidades, invalidadas pela segurança de Willis Ochieng e pela falta de pontaria. Koman Coulibaly, com um critério largo, ajudava a criar um jogo fluido e rápido, mas o árbitro maliano erraria claramente ao ver um fora de jogo que não permitiu os Mambas chegarem ao intervalo a vencerem.
A terminar uma primeira parte bem conseguida, por pouco viamos a reedição do filme de Nairobi: o Quénia, dominado, quase marcava no primeiro remate à baliza de Kampango, depois de MacDonald Marigo ganhar posição a Mano e desferir um remate colocado que Kampango desviou para canto. Josimar, no banco, era o trunfo óbvio para jogar no intervalo, mas o sacrifício de Genito e a colocação de Miro na ala esquerda, com Dominguez a descair para a direita, tiraram ao jogo dos Mambas aquilo que ele tinha tido de melhor. E o Quénia, moralizado, passou a ter mais bola e melhores oportunidades.
Moçambique perdia coesão e via a qualificação fugir-lhe pelos dedos, mais do que nunca num lance incrível em que Dário, na pequena área, não conseguiu dominar um cruzamento de Paíto. A entrada de Hagy para a vaga de Miro voltou a acender a chama, numa altura em que os quenianos eram sistematicamente vaiados. Não era bonito de ver, e era com pouca lucidez e todo o coração que Moçambique partia para o assalto final.
Os jogadores davam tudo, mas cada vez com menos controlo. E foi em força, na sequência de um alívio de Mexer, que a estrelinha de Tico-Tico evitou o empate, já depois de Dário ter desperdiçado mais duas oportunidades claras. Tudo somado, apesar das novidades em forma de losango e com rosto de Genito, a Selecção voltou a ser mais do mesmo. Ainda não estamos no CAN, mas esse sonho nunca esteve tão próximo como agora.