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Muquilina Soares: Uma lutadora que já conquistou o mundo

Muquilina Soares: Uma lutadora que já conquistou o mundo

O @Verdade apresenta ao leitor, nesta edição, uma parte da história de vida da selecionadora nacional e campeã mundial de Karate, no estilo Kimura Shikokai, Muquilina Soares. Na cidade sul-africana de Sun City, no passado mês de Julho, a karateca moçambicana tornou-se a número um mundial nesta modalidade, no que diz respeito à prova de combate, também conhecida por kumite.

A delegação moçambicana que se fez aos “Mundiais” de karate disputados na cidade sul-africana de Sun City era composta por cerca de trinta e uma pessoas, entres dirigentes, atletas e treinadores, mas Muquilina foi a única do combinado nacional que conseguiu subir ao lugar mais alto do pódio. A atleta nasceu há 32 anos na capital do país. Desde cedo teve uma paixão pelo karate, porque esta modalidade era tradicional na família. Confessa que teve uma puerícia linda e risonha, em que brincava até ao pôr-do-sol.

“Como toda a criança do mundo, tive uma bela infância, ajudava a minha mãe nos deveres de casa e sempre que eu não estivesse a estudar optava por ler um livro ou treinar com os meus irmãos”. Ela entrou no mundo das artes marciais com seis anos de idade, influenciada pelos irmãos que já andavam há muito tempo na modalidade.

Muquilina declara que nos primeiros dias era obrigada, porque não era aquilo que ela queria, mas com o tempo acabou por se apaixonar pelo karate, o que fez dela uma das mais destacadas karatecas nos escalões de formação. Na adolescência foi obrigada a deixar o karate para apostar mais nos estudos e afiança que esta foi a fase mais delicada da sua carreira, pois o karate já fazia parte da sua vida, mas mesmo assim arranjava tempo nos fins-de-semana para treinar. Porém, nesta fase não competia.

Decorridos quatro anos, Muquilina regressou à actividade e tudo fez para recuperar o tempo perdido. No regresso, a karateca da Academia Carlos Dias, que se inspira no seu irmão e instrutor, Carlos Sousa Dias, tri – campeão mundial de karate e em Maria de Lurdes Mutola, que considera a melhor atleta moçambicana de todos os tempos, conseguiu a graduação de cinturão negro, tornando-se na primeira karateca do sexo feminino a conseguir este feito no país.

“Como forma de me controlarem para não me desviar para os maus caminhos, os meus irmãos obrigaram- me a treinar as artes marciais. Na adolescência, se eu não estivesse a estudar estava na academia a treinar e isso foi fundamental para a minha progressão como atleta. Agradeço aos meus companheiros por tudo que por mim fizeram, especialmente ao meu instrutor, Carlos Dias, que desde o primeiro dia me tem apoiado incondicionalmente”.

“A medalha do ouro é fruto do trabalho colectivo”

Conquistar uma medalha de ouro num campeonato mundial, seja em que modalidade for, não é para qualquer um. Muquilina Soares conseguiu essa façanha e mostrou-se feliz pela medalha conquistada. Apesar de ser um título individual, a selecionadora nacional afiança que a medalha por ela conquistada é fruto do trabalho colectivo.

“A delegação moçambicana era composta por 31 elementos, dois quais 26 atletas e os restantes dirigentes e treinadores. Fui a única a conseguir uma medalha de ouro, mas este feito, apesar de ser pessoal, é de todo o grupo que, ao longo da prova, me fez acreditar que era possível ganhar, e foi isso que aconteceu. Este título pertence a toda a delegação que esteve neste Campeonato do Mundo” Quando questionada sobre se esperava ocupar a primeira posição na prova de combate, kumite, Muquilina Soares disse.

“Todo o atleta quando vai a um campeonato mundial tem a esperança de conquistar uma medalha. Eu tinha esperança na prova de exibição de técnicas de combate, kata, que foi a especialidade que treinei mais para esta competição, mas não fui feliz nas eliminatórias. Devido à ansiedade, acabei por cometer alguns erros e fui eliminada. E o kumite era a única esperança de sair do “Mundial” com uma medalha. Felizmente, graças ao apoio dos meus colegas, consegui obter a medalha de ouro. Dizer que não esperava ganhar a medalha de ouro, pois a esperança que tinha era de ocupar uma das posições do pódio”.

“Um sonho tornado realidade”

De acordo com Muquilina Soares, ser campeã do mundo não é tarefa fácil, mas preservada aos melhores, aqueles que trabalham arduamente para alcançarem objectivos pessoais assim como colectivos. Para a karateca da Academia Carlos Dias e seleccionadora nacional, ganhar a medalha de ouro num “Mundial” foi a concretização de um sonho antigo.

“Ser campeã do mundo era um sonho que eu perseguia desde a adolescência. Felizmente, neste “Mundial” consegui esta proeza. Transformei o sonho em realidade, porque nesta competição tinha dois papéis, a de karateca e a de seleccionadora. Tinha que dar o melhor de mim para servir de exemplo aos meus atletas. Fui a única do conjunto a conquistar o ouro, mas trocaria esta medalha por um título colectivo”.

“Viajámos para o “Mundial” à nossa custa”

Em Moçambique existem modalidades que, apesar de continuarem “enteadas” dos nossos dirigentes desportivos, continuam a levantar a bandeira nacional bem alto nas grandes provas mundiais. O karate é uma dessas modalidades. A comitiva nacional que participou no “Mundial” realizado na cidade sul-africana de Sun City viajou a expensas próprias, ou seja, cada atleta custeou a sua passagem para aquele certame.

Para esta prova o combinado nacional queria levar o maior número de atletas em relação a outras que se realizam fora do continente africano, mas por falta de patrocinadores esta aspiração tornou-se irrealizável. “Neste “Mundial” tínhamos o objectivo de levar o maior número de atletas em relação ao que se realizou na Estados Unidos de América, porque se realizava num país da zona Austral, mas por falta de fundos esta ideia foi “sol de pouca de dura”.

Tentámos pedir ajudar aos nossos parceiros, mas não conseguimos. Os encarregados de educação dos atletas selecionados tiveram que custear a viagem para Sun City, e por via disso deixámos alguns atletas que não tinham meios para se deslocarem àquela cidade”.

O título mais marcante

Muquilina Soares é uma das mais consagradas karatecas de Moçambique, e conquistou mais de 100 medalhas divididas em provas nacionais e internacionais, mais considera que a mais marcante foi a de prata nos X Jogos Africanos realizados em Maputo, em 2011.

“Conquistei a medalha de ouro neste “Mundial”, mas para mim o título mais marcante foi a medalha de prata nos X Jogos Africanos realizados em Moçambique. É sonho de qualquer atleta conquistar uma medalha numa competição que se realiza no seu próprio país e, com o apoio do público e especialmente da sua família, por isso, apesar de não termos conseguido chegar ao primeiro lugar, que era o nosso objectivo, esta medalha foi muito marcante para mim”

“Moçambique é uma potência mundial de karate”

A campeã do mundo não tem dúvidas de que Moçambique já provou que é uma potência mundial na modalidade de karate, por ter karatecas que já conquistaram mais de três medalhas de ouro em campeonatos mundiais. “Apesar do pouco reconhecimento que a modalidade tem dentro de portas, continua a representar o país condignamente nas grandes provas mundiais; por isso, digo, somos uma potência mundial nesta modalidade”

Fora do tatâmi Fora do tatâmi

Muquilina Soares é uma mulher comum. É casada e mãe de dois filhos. É profissional de comunicação e imagem numa empresa sediada na capital do país. Nos tempos livres adora ler um livro e assistir à televisão, sobretudo cuidar dos seus dois filhos que considera o tesouro da sua vida. É apaixonada pelo jornalismo mas receia ingressar nesta profissão, por considerar que a mesma não garante uma vida condigna.

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