Com a relva sintética a colocar “fora-de-jogo” dois recintos, que argumentos nos restam?
O “néon” estará no próximo ano virado para o Mundial da África do Sul e só se estivermos muito desatentos é que não tiraremos proveito desse grande acontecimento, de forma que a nossa economia dê um salto em frente. Blatter, o presidente da FIFA, no ano passado em visita à RAS, afirmou que não sentiu o clamor dos batuques de África, o pulsar intenso de um continente vibrante, o “cheiro” do Mundial! Entre nós, alguns passos tímidos estão a ser dados. Institucionalmente, com a criação do Gabinete 2010. As gentes e os agentes do desporto deixam tudo para o fim e serão, como vem sendo hábito, apanhados em contra-pé. Será que não vamos aproveitar esta ímpar ocasião que não se repetirá, nem no próximo centenário?
A bola, redondinha e rechonchudinha, já vêm exacerbando paixões por todo o Mundo nas fases eliminatórias. À medida que a “peneira” vai sendo feita, de forma a encontrarem-se os finalistas que irão disputar a Copa do Mundo, mais apetecida vai ficando a competição planetária.
Da boca para fora, imaginamos nós, moçambicanos, que das selecções apuradas, algumas irão contactar o nosso país e, com um pouco de solidariedade à mistura, requisitar os nossos serviços para estágios e jogos.
Mas as coisas serão de forma tão simplista?
É que a ser assim, a competição, ao mais alto nível, estaria reduzida a uns belos passeios pelo Bilene, uns camarões na Costa do Sol e treinos na Academia Mário Esteves Coluna. O que está longe de ser real.
As vitórias preparam-se
Aquilo que para nós, de algo que era muito grato já não passa de mero “slogan”, é um assunto de Estado para quem vive e leva ao extremo a disputa da modalidade mais popular do planeta: o futebol. No desporto de alto rendimento, tudo se programa ao pormenor, as regras e as metas estão bem definidas. E quando olhamos para as probabilidades de a nossa capital acolher, Eventualment,e uma ou mais selecções para estágio, não imaginamos o “jogo de cintura” que elas teriam de fazer, “só para nos agradar”.Desde logo, os novos relvados da Machava e Costa do Sol, ficam absolutamente “fora-de-jogo”, pelo facto de o piso ser sintético e, como ta,l susceptível de criar lesões aos jogadores.A opção relva sintética, que coloca fora das rotas internacionais dois dos melhores recintos do país, terá sido um “presente envenenado”, cujos inconvenientes já começamos a sentir. Mais sinais nos vão chegando. Inclusive através da resistência por parte dos clubes em ceder os nossos internacionais que actuam fora de portas.
Dos restantes recintos – Maxaquene, Mahotas, Desportivo, a semi-abandonada, Academia Mário Coluna e a Olimpáfrica de que poucos se lembram – nem sequer “reza a história”. Uma rápida visita deixa a nu as suas fragilidades.Resta o novo Estádio Nacional, que está a ser edificado no Zimpeto. Tudo indica que reunirá condições para jogos e treinos. Mas está-se a falar do campo, como recinto desportivo. E o resto?Acessibilidades, condições de segurança, sossego, e outros factores…Estarão de acordo com as exigências àquele nível?
Praias nâo são tudo
A bola, primeiramente, é disputada pelas grandes marcas, que pretendem conferir inovações nos padrões, nas cores, nas aerodinâmicas. Depois, entram em cena outros intervenientes, directos e indirectos. A aposta nos sul-africanos, impossível sob o regime do “apartheid”, apresenta-se como um triunfo do continente, em primeiro lugar, e da África Sub-sahariana, em seguida. Há que tirar rendimentos máximos da boa vizinhança com a República da África do Sul. Em todos os capítulos.
E porquê? A “montra” do Mundo em 2010, será a África Austral. Teremos uma rara oportunidade de “expor” os nossos produtos.
E para a “montra”, só deve ir o que temos de bom. Há que controlar tudo o que há de nocivo, das drogas à criminalidade, do suborno à falta de cortesia. Para uma moldura de gente que paga, mas exige. Da segurança à tranquilidade. Da culinária, ao artesanato. Da boa música à hospitalidade..As condições naturais, felizmente, são um atractivo com que a natureza nos brindou e que nos confere vantagens em relação à maioria dos nossos vizinhos, pela longa costa marítima que possuímos. São praias das melhores do Mundo.
Mas isso, sendo importante, não é tudo. O Turismo, uma das indústrias que mais rendimento gera, não pode e nem deve ficar ao sabor do improviso. A todos os níveis. Para o início da maior prova planetária, já se contam dias. A “invasão” à nossa zona será algo nunca visto.
Por cá, ainda não soaram as batucadas que anunciam que vamos transformar o Mundial numa festa também nossa. Mas nunca é tarde para acertarmos o passo com uma competição que virá a ser, para além de um grande prazer, uma extraordinária fonte de rendimento.
Que a bola nos traga finalistas com afinidades
Mais do que ver bom futebol, o adepto que se desloca com a sua equipa – neste caso selecção – está mais preocupado com os golos que conferem vitórias, do que com a forma como eles são obtidos. O fanatismo comanda as claques. Os excursionistas gastam rios de dinheiro em busca da satisfação e não se sentem diminuídos se os pontos forem conquistados com a ajuda do árbitro, da “mão de Deus”, ou precedidos de faltas.
Por isso, quando a “sua” selecção é eliminada, em regra nada mais o prende à competição. Nem mesmo o bilhete comprado. Daí que haja um ponto assente nos Mundiais, de que esta prova sem o Brasil, é como comida sem sal. São os “canarinhos” que dão cor, vida, entusiasmo e bons pormenores técnicos. Enfim, são eles que dentro e fora dos relvados, marcam as diferenças pela positiva. É claro que os finalistas serão 32, mas não podem ganhar todos. Só dois irão à final. Assim sendo e à medida que as equipas forem ficando pelo caminho, irão aportar às estâncias de turismo, às praias, às reservas de caça e à boa culinária, para ajudar a estabilizar os corações que haviam atingido o máximo, no que diz respeito à adrenalina. Portugal e Brasil, pelas seculares ligações, pela língua comum e muito mais, terão certamente muitos dos excursionistas a reservarem alguns dias para Moçambique, quer cheguem à final ou não. Mas outros certamente não perderão a oportunidade de nos eleger. São eles: Espanha, Argentina, Inglaterra, EUA, França e Rússia. Mas tudo depende da “redondinha”. Seria bom que entre os seus caprichos, ela nos brindasse com a qualificação de selecções que representam países com afinidades connosco.